sexta-feira, julho 18, 2008

Os emigrantes sanzonais da caça ao voto

Resposta a isto.

O que acho, sem ironias, é que quem sai desvincula-se. Por vezes até cria raízes noutro sítio e vota ali. Aqueles que vão aos consulados registar a sua nova residência fazem-no apenas por exigência das leis locais.

Não é só a baixa taxa de recenseamento e participação que demonstra o desinteresse desse 'eleitorado'. Ele está à vista quando nos grandes pólos da emigração portuguesa, vêem-se jornais diários polacos, chineses, árabes, et c., à venda mas nunca portugueses.

(da mesma maneira, não me parece que putativos irlandeses americanos, ainda que sejam mil, estejam em pulgas para votar na Irlanda; da mesma maneira, não me parece que em Nova Iorque se leia o Irish Times)

A própria natureza do sistema eleitoral ajuda está em perfeito concurso para o alheamento e torna inúteis os círculos extra-nacionais existentes: esses míseros quatro deputados que refere perdem, tal como todos, o vínculo para com o seu eleitorado mal são eleitos. Se, dentro deste sistema, o sentimento de representação já tem dificuldade em medrar entre os residentes, muito mais terá quando nada do quotidiano de um emigrante pode ser afectado pelo voto disciplinado e inimputável de parlamentares anónimos e longínquos.

Julgo sim que, à falta interesse da "diáspora" na política nacional, é a política nacional que o procura. O que mostra que esse tipo de iniciativa pretende apenas beneficiar o representante, não o representado. “Deixem-se estar onde nada fazemos por vós”, parece dizerem, “mas agora podereis eleger-nos por cá”.

Com tal importância par a opinião pública, V. ainda se espanta com a desfaçatez com que se mudam de regras ao sabor das conveniências partidárias?
Acharia possível as regras eleitorais, o número de deputados por círculo, et c., vir a serem manipulados fora o eleitorado residente aquele afectado?

Em suma, no papel parece bonito mas na prática é redundante e demagógico. Tão redundante e demagógico quanto o voto duplo para as autarquias e parlamento europeu em vigor e de uma utilidade limitada à contabilidade do rotativismo.

Quanto à qualificação em portugueses de segunda ou primeira, é uma questão falsa, já se viu, e só ofenderá o tolo; os emigrantes vivem noutras economias e culturas e, sendo dessas que têm conhecimento e usufruto, é nelas que têm interesse em participar.

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