sexta-feira, outubro 29, 2010

El Mundial del 2018 o 2022

Na imprensa internacional, a candidatura de Espanha ao mundial de futebol é suspeita de beneficiar de corrupção de federações de futebol terceiras.

Na imprensa nacional, ninguém opina seriamente sobre o assunto. Nem sequer se ouve uma putativa declaração de distanciamento por parte dos seriíssimos dirigentes da FPF.

Não se pode proibi-los?

Não gosto de autedóres nem de murais.

São saloios no abuso de cores e na ortografia, ofendem o espaço público pelo tamanho e a vista pela imposição, tapam arquitetura e paisagem.

Amplificam exponencialmente o que é tribal e anti-democrático na publicidade, pois são inevitáveis e permanentes. Obrigam-nos a vê-los, quer queiramos quer não.
Ainda que nada do anunciam nos diga respeito, conclamam-nos continuamente à ação, mandam-nos escolher pessoas, gritam partidos ou produtos sem apelo nem desculpa. Não há mudança de canal, estação de rádio ou autocolante em caixa de correio que nos safe.

Em resumo, são uma forma de publicidade abusiva, suja, feia e autoritária.
Não se pode proibi-los? A civilização agradece.

Perguntas estúpidas, respostas igualmente inteligentes

E se uma das condições para a China nos comprar a dívida fosse a restauração da pena de morte? Quantos diriam que não?

quarta-feira, outubro 27, 2010

Compro o que é nosso ®

A AEP tem uma campanha chamada "Compro o que é nosso" para promover a escolha de produtos nacionais em detrimento de equivalentes estrangeiros.

Por si, é algo meritório. Se for bem sucedida, sempre ajuda a reduzir as importações. Lembremo-nos que a maior parcela da dívida nacional cabe aos particulares.
Só não percebo é por que uma ideia que é tão simples de aplicar é sempre processada com tanta complicação e despesa para ser posta em prática que acaba por ser completamente ineficaz.

Já temos sítio na internete. Já vi anúncios na televisão. Ainda não vi mas desconfio que, como é costume, há por aí entrevistas, panfletos couché para entupir as caixa de correio, autocolantes nos vidros dos cafés de esquina, etc.
Mas o pior é aquele logótipo horrível - mais um - ao qual julgam que nos habituaremos à força de spots publicitários e que, para se justificar e na melhor das hipóteses, virá a ser incluido nas embalagens ou estará à vista (?) nas prateleiras de supermercado.


Esta gente (seja governo ou indústria) já vai na enésima campanha do género desde o 25 de Abril e ainda não aprendeu que publicidade não é branding e que educar o público não é vender um sabonete.

Desde há muitos anos que outros países têm tido campanhas parecidas e são inacreditavelmente simples e eficazes. "Campanhas" é um termo que uso para estabelecer o paralelo pois não se tratam de campanhas esporádicas ("olá... estamos em crise, toca a armar uma campanha!") mas sim de visibilidade contínua e por prazos prolongados.

Principalmente, a forma de atingir a maior fatia demográfica possível sem necessidade de iniciativas e divulgações que só ajudam à confusão do público, é precisamente não criar logos inúteis mas sim usar elementos visuais que lhe são familiares e cujo sentido é óbvio (é a minha definição de logótipo...).
Isto é, o melhor logo para identificar produtos nacionais já existe e toda a gente o conhece sem precisar de nenhuma explicação.
Qual é ele? Deixo-vos uma pista (isto está tudo ligado, pás):



ADENDA: Já que estou a prestar serviços de consultoria gratuitos, que tal a AEP e demais obrigarem os distribudores a identificar a origem dos produtos brancos? Aquilo do "produzido na UE" não me diz nada e não ajuda muito à campanha.

Perspetiva de uma jovem tory sobre a intelectualidade nacional

Sentados a ver o telejornal, aparece o João César das Neves a falar não sei do quê.

-Quem é este agora?

-Este dá aulas na universidade católica e escreve crónicas num jornal. É conhecido por ser contra o aborto e o casamento gay.

-E deixam-no escrever num jornal?

sexta-feira, outubro 15, 2010

Siga para bingo

Com um abanar de cabeça dos patrões, a novela do sr. Coelho chegou ao fim.

quinta-feira, outubro 14, 2010

"A mina dos segredos"

É a minha proposta para um novo reality show.
Depois, claro, tapa-se o buraco e já está.

Há vinte anos atrás, a minha banda preferida eram os Interpol

quarta-feira, outubro 13, 2010

De novo, a serpente

Quase no mesmo dia, ficamos a saber de motins (teoricamente anti-gay) em Belgrado; violência fora e dentro de um estádio de futebol em Génova; e da subida assustadora da extrema-direita nas eleições autárquicas em Viena.

Se os primeiros casos demonstram a marginalização crescente dos ultra-nacionalistas sérvios - reduzidos de criminosos de guerra impunes a bandos de hooligans alimentados a álcool - o último parece vir a tornar-se no mais bizarro paradigma de integração deste tipo de animais numa sociedade estrangeira.

Sabe-se que o líder do FPÖ, Heinz-Christian Strache, que se diz católico, tem vindo a conquistar o voto jovem entre as comunidades de imigrantes ex-jugoslavos (27% vota no "Partido da Liberdade", um movimento criado para impedir a imigração de estrangeiros) e não é raro enriquecer a sua retórica anti-islâmica com missas ortodoxas e condenações à UE e NATO pelas posições destas organizações na Bósnia ou no Kosovo.
E se esta segunda geração que lhe dá ouvidos, nascida durante o longo fim da guerra nos Balcãs, já não pode sonhar com a Grande Sérvia, é igualmente acompanhada por descendentes de croatas no ódio à comunidade islâmica (turcos, búlgaros, paquistaneses, etc). O discurso abertamente racista de Strache - o qual, para outras audiências, responsabiliza qualquer estrangeiro pela criminalidade (??) na Áustria - cai-lhes como mel na sopa e, não menos paradoxalmente, acaba por serem estes eleitores sem qualquer "sangue vienense" quem facilita a ascensão da serpente a uma posição de poder.

Com mais de um centenário

É errado dizer-se que há países mais desenvolvidos que o nosso porque são monarquias. Na realidade, ocorre exatamente o oposto: estes países são monarquias porque são desenvolvidos.

segunda-feira, outubro 11, 2010

A sabedoria popular fascina-me

Ontem, o medo, a ignorância e o preconceito foram mais importantes para um terço dos eleitores que viver na melhor cidade do mundo*.



Se isto é possível onde não há crise, nem desemprego ou criminalidade, é possível em qualquer lado.

domingo, outubro 10, 2010

10-10-10

Enquanto não for dez de Outubro de dez mil e dez, não me chateiem com datices escatológicas.

sábado, outubro 09, 2010

Liu Xiaobo, Nobel da Paz, Tiananmen

Aqui há uns anos, à mesa de um jantar de má memória, a nossa anfitriã, uma médica chinesa casada, educada e trabalhada em Cambridge, insistia que a censura que o seu governo impunha à internete servia para proteger o bravo povo chinês da pornografia ocidental.
Entre o momento em que tive a brilhante ideia de discordar e aquele em que se trocavam insultos de "fascista", foi um piscar de olhos e a soiré acabou mesmo mais cedo do que o planeado. Quando dei por isso estava a ser expulso da casa.

Ontem, a Great Firewall of China esteve mais ativa que nunca. Qualquer referência ao Nobel e a Liu Xiaobo que aparecesse no éter era sumariamente apagada. A cortina de fumo estende-se aos telemóveis "inteligentes" e não só, com mensagens de texto não chegando ao seu destino e iPhones subitamente transformados em iPods ao teclar daquelas palavras-chave.

E tal como essa anfitriã do passado, prevê-se que a parcela da população chinesa que ainda tiver algum acesso ao anúncio do prémio reagirá com indignação longamente alimentada pela propaganda nacionalista de Pequim. Tudo o que contradiga a versão oficial de excelência moral nada mais é que uma tentiva de demonização do seu país por um ocidente invejoso do progresso da China.

P.S.: Pobres diplomatas noruegueses, mais uns que carregam a tarefa de explicar a uma autocracia que não têm nem querem ter qualquer poder sobre entidades civis e independentes como o comité Nobel.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Singularidades de um atraso de cem anos*

(ou "Ele há países onde ainda não chegou a ética republicana")




*título roubado ao Ricardo Schiappa do Esquerda Republicana

quarta-feira, outubro 06, 2010

terça-feira, outubro 05, 2010

Contas de merceeiria, pois então*




*Obrigado ao Miguel Carvalho, do Esquerda Republicana

De um coevo da revolução do 5 de Outubro de 1910

"De volta de dois meses de férias nas doces margens do lago Léman, cheguei a Lisboa na véspera da revolução.
Poucas horas depois de um breve tiroteio de barricada no alto da Avenida e de um lacónico bombardeamento proveniente de uma insubordinação de marinheiros a bordo de um navio de guerra, proclamava-se, perante Lisboa atónita e, imediatamente depois, perante a passividade do país inteiro, o triunfo dos revolucionários.
Este desenlace quase incruento é em sua aparente superficialidade o trágico desmoronamento instantâneo de todo um velho mundo. É o reviramento, com o de dentro para fora e com o debaixo para cima, de uma sociedade inteiramente desarticulada. É uma nação ferida de morte na continuidade da sua tradição e da sua história. Assim o afirmam os triunfadores, principiando expressivamente por arrancar do pavilhão que cobria a nacionalidade portuguesa a coroa real, mais da nação que de qualquer rei (...).

Pobres homens, mais dignos de piedade que de rancor, os que imaginam que é com um carapuço frígio, talhado à pressa em pano verde e vermelho, manchado no lodo de uma revolta num bairro de Lisboa, que mais dignamente se pode coroar a veneranda cabeça de uma pátria em que se geraram tantos grandes homens, a cuja memória imperecível, e não aos nossos mesquinhos feitos de hoje em dia, devemos ainda os últimos gestos de consideração a que podemos aspirar no mundo! Pobre gente! Pobre pátria!

Ao antigo reino, assim desfeito com o mesmo leviano descuido com que as meninas de Lisboa desmanchavam puzzles num jogo à moda do Inverno passado, sucedeu-se o regime de um Governo Provisório, ao qual, creio que unicamente por serem republicanos os indivíduos que o constituem, se chamou «da República».

A indiscutível evidência é que em tal Governo não concorrem por enquanto nenhuma das cláusulas que assinalam um regime democrático. Falta-lhes como base essencial a anuência prévia da maioria das vontades; falta-lhes pacto fundamental; falta-lhes estatuto regulador da sua acção dirigente e falta-lhes sobretudo, nas suas formas de proselitismo, de apostolado e de conciliação patriótica, o íntimo sentimento de simpatia, de indulgência, de bondade, de liberdade, de fraternidade e de igualdade, que é a chave de todo o poder popular.
(...)

Não me parece, portanto - repito -, que o Governo Provisório de Lisboa seja mais autenticamente o prefácio de uma liberal República que o da mais despótica tirania.
(...)

Entre a monarquia constitucional parlamentar e república parlamentar constitucional não distingo diferença, nem considero que ela exista, a não ser historicamente, entre o princípio da eleição e o da hereditariedade, tendo eu por tão precários os acasos do voto como os do nascimento.
(...)"

Ramalho Ortigão, Janeiro de 1911
As Farpas II

O melhor e mais cáustico das Farpas vem depois, quando se descreve a desilusão e o descrédito da nova república, a pompa dos novos senhores ("o presidente novo em coche real, puxado a quatro por dezasseis relinchantes famílias aristocráticas"), a propaganda (Museu Republicano, um mausoléu de buiças, e a inacreditável apresentação ao ministro do Brasil da menina Deolinda Alves, de barrete e espada, como encarnação de récita da jovem república portuguesa), etc.

sábado, outubro 02, 2010