quarta-feira, março 31, 2010

Queria perdoar-lhe o Rei benigno, Movido das palavras que o magoam; Mas o pertinaz povo e seu destino (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam

Inês de Medeiros e o partido socialista consideraram que a primeira teria condições para ser deputada por Lisboa mesmo vivendo em Paris.

É de 'Homem', por ambas as partes. Por exemplo, eu não teria condições para ser deputado de todo, nem que vivesse no telhado de S.Bento. Mas também tenho a certeza que, caso o PS tivesse conhecimento da minha existência, e pelo menos neste aspeto, estaria de acordo comigo.

Dado que o parlamento ainda não é itinerante, a lei concede aos deputados da Nação - claramente e sem excepção - o direito a viagens pagas ao domicílio de cada um.
Nada do outro mundo quando até empresas privadas dão ajudas de custo em casos semelhantes. Não só é legal como é legítimo.

Mas depois de eleita a senhora, dá ideia que toda a gente se esqueceu disto e questiona-se a ética da própria e a do partido (está na moda).
Ora bem, se não queriam uma deputada por Lisboa a passar fins-de-semana em Paris, não votavam nela. Se não votaram por este motivo mas mesmo assim ela foi eleita, aguentem-se à bronca: chama-se a isso 'democracia'.

Desculpam-se dizendo que não é possível separar os deputados de acordo com as nossas objecções ou preferências, que se vota numa lista e não em pessoas.

Ah, pois. Isso sei eu. Neste sistema eleitoral apenas temos o poder de dar carta branca ao diretório de um partido.
Obviamente que quem aceita esta situação, nada mais tem a dizer. De acordo com toda a legalidade e legitimidade.

terça-feira, março 23, 2010

Risque o que não interessar

Na América do Sul/Norte, uma lei que obriga os cidadãos a comprar um seguro a companhias privadas é considerada capitalista/socialista.

Those were the days

Hollywood (e Maureen O'Sullivan) antes do Código de Hays...

Tarzan and his mate, 1934




... E depois...

Tarzan finds a son!, 1939




Nota de rodapé: Lembro-me de ter visto algures imagens da cena final de um filme extraordinário, ainda mudo, onde uma centena de figurantes foi sentada à mesa de um banquete sumptuoso. Depois de comidos e bebidos, receberam instruções da produção para se comportarem exatamente como se o fim do mundo fosse mesmo amanhã. O bacanal foi tamanho que alguns destes "atores" e "atrizes", por serem menores na altura, nem puderam assistir à exibição nos cinemas.

No ponto



No dia em que o comprei guardei-o numa mochila. À noite, no regresso a casa, o táxi teve um furo. Não sei porquê, tirámos as mochilas do banco de trás enquanto o taxista mudava o pneu. Chovia.
No dia seguinte reparámos que o livro estava encharcado. Demorou quase uma semana a secar no chão do escritório, à frente do ventilador. As páginas ficaram enrugadas e amareladas.
A princípio fiquei contrariado, mas agora parece que o aspecto do livro está mais de acordo com o seu conteúdo do que quando o tirei da prateleira na livraria.

Hoje termino-o. Por coincidência, no dia em que Akira Kurosawa faria 100 anos.

domingo, março 21, 2010

A intifada dos atrasados mentais

Parece que duas excursões de trogloditas desataram à pedrada uma à outra e aos carros de pessoas que passavam na autoestrada.

Com a polícia portuguesa é sempre a mesma coisa: quando era mesmo útil ter um ou dois de gatilho fácil por perto, ninguém se chega à frente.

sábado, março 20, 2010

Os trombones de piston...



...são outra coisa que também me faz feliz.

Estas coisas...



...fazem-me feliz.

sexta-feira, março 19, 2010

terça-feira, março 16, 2010

Morreu o pai do Geraldão

Glauco Villas Boas e seu filho foram mortos a tiro em sua casa, na passada sexta-feira.

Glauco, juntamente com os companheiros de subversão Arnaldo Angeli e Laerte Coutinho (com os quais colaborou na Chiclete com Banana), fazia parte de uma geração fantástica de cartunistas brasileiros 'nascida' após a queda da ditadura militar.



Apesar da distribuição errática em território português, li muito na adolescência o seu fanzine Geraldão, centrado no onanista do mesmo nome - trinta anos, cheio de vícios e que ainda vive com a mãe. Mas os meus preferidos sempre foram o casal Neuras, o melhor retrato em 'quadrinhos' do pior que as relações têm.
Fica uma tirinha para exemplo, dentro do que pude encontrar na net:



Este é daqueles que me vai deixar com saudades.

domingo, março 14, 2010

Deprimente

Desde 1998 que morreram 5.4 millhões de pessoas no Congo em resultado da guerra.

Eu quero é o "conflito israelo-árabe", os média, os americanistas de cátedra e os imbecis de lencinho à iasser arafate vão todos para a puta que os pariu.

Já a propósito de uma conversa matinal, lembrei-me de um outro pormenor não menos construtivo

O primeiro-ministro do Reino Unido tem um doutoramento em ciências políticas mas ninguém lhe chama "doutor".

sábado, março 13, 2010

Assim de repente, lembrei-me de um pormenor ainda mais edificante

Durante mais de vinte anos, a Alemanha tem conseguido manter a sua taxa de desemprego nos 10%.

sexta-feira, março 12, 2010

Assim de repente, lembrei-me de um pormenor edificante

Estas agências de rateio são as mesmas que davam AAA+ a todo o santo subprime que viam à frente.

Não gosto de bullying

Prefiro "judiar".

Já agora, meus grandes parolos, shotgun escreve-se "caçadeira".

quarta-feira, março 10, 2010

Desiderato



Noite ociosa. Está um frio desgraçado lá fora e há horas que só dão saltos olímpicos na Fernseher.

Ligo o skype. O R. não falha.
Desterrado em Bournemouth, onde partilha casa com outro académico, espera todas as noites pelo online da namorada nova, jornalista anglo-italiana, recém-divorciada, que conheceu durante um fim-de-semana em Londres. Aproveitando o atraso costumeiro, trocamos comentários sobre os current world affairs, como se ainda estivessemos no bar do college, fazendo-nos ouvir por outros, fígado fresco e presunção a condizer.

A conversa acaba por voltar às idiossincrasias da freelancer londrina e, naturalmente, a assuntos de saias em geral. Daqui, chegar ao flatmate seria inevitável. Acontece que está deveras impressionado com a capacidade assustadora que o mesmo tem para arrebanhar mulheres. "Cada noite dorme com outra, seja solteira, casada, ou assim-assim". Faz uma pequena pausa e acrescenta "a semana inteira!".

Dado que nos conhecemos há já alguns anos, não consegui evitar sentir uma pequena picada no ego. Tentei disfarçar (mal) o desconforto, tendo-me saído com qualquer coisa como "De facto, impressionante. Com certeza, pensar em variantes diárias à meia dúzia de rotinas que uma sedução implica deve obrigar a um esforço admirável..."
"Oh, percebeste mal", interrompeu, "o J. não se maça com conquistas. Nem tem absolutamente critério algum para escolher com quem se deita. O truque que revela, orgulhoso, quando insiste em dispensar conselhos, é terrivelmente simples: lower your standards".

Я очень рад, ведь я, наконец, возвращаюсь домой

terça-feira, março 09, 2010

Pedro encontra Inês



Mas afinal era Katyia.
Daqui.


Dedicado aos irredutíveis que nos leem e em comemoração do quarto aniversário deste blogue, há um mês atrás.

quinta-feira, março 04, 2010

Parabéns, Mrs. Gobley



Uns whiskeys, umas guinesses e um maço por dia. E 100 anos de vida.

quarta-feira, março 03, 2010

A mediocridade de Henrique Raposo

Escreve o inefável cronista no Expresso online (2 de Março):

I. Numa entrevista ao i, Christopher Hitchens mostra, mais uma vez, que não consegue ou não quer compreender a pulsão religiosa dos homens. Isto porque Hitchens vê na religião uma espécie de fascismo travestido (que bela palavra, dr. Sócrates). Hitchens é daquela família de esquerdistas que deixou de pensar quando o fascismo e o nacionalismo acabaram na Europa. Sem o velho "inimigo" contra quem lutar, este esquerdismo não consegue pensar. Donde nasce a necessidade de transformar a religião numa espécie de fascismo que engana as pessoas com promessas divinas.

Hitchens tem sessenta anos. Quando tinha vinte e cinco, idade de alguma razão, já os fascismos de paixão católica (Franco ou Salazar) tinham morrido. Pelas minhas contas, resta o comunismo.
Por miúdos, o escritor esquerdista é hoje ateísta porque não tem aquela ideologia ateísta contra a qual lutar.
Tudo lógico no pequeno mundo de Henrique Raposo.

II. Além desta ira irracional que lhe tolda o pensamento, Hitchens revela o pecado da preguiça. Quando compara, de forma leviana, a religião ao fascismo, este nosso esquerdista esquece o papel essencial da religião na luta contra os totalitarismos do século XX (quer fascismo, quer comunismo).

Com esta prova da treta, e presumindo que admite a distinção, Raposo esquece o papel essencial do comunismo na luta contra o fascismo e vice-versa... Decerto, estará toldado com alguma falta de racionalidade. Com ou sem ira.

Depois, a suposta "novidade" de Hitchens tem, na verdade, cerca de dois séculos. No século XIX, já havia gente a fazer carreira intelectual através de frases como "a religião envenena tudo". É por isso que mais vale ler os originais, que estão nas bibliotecas sobre o século XIX.

Depois, vem o argumento à café, o "isto já tem barbas" que geralmente serve para insinuar cultura ante a plebe deslumbrada. Sine ratio (eheh), não passa de escatologia.
Segundo Henrique Raposo, Nietzsche, Heidegger, ou Marx vendiam banha-da-cobra mas era da boa porque na altura era original. O próprio, por outro lado, presumo que se liberte do fardo das suas excelsas meditações por necessidade puramente higiénica.

III. Hitchens deve tudo a Deus. Sem Ele, Hitchens não existia intelectualmente. E é por causa deste ateísmo "cool" e preguiçoso que nunca digo que sou ateu. Sou agnóstico. E, como agnóstico, digo que é mais fácil falar com um crente do que com um ateu. Aliás, é impossível dialogar com um ateu. A intolerância, no início do século XXI, aqui na Europa, está do lado dos ateus.


Uma alteração biológica, algures no passado das espécies que nos antecederam, trouxe-nos vantagens determinantes para a nossa propagação. Ao mesmo tempo, tornou-nos, por defeito, em animais capazes de imaginar o sobrenatural. Discutir o que seja desistindo da razão, como faz um crente, é voltar a tempos de sobrevivência incerta e temor dos céus.
Tempos aqueles quando, pelas mesmas razões, pouca tolerância decerto haveria para com intelectuais que pusessem em causa a crença maioritária.

Pelo contrário, quando se trata de identificar uma causa de injustiça e violência - como o é tantas vezes a religião -, e combatê-la sem bombas ou inquisição, a tolerância mora em pouco mais lugares que aqui, na Europa do séc. XXI.

A prova está em um comentador tão medíocre como Henrique Raposo conseguir escrever para um jornal sem que este facto perturbante faça o mesmo descer a pique nas tiragens.