sexta-feira, abril 30, 2010

Os ricos que paguem a crise

Eduardo Pitta já faz aqui referência ao absurdo atual do crédito bonificado.
Para além dos resultados apontados, acrescento eu que nunca fez qualquer sentido o Estado subsidiar a construção civil para uso privado. Mais: ao estimular a ilusão da propriedade, a intervenção estatal apenas contribuiu para tolher ainda mais um mercado de aluguer que já era, por outros motivos, deficitário.

O outro grande beneficiário deste subsídio é a banca comercial. Exatamente a mesma que, independentemente de crises ou recessões, vê os seus lucros aumentarem anualmente.
Dirá alguém que o Estado acaba por recuperar o seu investimento/subsídio através da coleta sobre essas mais-valias bilionárias.
Por mais absurdo que pareça, nem por isso. Pois tendo em mãos uma atividade estável, lucrativa e sem risco de deslocalização, aquilo que o Estado faz é... aplicar um desconto de (pelo menos) 8% ao IRC da banca.
Para isto, seria preferível substituir os bancos por agiotas. Ao menos esses só vivem à custa de quem decide endividar-se.

Não é necessário ser economista para saber que um orçamento equilibra-se de duas maneiras: ou se reduz a despesa, ou se aumenta a receita. Mas se acreditarmos que a primeira responsabilidade de qualquer governo (e este até se diz socialista) é assegurar o bem-estar, e mesmo a sobrevivência, dos cidadãos, a escolha é mais do que legítima e racional, é óbvia: como diziam antigamente, os ricos que paguem a crise.

quinta-feira, abril 29, 2010

A Goldman Sachs é alvo de inquérito no senado americano

Muitas outras agências não destoariam no banco dos réus. Apesar disto, nenhuma vai à falência e há muito idiota que continua a dar-lhes ouvidos.
De facto, o "mercado" é mais infalível que o papa.

segunda-feira, abril 26, 2010

domingo, abril 25, 2010

Neste 25 de Abril de hoje...


... Que o espírito daquele de há 36 anos em Portugal atravesse o meio-continente que nos separa e venha a pairar sobre as eleições de hoje, reduzindo os nazis à insignificância que eles merecem ou expendindo-os o mais lesto possível para a Rosário que os pariu.

sábado, abril 24, 2010

Direito e Justiça

Muita gente lá anda entretida a discutir exames e pedagogia (!) por causa da falta de tato de um professor da Faculdade de Direito de Lisboa e da falta de tino dos seus meninos. Um escandalozinho da treta que só se justifica pelo mediatismo a que a causa implicada foi sujeita nos últimos anos.

Sendo público o seu activismo recente contra o casamento entre homossexuais, devia o professor saber que um exame acerca de casamentos seria sempre interpretado como tentativa de propaganda de causas perdidas. Por outro lado, aos estudantes de Direito tinha competido trazer a argumentação para dentro da sala de exame e deixar a sensibilidade à porta. Alguns deles preferiram fazer exatamente o contrário. Desculpa-os a falta de experiência (estão no primeiro ano) mas revela que há algo de profundamente errado na educação de quem acede ao nosso sistema de ensino superior.
Em suma, pode dizer-se que estiveram bem um para os outros.

Completamente alheio a esta palhaçada de diletantes, o tribunal da relação absolveu o pato-bravo de Braga pelo crime de tentativa de corrupção de José Sá Fernandes. Razão: o vereador, como tal, não teria poder para prestar o favorzinho solicitado.
Como diz o próprio, mais valia ter aceite os 250 000 euros.

Agora adivinhem com qual dos dois abusos de direitos constitucionais se choca mais a minha alminha hipersensível.

sexta-feira, abril 23, 2010

quinta-feira, abril 22, 2010

E agora uma coisa realmente importante

Em ano de centenário do golpe de estado em que nos encontramos, há quem se dedique a discutir sobre se o regime actual será a II ou a III república.

Dado que é uma questão de saber contar, a dúvida não surpreende. Ou não fora a planeada escolarização universal um dos maiores falhanços da I.

O bolo

Sondagens após o debate de Cameron, Clegg e Brown na semana passada:

Conservadores: 32%
Lib-Dem: 31%
Trabalhistas: 27%



As notícias de certa e determinada imprensa nesta semana:

"The Daily Telegraph reported that Mr Clegg received up to £250 a month from three businessmen in 2006, paid into his bank account. The Mail led on comments he made in 2002 about Anglo-German relations under the headline "Nick Clegg in Nazi Slur on Britain". He was also attacked in The Sun and the Daily Express.

(...) for the Conservatives, Greg Hands said: "Nick Clegg must produce the paperwork to clear up some serious questions about these donations."


"Up to £250 a month"!!

O debate é hoje à noite. Adivinhem quais vão ser os temas prementes que tanto conservadores como trabalhistas tentarão discutir ad nausea para um melhor esclarecimento dos eleitores.

terça-feira, abril 20, 2010

Eles andam aí

Lêem-se rapidamente os comentários na imprensa estrangeira e fica uma impressão de que, como (de momento) já não se pode atacar a Grécia, a mira não se vira para Portugal sem alguma morbidez.

Novas do Extremo-oriente

O oligarca Thaksin Shinawatra é o líder do movimento "vermelho" que ciclicamente ocupa as ruas de Banguecoque, exigindo o seu regresso ao poder.

Dono de cadeias de televisão e telecomunicações, entre outras (rede móvel em monopólio, a Shinawatra Computer and Communications Group, a Shinawatra Satellite, a Universidade Shinawatra, a estação iTV, o Siam Commercial Bank e, inclusivé e por um par de anos, o clube de futebol inglês Manchester United), Thaksin ficou milionário à custa do contribuinte e o seu percurso parece uma cópia decalcada daquele de populistas como Berlusconi ou qualquer um da nova classe de dirigentes do Cáucaso.
Em particular, Thaksin soube capitalizar o descontentamento das populações rurais perante a modernização imposta pelas elites urbanas, tornando-se primeiro-ministro da Tailândia em 2001. Mas, cinco anos depois, perante as acusações de corrupção e peculato (entretanto provadas in absentia) e a hostilidade que criou junto dos militares e restante classe dirigente, acabou sendo deposto num golpe de estado que, curiosamente, destituiu o primeiro-ministro mas não dissolveu o parlamento que o suportava.

Na sequência da sua queda, Thaksin refugiou-se primeiro no Reino Unido mas acabou por fugir para o Camboja, onde foi contratado como "conselheiro económico" pelo governo de Hun Sen. Em Outubro de 2008 e outra vez em Abril do ano passado, depois do templo de Preah Vihear ter sido declarado património universal, as tropas cambojanas voltavam a entrar em confrontos com o exército tailandês pela posse daquele e do território envolvente.


Tudo isto porque, hoje de manhã, em Banguecoque, discutia-se a possibilidade do exército fazer uso de fogo real contra os manifestantes. Parece que, entre velhos e crianças trazidos em autocarros pagos pela fortuna de Thaksin, começaram a aparecer outro tipo de "vermelhos", de armas em punho.
E estas já não seriam pedras de intifada ou bambús afiados; outrossim, AK-47, diretamente vindas do Camboja.

domingo, abril 11, 2010

Constatação do óbvio

Ninguém gosta de ser tratado como dispensável, muito menos pelo poder que dele deveria depender.
Não admira, por isso, que os valentes (de Valença do Minho) reajam ao insulto dando prova material do que este, na sua discutível mas legítima opinião, simboliza: uma transferência de soberania.

sexta-feira, abril 09, 2010

R.I.P. Malcolm McLaren

Gostava deste gajo.

"Disgrace"

terça-feira, abril 06, 2010

Clash of Titans!

Não, não é nada disso.

É sim ir ver o Herzog quase vinte anos depois de ter adorado o Ferrara:

segunda-feira, abril 05, 2010

Canción primaveral

I

Salen los niños alegres
de la escuela,
poniendo en el aire tibio
del abril, canciones tiernas.
¡Qué alegria tiene el hondo
silencio de la calleja!
Un silencio hecho pedazos
por risas de plata nueva.

II

Voy camino de la tarde
entre flores de la huerta
dejando sobre el camino
el agua de mi tristeza.

En el monte solitario
un cementerio de aldea
parece un campo sembrado
con granos de calaveras.
Y han crecido cipreses
como gigantes cabezas
que con orbitas vacías
y verdosas cabelleras
pensativos y dolientes
el horizonte contemplan.

¡Abril divino, que vienes
cargado de sol y esencias,
llena con nidos de oro
las floridas calaveras!


Federico García Lorca (março de 1919)

sexta-feira, abril 02, 2010