quinta-feira, abril 20, 2006

Pandemanias



Escreveu Pedro Rolo Duarte esta semana: “Apesar das polémicas em que se envolveu nos últimos anos, Clara é reconhecidamente uma cientista de mérito, professora universitária, e tem um extenso trabalho desenvolvido em Portugal e nos Estados Unidos.”

Procurei no PubMed.
A última vez que Pinto-Correia C publicou foi na Perspectives in Biology and Medicine, em 1999 e chamava-se o artigo “Strange tales of small men: homunculi in reproduction”. Antes disso, dez artigos espalhados em revistas igualmente obscuras e, na maior parte dos casos, especializadas na área de interesse da bióloga e escritora, a espermatogénese.

Lá que a senhora tem o dom do mediatismo, ninguém o nega. Que será o supra-sumo das ciência biológicas em Portugal, já não se poderá garantir. Mas para o que é, pouco interessa.

O que tem realmente interesse nesta história é o facto de alguém, que apesar de tudo provém do meio académico, neste país de ignorantes e hipocondríacos ter levantado a dúvida quanto às razões que poderiam assistir à constante publicitação de novas patologias pandémicas e à forma como as medidas com que se as combatem são apresentadas à opinião pública.

Como foi dali que apropriadamente veio a lebre, vamos aos Estados Unidos e à gripe.

O Departament of Health and Human Services, DHHS, leva a cabo desde os anos oitenta uma campanha permanente de intimidação do público norte-americano com vista a promover as vacinas e o consumo de medicamentos contra a gripe.
Digo "intimidação" porque que se trata do uso consciente de informações falsas por parte de uma entidade federal com o objectivo de condicionar o comportamento e os hábitos de consumo dos cidadãos através do medo.

No sítio do Centers for Disease Control and Prevention escreve-se que 200.000 americanos são internados nos hospitais "por complicações associadas à gripe". O que o dito departamento não diz é que, em mais de oitenta por cento dos casos, os tais internamentos se referem a idosos ou a enfermos cujo estado de debilitação foi provocado por outras doenças.

Mas a pior mentira oferecida à opinião pública norte-americana é a de que 36.000 seus compatriotas morreriam todos os anos "por causa da gripe". De facto, e em muitas ocasiões até já ouvi este dado precedido da frase "a gripe e a pneumonia são a sétima causa de morte [prematura?] nos Estados Unidos". Acontece que, mais uma vez, aquele departamento de estado joga uma falácia: das mais de trinta mil mortes apontadas só 1200 poderiam atribuídas à infecção por influenza; o restante número reporta-se à pneumonia clássica.

Agora atente-se à política de vacinação recomendada pelo DHHS: até Outubro de 2005 estavam definidos grupos de risco (segundo metodologia clássica, e.g., a partir dos 65, doentes crónicos, bébés, et c.), os quais deveria ser vacinados contra o influenza; mas a partir daquela data, TODA a população deverá vacinar-se.

Mas no fim das contas, o secretário de defesa americano D. Rumsfeld detém ou não parte, ou todo, da empresa que produz o fantástico "tamiflu"? E ainda que assim seja, essa panacéia é eficaz?
As respostas são "Não sei" e "Até é capaz de ser".
Agora se será necessário tomar estas vacinas e medicamentos por causa das gripes que matam meio-mundo e arredores, isso já outra história.

Sem comentários: