sexta-feira, abril 21, 2006

Influenza, o estado da nossa ignorância


O Diário de Notícias alertou-nos na sexta-feira para o facto de Portugal ser "o país menos preparado" para a grande praga que está aí a rebentar, não tarda nada.

O Público, por seu turno, e no mesmo dia, volta a anunciar que a "pandemia é inevitável", fazendo o favor de se apoiar num artigo da revista Science que não traz menção a nenhuma inevitabilidade.

O que parece realmente inevitável no pânico mediático é referência constante aos antivirais, Tamiflu (Roche) e Relenza (GlaxoSmithKline), esses dois únicos medicamentos comprovadamente miraculosos na cura de qualquer gripe das galinhas e dos pintassilgos.

O que já parece pouco interessante realçar são os factos de uma infecção [ainda?] sem transmissão humana: em 3 anos de liberdade, este vírus megalómano já conseguiu infectar, a partir dos frangos, um número absolutamente assustador de 194 vítimas humanas a nível mundial (quase duzentas!), das quais morreram, vejam bem, pouco menos de metade.

Há aqui um divórcio nítido entre o que está escrito na imprensa científica e o frete que os jornalistas em questão acabaram por fazer às companhias farmacêuticas. Na melhor das hipóteses, os senhores que trabalham nos média não sabem ler em inglês. Na pior, são papagaios que se limitam a repetir o dogma da pandemia, no absoluto desrespeito por um público que, muitas vezes, deles depende para a compreensão de assuntos complexos.

Para quem quiser saber mais, transcrevo aqui a introdução à célebre edição especial de 21 de Abril da citada Science, apropriadamente intitulada "Influenza, o estado da nossa ignorância" (texto integral em Vol. 312. no. 5772, p. 379):

"Introduction to special issue

Influenza: The State of Our Ignorance
Caroline Ash and Leslie Roberts

The startling spread of H5N1 across much of the globe highlights our vulnerability to the emergence of novel subtypes of influenza virus. Yet despite our fears of pandemic human disease, H5N1 is primarily a disease of birds. Olsen and colleagues (p. 384) outline the unseen network of influenza among migratory birds that spans Earth. H5N1 has engendered alarm not only because it is unusually virulent, laying waste to poultry and causing severe economic losses for farmers, but also because it can, with some difficulty, infect humans and other mammals. So far, the virus has killed more than half of the nearly 200 people known to have been infected. Kuiken and colleagues (p. 394) explore the routes through the obstacles to interspecies transmission (the host species barrier) of viruses. Their analysis focuses on which adaptations are needed to facilitate bird-to-human transfer of H5N1. Examples are provided by Shinya* and in a Brevia by van Riel et al. (p. 399). These authors show that the virus preferentially binds to cell types bearing specific surface receptors found deep in the lungs, which may partly explain its poor human-to-human transmissibility. (...)"

1 comentário:

maloud disse...

Desde que vi o Rumsfeld metido na história, comecei a desconfiar. Agora que conheço uma octagenária que já tem em casa Tamiflu que lhe garante a vida eterna, conheço.