vítimas de "racismos"
Na África do Sul, ocorrem em média mais de 120 homicídios e tentativas de homicídio POR DIA e Joanesburgo, onde alguma parte dos cidadãos de origem portuguesa vive, é o epicentro desta violência.
Os crimes são cometidos, em larga maioria, pelos negros que vivem na miséria das townships mas estes raramente escolhem as suas vítimas com base na côr ou nacionalidade dos seus antepassados.
No entanto, e porque no fundo nos estamos todos nas tintas para o que se passa do outro lado do mundo, a notícia deste quotidiano assim relatada carece de impacto. Daí que nos seja apresentada pelo jornalismo imediatista truncada do seu contexto, para aproveitamento máximo da natural empatia que cada um tem por um seu compatriota.
(isto tem as suas consequências, claro, e o espectáculo de circo levado ao público lisboeta pelo partido renovador nacional na Alameda D.Afonso Henriques, há algum tempo atrás, serviu para mostrá-lo)
À semelhança do caso anterior, quando chegou a vez de noticiar a ''crise'' dos emigrantes no Canadá voltou a ser dada aos portugueses a informação em formato de estalo.
Todos os anos, inúmeros países do hemisfério norte, incluindo Portugal, expulsam do seu território milhares de migrantes de todas as nacionalidades pelas mais variadíssimas razões. Em particular, o Canadá deportou 11 mil estrangeiros em 2005, dos quais apenas 409 eram portugueses (para quem gosta de contas, não chega a 4% do total).
Mas a imagem que passou foi a de que, não contentes em nos tirarem o bacalhau, os estupores dos canadianos não nos querem lá. E para cúmulo, são eficientes a deportar.
O curioso é que, apesar da afronta, parece que em tempo de paz a grande maioria dos eleitores não sabe nem quer saber como funcionam os consulados de Portugal no mundo (muito mal). O assunto exterior, simplesmente, não lhes diz respeito.
Mas não lhes diz respeito o MNE como parece que não lhes diz respeito outros ministérios. É que, com tanta paz, a classe "média" portuguesa também parece ignorar a emigração crescente e as razões que geram essa fuga para o estrangeiro.
Aparentemente, é problema de gente que também não lhe interessa.
Nestes momentos, o que interessa é o patriotismo parolo, e é dever de cada um berrar contra o dito racismo canadiano ou sul-africano.
Desde que não se passe dali, claro, que a nossa vida não é isto.
4 comentários:
Dorean,
quem hoje emigra são os profissionais qualificados e os engenheiros.
Aqueles que ficam querem é que os outros saiam, até porque, em geral, ficam os menos qualificados mas mais "lambedores".
Cada vez mais outra vez
a "pequena Suíça" de 73.
Um paraíso, para alguns.
Não. Há gente com todas as qualificações a sair do país mas o que se assiste hoje é a um movimento migratório de pessoas sem o ensino escolar obrigatório que só é comparável ao verificado nos anos cinquenta/sessenta.
Por exemplo, o consulado-geral em Londres registou no ano passado uma média de mais de 100 portugueses recém-chegados por semana ao Reino Unido. Destes, uma diminuta minoria teria completado o ensino secundário. O 'profissional qualificado' prescinde de registo em embaixada - vai em definitivo quando já tem acordado um contrato de trabalho.
Acontece que em Portugal, mais de 40% de alunos abandonam a escola antes do 9ºano e tentam entrar num mercado de trabalho que não só se encontra em contracção como lhes exige, tal como no Canadá, o 12ºano completo.
A solução é ir trabalhar num país estrangeiro em serviços onde haja falta de pessoas desqualificadas. O mesmo é dizer, num país que depende do trabalho imigrante porque a maioria dos nacionais aprendeu um princípio básico: não acabar a escola complica-lhes bastante a vida.
Lá mais atrás falámos do jornalismo que temos. Quando um país inteiro recebe a informação pelas TVs, dá nisto. Não interessa quantos são assassinados por dia na África do Sul. Se for um português, levamos com 20m de notícia, com direito a prolongamento nos dias seguintes. Não interessa quantos ilegais Portugal expulsa do território, mas Aqui d'el rei! malandros dos canadianos que estão a expulsar os nossos. Ilegais, mas nossos.
Este é o retrato do país.
obrigada pela visita e pelo comment no meu blog! gostei. :)
jinhos
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