terça-feira, fevereiro 28, 2006

As OPAs dos outros



Assim que os italianos da Enel decidiram entrar pela Suez adentro (empresa responsável pela distribuição de gás, electricidade e água para toda a Europa), o governo francês fez aquilo que todos os governos dessa Europa da livre concorrência fazem nestas situações: invocou o carácter estratégico da empresa, a absoluta necessidade de manter em mãos nacionais o controlo da sua gestão, e tentou a todo o custo bloquear a operação.

O objectivo dos italianos era, por um lado, a expansão do grupo no mercado europeu através da belga Electrobel, a qual é controlada pela francesa Suez, mas também reforçar a sua posição em território nacional dado que a Electrobel controla por sua vez a italiana Acea...

Confusos? Eu também.

Obviamente, isto foi visto como uma ameaça ao domínio gaulês no mercado de energia europeu e para impedir a prossecução dos planos da Enel, o primeiro-ministro Dominique de Villepin anunciou no sábado a fusão da Suez com a Gaz de France, dois dias antes do encontro previsto entre em que ministro italiano da Indústria, Claudio Scajola, e o ministro francês da mesma pasta.
O anúncio justificava a operação com o objectivo de criar o ''maior grupo mundial na área do gás natural'' mas acontece que a participação que o estado francês dispõe na GdF é de 80% quando a fusão, que deverá estar concluida no final deste ano, permite a troca directa de títulos entre accionistas de ambas as empresas...

O Ministério italiano da Indústria reagiu logo e anulou a reunião programada, em que estava previsto tratar de temas relacionados com a energia.

Em resumo: as ''golden shares'' em França são de 80%, e a livre concorrência tem só um sentido; em Itália, o mesmo argumento serve para construir um monopólio nacional que de outra forma não seria permitido pelas mesmas regras de livre concorrência...

Pelo caminho todos vociferam que o fazem para ''defender o interesse nacional'' ou para ''favorecer o consumidor''.
Quanta bondade.

Como diria o Aardvark, isto até pode ser capitalismo mas como mercado ainda nos vai sair muito caro e nunca será nem integrado nem livre.

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