Coimbra é um tanatório junto ao rio
Coimbra é um tanatório junto a um rio. Vim agora de lá e só vi mortos.Mortos mais jovens na universidade, mortos mais velhos à volta dos hospitais. Há mortos atirados para as esplanadas e mortos com livros debaixo dos braços entre o arco da Almedina e o Quebra-Costas. Vi mortos com câmaras fotográficas ao ombro: arranjam lentes específicas para captar a inexistência. O cheiro de morte engordou as mulheres (ficaram toucinhos lustrosos) e os homens perderam a tesão. Corrijo: ficam duros quando falam da falta de tesão dos amigos íntimos. Entre os Olivais e a Cruz de Celas, todos os carros parecem funerários. E na baixa, à porta do TACV, em Santa Clara, no Jardim da Sereia, nos centros comerciais manhosos, na Portela, no Calhabé, no Norton de Matos, nos subúrbios miseráveis ou nas relíquias de Santa Cruz e do Salão Brasil, há uma atmosfera de cera derretida, um halo de desespero e de não-vida, como se a cidade inteira estivesse inscrita no crematório e se aguentasse à espera de vez.
Daqui.
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