sábado, maio 24, 2008

A Trombeta de Patrick


Volta-e-meia lá vem o DN a "introduzir o debate" do nuclear. Desta feita por meio de editorial do director.
Estão lá os elementos todos da encomenda: como einsatz pertinente e populista, a subida do preço dos combustíveis e a ameaça que se avizinha crise ainda pior que o subprime (!). Passa-se à citação costumeira daqueles especialistas para quem a tecnologia é 'segura' e 'amiga do ambiente'. Depois, fica sempre bem dar exemplos de países desenvolvidos que voltam a apostar no nuclear (um dos quais ainda não conseguiu resolver o problema do lixo doméstico, quanto mais o radioactivo). Pelo meio, a inevitável referência à personagem de Patrick Monteiro de Barros.

Caro João Marcelino,
A energia nuclear serve para produzir electricidade, e não gasosa. Logo, e enquanto os carros se moverem à força de combustíveis fósseis, esses argumentos de medo não servem para introduzir coisíssima nenhuma.

Dando de barato que a operação de combustíveis nucleares é segura (?), as centrais de fissão são alvos preferenciais para o terrorismo e os custos de segurança seriam sempre elevadíssimos. Mais: os resíduos que produzem são mais nefastos ao ambiente que todas as toneladas de CO2 que quiser ir buscar. A radioactividade mata, sabia? Contamina tudo, ar, água e solo. É custosa de aterrar e virtualmente eterna.

Também lhe vale de pouco comparar-se com os grandes países: a competitividade da indústria portuguesa, lamentavelmente, é pouco sensível ao custo da energia. Mais ainda se nos lembrarmos que na China se planejam dezenas de centrais a carvão para alimentar a bolha.

Só mais uma coisinha: uma central de fissão nuclear não é viável economicamente. Por isso, todas as centrais do mundo são sustentadas pelos estados, como os que deu como exemplo. Acontece que o deles é rico, o nosso é pobre. Mas compreendo que, mesmo a esta escala, o bolo dos impostos ainda seja um alvo apetecível para empresários de algibeira como o benevolente Patrick Monteiro de Barros.

2 comentários:

Aardvark disse...

Dorean,

podes usar a energia eléctrica das centrais nucleares para extraíres hidrogénio da água através da electrólise e criar pilhas de hidrogénio que podem ser usadas como combustível nos automóveis, reduzindo assim a dependência estratégica dos combustíveis fósseis.

O sistema ainda não é comercialmente viável mas poderá sê-lo num futuro não muito distante.

dorean paxorales disse...

A estória da electrólise da água merece discussão, sem dúvida. Mas nesta altura do campeonato, toda a pilha de hidrogénio é tão viável como a fusão nuclear (ou menos). Logo, por si só, não serve de argumento.