Indagandis et sedibus causas morborum
Chego e sou instalado numa espécie de aparthotel, construido nos anos 80, para artistas convidados. A renda é quase simbólica mas, como que para prevenir tentações meridionais de permanência, impõem-se regras e decoração espartanas.
A ménage das cuecas, por exemplo, faz-se por meio de marcação antecipada. No dia atribuído, recebo a chave (mais uma de uma série de cinco) e um rol de indicações. Mas a exiguidade do meu Hochdeutsch não é páreo para a dinâmica do sotaque local e, durante as minhas buscas pela sala das máquinas, acabo por me perder.
Salva-me a simpatia de uma nativa, a qual, ao ver-me aflito de trouxa e detergente nas mãos, se dispõe a conduzir-me escadas abaixo, por portas travessas, até à cave. Nesta, estende-se diante de mim um corredor ladeado por inúmeras portas de ferro. Olho para a etiqueta da chave e avanço, perscrutando pela correspondência.
Destranca, destranca, puxa alavanca. A sala, com 7 metros de pé-direito, é maior que o apartamento em todas as coordenadas. Sentam-se, lado a lado e insignificantes, a lavadora e a secadora, minguadas que estão pelo espaço vazio. Abandono-as à sua ruidosa tarefa e fecho a sólida porta atrás de mim. Nisto, deixo de ouvir um sussurro que seja.
Cá fora, consigo ver o sorriso da nativa, ao fundo do corredor, com a satisfação de dever cumprido. Isto permite desviar-me de um calafrio mas não consigo apagar a imagem surgida segundos antes na minha cabeça.
Não há dúvida que estes austríacos sempre foram obcecados pelo casario subterrâneo.
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