sexta-feira, abril 06, 2007

O engenheiro fumegante

1.
Não, o cavalheiro que me levou a escrever esta posta, embora também empreste o putativo prestígio da licenciatura à sua campanha, é outro: Paulo Carmo, 33 anos, informático, contra o "fumo passivo".

Convém agora fazer uma ou duas ressalvas quanto a esta verdadeira calamidade pública: evito sempre incomodar os outros com o meu fumo e também não gosto que fumem para cima de mim. Repito: para cima de mim.

Ora, ao contrário de mim, o eng.º Paulo Carmo não fuma e faz-lhe mesmo impressão que os outros fumem. O último, ao que defende, por causa dos tenebrosos efeitos da inalação involuntária da expiração alheia. Assim, assustado com o que terá numa revista do El País (sei lá!), resolveu participar na democracia fazendo ouvir seu desagrado através da internete. Como está na moda toda a inconsequência que alimente polémicas, passou à estampa nos jornais. Este engenheiro é de armas e um caso sério de Homem Novo socrático.

2.

O artigo do qual reproduzo o cabeçalho acima, da autoria do doutor James Enstrom e do doutor Geoffrey Kabat foi publicado em 2003 no British Medical Journal e vem provar exactamente o oposto daquilo em que o Paulo acredita.
Eu sei, eu sei, estas revistas de investigação clínica nem sempre são fiáveis, basta ver o caso da Lancet e dos imbróglios em que se mete por vezes. Mas isso não é razão para rejeitar o que lá é exposto em favorecimento da ciência de café.
Até porque o estudo em questão, apesar de polémico, defende-se bem: durante quase quarenta anos, (de 1960 a 1998) 35 561 indivíduos fumadores e os respectivos cônjuges não-fumadores foram analisados periodicamente pela equipa de médicos chefiada por Enstrom e Kabat: os resultados sugerem que os efeitos do "fumo passivo" no cônjuge não-fumador, em particular o risco de desenvolvimento de doença coronária, são substancialmente mais reduzidos do que vulgarmente se pensa.

Por outro lado, e como que a confirmar a diferença, existe sim uma forte correlação entre a quantidade de cigarros fumados e o aumento no risco de cancro pulmonar, doença coronária e obstrução pulmonar crónica.

3.
Obviamente, não quero dizer com isto que se deva fumar no local de trabalho ou que os não-fumadores não têm direito a recusar o fumo dos outros, pelo contrário. Mas a proibição do fumo em todos os locais públicos com menos de cem metros quadrados (80% dos estabelecimentos de restauração do país) já foi aprovada pela A.R.. Só que isso não chega para contentar este fascista higiénico: o mesmo acha que não se deveria poder fumar nem no restante. Tudo por causa do "fumo passivo" dos empregados. Enfim, outro que se descobriu mais "moderno" que o resto do país.

Tanto entusiasmo pela saúde dos outros só merece uma pergunta ao engenheiro: quando vai ao tal restaurante ou diariamente se desloca à empresa onde trabalha, vai de bicicleta verde ou de cú tremido a debitar monóxido de carbono?

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