A cobardia
Do nada, voltou-se para mim e disse: "os portugueses têm uma capacidade infinita de suportar o seu sofrimento". Assombrou-me logo uma pontinha de orgulho pelas minhas bravas gentes, a sua resistência a ventos e marés ou à madrasta da vida, et coetera e tal. Preparei-me, por vício, para retorquir com contra-exemplos, como os suicídios no Alentejo ou outra coisa qualquer que me viesse à cabeça e que a obrigasse a reafirmar o seu elogio com um argumento que prolongasse esse contentamento.
Felizmente não se apercebeu e assim não houve tempo para o ridículo. O seu ar de desalento respondia ao meu sorriso tolo com o óbvio: a recusa da dor é a força que nos empurra para cima e para a frente. Tudo o resto não passa de cobardia.
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