quarta-feira, maio 10, 2006

"Visão" exemplar


MAIS CEDO OU MAIS TARDE, O MINISTRO DA SAÚDE VAI MANDAR FECHAR o bloco de partos do hospital de Lamego "por falta de médicos especializados".

Enquanto isso, a Ordem dos Médicos mantém a sua luta contra a formação de mais colegas no país, nomeadamente, e em conluio com as universidades do Porto e de Aveiro, usando de toda a influência ao seu alcance para impedir a constituição de uma faculdade de medicina em Viseu - onde há o tal hospital, um politécnico que até tem enfermagem e uma escola de tecnologia onde já se faz I&D em instrumentação médica...

Sem dúvida, um caso daqueles de coordenação ministerial a todos os títulos exemplar: o ministério da saúde encerra um serviço público por não haver obstretas numa cidade onde o ministro da educação não autoriza que se produzam médicos nem que o Gago tussa.

Mas esta situação, dada a proximidade dos centros do litoral (*), e também por não passar de uma infeliz coincidência entre privilégios intocáveis e cortes na despesa prevista, é magro espelho da desfaçatez com que o Estado, desde sempre, largou o interior do território e as suas populações à sua sorte. Só que, antes, os governos eram apenas culpados de desinteresse ou inacção; hoje tornaram-se os principais promotores do desinvestimento e do abandono.

Que é o mesmo que dizer que, a leste de Lamego, e para que o déficite se cumpra, a desertificação continua.

a foto é do marco geodésico que assinala o centro geográfico de Portugal continental, nas proximidades de Vila de Rei
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(*) Há sete escolas de medicina no país, e à excepção da Covilhã (onde só há pós-graduações), concentram-se à volta das principais cidades do litoral: duas em Lisboa e duas no Porto; uma em Coimbra e outra em Braga.

1 comentário:

maloud disse...

Essa triste história do interior tem décadas. Agora o que me tem espantado desde que ando nisto, é a sobranceria dos "sacrificados" lisboetas de esquerda. Qualquer tostão gasto no interior sentem-no como um assalto. Às vezes dou comigo a pensar que esta gente, se vivesse no Norte de Itália, votaria no Umberto Bossi.