Abaixo as touradas (?) - II
Na posta anterior abordei a "ontologia da oportunidade" (????) no activismo anti-tourada.
Nesta vou abordar a "ontologia da legitimidade". Vou defender a ideia de que este activismo é produto da hipocrisia decorrente da crescente abstração das actividades humanas.
Nas sociedades primitivas matava-se animais e seres humanos de uma forma essencialmente ritualizada. Essa ritualização respondia a duas necessidades:
1. Contrariar a repugnância natural dos seres humanos saudáveis pelo derramamento de sangue.
2. Matar animais e humanos: por fome, defesa, ganância, fome.
O próprio canibalismo é essencialmente uma ritualização e acaba por providenciar uma justificação adicional para a morte de outros indivíduos.
O progresso da tecnologia, nomeadamente do armamento e a progressiva especialização dos indivíduos dentro das sociedades ditas civilizadas introduz um distancimento entre a morte de indivíduos ou animais e os autores desta.
Tal distancimento permitiu prescindir da ritualização, que permanece apenas de forma residual, nomeadamente nas religiões judaica e muçulmana ( para os animais! ).
O Cristianismo aboliu a ritualização ( nos animais ).
Este distanciamento, resultante da utilização de mecanismos mais abstractos, tornou mais fácil a utilização da violência.
Permitiu também um ainda maior distanciamento aos cúmplices da violência.
Se exceptuarmos os vegetarianos veganos, todos nós somos cúmplices de maus tratos cometidos sobre muitos animais. Não interessa o propósito. Não é pelo propósito que nós convivemos bem com esses maus tratos.
É porque não vemos. Porque não somos nós.
Nós consumimos em excesso e somos responsáveis pela delapidação em excesso dos recursos da Terra. Mas como não vemos e não somos os únicos, não nos importamos.
No nosso trabalho, muitos participamos no desenvolvimento de novas formas de controle da vida alheia e trabalhamos activamente em formas de comunicação de massas que nada mais fazem que distorcer a realidade.
A privacidade acabou e a liberdade de informação e de opinião saiu dos meios de comunicação social.
As possíveis consequências prácticas destes desenvolvimentos no futuro podem ser terríveis. Mas nós não as vemos, ou não as vamos ver, e não somos os únicos.
Mas somos cúmplices.
Só resta o vegetariano vegano como activista legítimo.
Restava. Alguém que toma opções tão radicais e incómodas para si próprio não se preoucupa com aquilo que não o afecta directamente.
Para as touradas tem a solução de não ver e de ser contra.
Não me parece que faça sentido ser activista. Ou será que depois nos vai querer obrigar a sermos vegetarianos veganos?
2 comentários:
Vive-se com a coerência possível.
se eu quiser de facto defender os direitos dos animais com propriedade não posso comê-los. Então vou andar aos gritos “não matem os touros, coitadinhos dos touros” e depois chego ao talho e peço meio quilo de bifes da vazia? Qual é a diferença entre o touro da praça e a vaca do talho?
Se é esta a coerência possível estamos entregues à bicharada, salvo seja.
O resto do meu comentário segue em oitoecoisa
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