domingo, maio 28, 2006

Carta aberta ao Dr. João Carlos Espada

Caro Dr. João Carlos Espada,

li o seu artigo no Expresso, tal como leio, há vários anos, quase todas as semanas.

Aprecio o facto de, algures no passado, os seus artigos me terem dado a conhecer Tocqueville e de me terem levado a ler a "Democracia na América" e o "Antigo Regime e a Revolução".

A leitura destes livros mereceu-me interpretações algo diferentes das suas. Tal situação será talvez justificada pelo facto de não terem sido esses exercícos devidamente acompanhadas pelos adequados serviços de tutoria, faltando-me também quer o tempo quer as ferramentas intelectuais necessárias para poder formular uma interpretação mais sofisticada e muito provavelmente diferente.

No seu artigo desta semana o Sr. Doutor cita alguém que disse "Não troquemos a liberdade pelo conforto: em breve perderemos ambas."

Corrija-me se estou enganado mas penso que estamos perante uma paráfrase de Benjamin Franklin, que disse ( cito sem verificar fontes, talvez esteja enganado ): Quem está disposto a trocar a sua liberdade pela sua segurança não merece nem uma coisa nem outra.

No geral concordo com o seu artigo mas penso que a paráfrase introduz uma diferença subtil ( ou não, considerando os tempos que correm ) no pensamento de Franklin.

Vejo hoje em dia as suas intervenções na imprensa como elementos de uma acção de propaganda, ou melhor ainda, de recrutamento ( de jovens para a defesa das suas ideias essencialmente ( extremamente? ) conservadoras ).

Mas penso que os princípios gerais e citações que transmite permitem intrepretações prácticas bastante diferentes das suas.

Essas ideias gerais que afirma defender são tão boas que não carecem de paráfrases potencialmente enganadoras e que podem levar os jovens a fazer interpretações adulteradas daqueles princípios que, por exemplo, os founding fathers dos EEUU tomavam como self-evident.

Para finalizar, peço desculpa pelo anonimato ( relativo, quando falamos de suportes digitais e acessos à Internet mantidos por grandes empresas comerciais ) mas eu não sou muito corajoso, tenho uma família para sustentar e se fôr despedido por defender estas ideias não vou concerteza arranjar emprego num think-thank conservador ( nem noutro ) Americano, ao contrário do que aconteceu com a nossa corajosa Somali.

Com os melhores cumprimentos,
Aardvark

1 comentário:

maloud disse...

O Dr. Espada faz interpretações por vezes obtusas.
Quanto à "corajosa" somali, infelizmente a maior parte da informação ficou pela rama ou, pior ainda, foi deturpada. Caso para usar o aforismo "quem com ferros mata...".