Liu Xiaobo, Nobel da Paz, Tiananmen
Aqui há uns anos, à mesa de um jantar de má memória, a nossa anfitriã, uma médica chinesa casada, educada e trabalhada em Cambridge, insistia que a censura que o seu governo impunha à internete servia para proteger o bravo povo chinês da pornografia ocidental.
Entre o momento em que tive a brilhante ideia de discordar e aquele em que se trocavam insultos de "fascista", foi um piscar de olhos e a soiré acabou mesmo mais cedo do que o planeado. Quando dei por isso estava a ser expulso da casa.
Ontem, a Great Firewall of China esteve mais ativa que nunca. Qualquer referência ao Nobel e a Liu Xiaobo que aparecesse no éter era sumariamente apagada. A cortina de fumo estende-se aos telemóveis "inteligentes" e não só, com mensagens de texto não chegando ao seu destino e iPhones subitamente transformados em iPods ao teclar daquelas palavras-chave.
E tal como essa anfitriã do passado, prevê-se que a parcela da população chinesa que ainda tiver algum acesso ao anúncio do prémio reagirá com indignação longamente alimentada pela propaganda nacionalista de Pequim. Tudo o que contradiga a versão oficial de excelência moral nada mais é que uma tentiva de demonização do seu país por um ocidente invejoso do progresso da China.
P.S.: Pobres diplomatas noruegueses, mais uns que carregam a tarefa de explicar a uma autocracia que não têm nem querem ter qualquer poder sobre entidades civis e independentes como o comité Nobel.
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