segunda-feira, agosto 24, 2009

Nem Bruxelas, nem Madrid

Consta que quem manda aqui é Mérida.

12 comentários:

luís Vintém disse...

"Para nós, o que é realmente importante é que haja circulação de pessoas entre Espanha e Portugal, pois é isso que fará da Extremadura uma referência e um espaço de união"

Se é por causa disso, o número de gasolineiras fechadas deste lado da fronteira nos últimos anos prova que o trabalho está feito. O pessoal circula e muito.

dorean paxorales disse...

bem, se queres entrar em "erros" de projecto...

para que está a extremadura interessada neste tgv se o propósito de qualquer tgv é... não parar (lisboa-madrid)?

http://www.maquinistas.org/labels/TGV.html

luís Vintém disse...

Ummm, Lisboa-Madrid? Não. Pelo contrário, estão previstas paragens. Em Évora, por exemplo. E acho que Vai parar em Badajoz ou Mérida. Não tenho a certeza mas posso informar-me de fonte segura.
Em Espanha, o "AVE" Madrid-Sevilha também pára em Toledo e outras cidades. O Madrid-Valladolid pára em Segóvia, etc...

dorean paxorales disse...

Ora bolas, lá se foi a alta velocidade.

luís Vintém disse...

É. Não percebo para quê a "alta velocidade" se depois o comboio pára em todas as estações e apeadeiros. Espanha ainda têm dimensão suficiente para que o Madrid-Barcelona pare em Zaragoza, mas na nossa tirinha de 250km...
Na Holanda chegas de comboio a qualquer parte do país em meia hora. Na Dinamarca também. Nós destruímos toda a rede ferroviária para agora construir o TGV. Absurdo.

dorean paxorales disse...

E chegámos ao meu ponto: a linha a construir serve, na realidade, para completar na meseta a rede em estrela tal como outrém determinou.
Outrém que aquece as costas de um mandarete extremenho.

dorean paxorales disse...

Podes sempre queixar-te ao presidente da república. Foi ele quem recebeu o ouro para fazer auto-estradas radiais e no litoral e abandonar as linhas do interior.

Parece que o TgV para a fronteira norte não vai ter mercadorias. Curioso, não?

luís Vintém disse...

Bom, quanto à rede em estrela, que outra alternativa haveria? No que nos toca, ou essa ou nenhuma. Ou ia-mos convencer os espanhóis a substituir a linha Irun-Portugal pela alta velocidade só em nosso beneficio? Li essa ideia na página que me enviaste do "maquinista" e parece-me ainda mais absurda que a actual porque significa ignorar Espanha e o contexto ibérico. É que para todos os efeitos, e para usar uma expressão castelhana, são eles quem "corta el bacalao". Outra ideia bastante parva é a de "chegar à Europa". Nunca lá chegaremos se continuarmos com esta mentalidade de que não fazemos parte dela (nem que haja charters diários e gratuitos para todos).
E a questão da rede em estrela, não é uma necessidade do "centralismo espanhol", é uma questão de bom senso na circulação dos recursos da península.
Por exemplo: não há muito tempo, 98% dos recursos energéticos de toda a Espanha vinham das Astúrias. Neste momento, depois do aumento do investimento nas renováveis, são ainda 75%! A zona de Espanha com maior PIB per capita não é nem a Catalunha nem o País Basco, mas sim... Almeria, que abastece de vegetais o resto do país.
Qual a melhor opção, criar uma teia de aranha de distribuição de produtos (energéticos e outros), ou redistribui-los a partir de um ponto central? A resposta é óbvia, não?

luís Vintém disse...

Uma achega (para não parecer desonesto por omissão). Evidentemente não se pode comparar uma zona (Almeria) com uma região (Catalunha ou País Basco). Ainda assim, os dados continuam a ser verdadeiros se a comparação for feita entre Almeria e Madrid, Barcelona ou Bilbao.
De resto, a agricultura intensiva em Almeria tem os dias contados por causa da sobre-exploração dos recursos.

dorean paxorales disse...

acho que o ponto em que verdadeiramente discordamos é esse.

este país não faz fronteira a toda a volta da periferia da espanha mas apenas a oeste dela.
eu estou-me perfeitamente nas tintas para as facilidades radiais e para o que fica mais barato aos espanhóis ou onde está o rendimento per capita mais alto de espanha e o camandro.

mais de 60% das exp/imp são para/da europa não-espanhola: o que menos interessa é circular recursos na península; interessa sim pô-los dali para fora, o mais depressinha e barato possível e em linha recta.
redistribuição? brincas. só se for para favorecer um intermediário e encarecer um produto. só se for para perder poder de negociação, de decisão: se há mercado central em madrid, ninguém virá comprar ou vender em lisboa.

e quem diz produtos, diz empresas e serviços.

não é nacionalismo da treta. quando as empresas estrangeiras "racionalizam" recursos, extinguindo as unidades portuguesas e juntado tudo numa sucursal ibérica fazem exactamente uso da mesma lógica centralista.
a tal lógica de "bom senso" resulta em desemprego e perda de investimento em portugal.

quanto mais não fosse, o argumento geográfico chegava para levar pelo menos a uma conclusão: nada temos a ganhar com centralismos peninsulares. só a perder.

eles têm o bacalhau e a faca na mão? pois, essa é que é essa.
e também foi com essa mentalidade de quero posso e mando que almeria se tornou (ou se tornará proximamente) no primeiro deserto sobre-saariano do mundo. e isso, infelizmente, não traz prejuízo só a eles.

luís Vintém disse...

"este país não faz fronteira a toda a volta da periferia da Espanha mas apenas a oeste dela." (???)
Escapou-se-me a notícia da independência da Galiza.

Mas se te estás a referir aos transportes marítimos. São os que mais combustível consomem (ao contrário do que se escreve, algures, no tal blogue do "maquinista").

Mais de 60% das imp/exp são para a Europa não espanhola, é verdade, o que é o mesmo que dizer que mais de 30% SÃO para Espanha.

Seja como for, a ideia do eixo Irun-Portugal continua a ser absurda porque no país deles mandam eles. E ninguém os vai obrigar a renovar essa linha.

As vias de comunicação têm dois sentidos e podem ser motivo de centralização ou descentralização.
É o mesmo que dizer que as autoestradas foram prejudiciais para o interior de Portugal porque as pessoal as utilizam só num sentido.

Hoje em dia, há muita gente que trabalha em Madrid e vive em Segóvia porque viajar no AVE é mais prático (e barato) do que viajar nos "cercanias" e viver em Móstoles ou Torrelodones.

Madrid é o centro geográfico deste território peninsular. Ponto. Lisboa continua a ser a porta atlântica que sempre foi. Ponto. Estou a falar exclusivamente de geografia e isso são coisas que não mudam, a não ser que as placas tectónicas nos façam uma surpresa (lagarto, lagarto, lagarto).

dorean paxorales disse...

a galiza, na perspectiva radialista, fica a oeste de madrid, ten-hundred-hours. todo o território português fica a oeste de madrid.

mas ainda bem que falas na galiza. se "radiares" para/por madrid algo vendido/comprado à galiza, tens uma ineficiência de uso de combustível absurda. ao que parece, não vai haver transporte de mercadorias em TgV entre pt e a galiza. porquê?

quem manda no país deles são eles? não só. as infrastruturas estratégicas já não são de exclusiva autoridade nacional. descansa que se houvesse recursos considerados imprescindíveis pelo resto da europa a geografia ficava do nosso lado.
como não há, comparativamente, não temos voz que nos valha.

voltando a esta realidade, certas opções fazem com que eles também mandem no nosso.

com ou sem geografia. i.e., ainda que a capital deles fosse em olivença.

adenda: não são mais 30%. são à volta de 20%/27% exp/imp. também temos comércio com o resto do mundo.

ah! lagarto, lagarto, lagarto! :)