Heavy Metal
Sempre fui um metaleiro convicto. Desde a secçao de metais da filarmónica Euterpe à secçao de metais da banda do Otis Reding, os metais sempre me fascinaram. Tanto que, com o dinheiro que tinha poupado para tirar a carta de conduçao resolvi comprar um trompete. Demorei seis anos a juntar outra vez o dinheiro para a carta. Passaram mais de seis desde que tenho o trompete. Toco tao bem o trompete como o Sherlock Holmes tocava o violino. Com a agravante de que as minhas capacidades dedutivas (nulas) nao compensam a falta de talento para o sopro.
Talvez por isso, em mim, a admiraçao pelos trompetistas vai sempre de maos dadas com uma pontinha de inveja. E este senhor é o que mais invejo. De todos.
Ontem estivemos na Gulbenkian outra vez. Ele, eu mais um auditório cheio, os avioes, o cenário surreal dos jardins iluminados. O génio e o talento dele. A minha inveja e admiraçao.
Dave Douglas é um executante virtuoso e um compositor inspirado. Quando o ouvimos, saem daquela campânula ecos dos timbres de Louis Armstrong, da técnica de Fats Navarro, do swing e da expressividade de Roy Eldridge, da versatilidade de Lester Bowie. Ontem, Douglas dedicou algumas das suas músicas a alguns destes grandes. Nao precisava. A sua música seria homenagem suficiente. A tal história dos ombros dos gigantes. Mas está muito bem.
Como se tudo isto nao bastasse, o homem é um aventureiro: acompanhou John Zorn em "Masada", criou o "Tiny Bell Trio", trilhou o be-bop com um quinteto de estalo. Agora aparece com a fanfarra vanguardista que podeis ouver sobre este texto.
O público da Gulbenkian aplaudiu-os de pé ontem à noite. Douglas e a "brass ecstasy" retribuiram com uma versao bombástica de Mr. Pitiful no encore.
Na minha imaginaçao ergui o punho e levantei o indicador e o mindinho. Pareceu-me o mais adequado às circunstancias.
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