segunda-feira, outubro 13, 2008

Haider morreu mas podemos dormir descansados


O homem correspondia em pleno à caricatura dos filmes do pós-guerra: filho de membros austríacos do Partido Nacional-Socialista alemão e herdeiro de uma fortuna pessoal com origens menos escorreitas (propriedades do tio que as teria 'confiscado' a um judeu italiano desaparecido durante a guerra...).

Dizem que Jörg Haider era o único obstáculo a uma aliança entre o FPÖ (Partido da Liberdade) e o BZÖ (Aliança para o Futuro da Áustria). Receiam os mesmos que agora seja possível traduzir os quase 30% de votos conjuntos em ministérios de extrema-direita.

É verdade que o antigo delfim de Haider e actual líder do rival FPÖ, Heinz-Christian Strache, fez da intenção de expulsar imigrantes o seu cavalo de batalha e esse é terreno onde as duas tribos não se atropelam.
Mas acontece que Haider tinha moderado o discurso nos últimos anos e o seu eleitorado, consequentemente, também mudou. De neo-nazis declarados, votavam nele agora os racistas envergonhados que a participação no governo do ÖVP (Partido Popular, conservadores) desiludiu no plano económico.

Por isso mesmo não acredito em bruxas. Um Haider moderado talvez pudesse ser considerado aceitável numa coligação de direita com os conservadores. Mas Strache representa o Haider do passado, quando a Europa isolou diplomaticamente o país em protesto contra a presença do líder extremista no governo. Assim, embora o bloco central que tem governado a Áustria (e que precipitou as eleições) esteja desgastado e os 30% de Strache sejam muito apetecíveis para uma maioria de direita no parlamento, o ÖVP aprendeu a lição de 1999 e duvido que volte a convidar caricaturas daquelas para seu gabinete.


Fora a política, quis a ironia do destino que este paladino da pureza e ordem germânica fosse morto por violar a lei conduzindo um carro da VW, construtor criado por Hitler, ao dobro da velocidade legal, e depois de passar a noite numa discoteca.

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