domingo, outubro 19, 2008

É a globalização, estúpido!

Neste momento, já vários especialistas em economia e gestão explicaram as causas da crise financeira da Europa e US e apontaram várias direcções a seguir.

Como eu não percebo nada de economia abstenho-me de tecer mais comentários sobre o assunto. Pelo menos até ao dia em que me apeteça voltar a falar sobre aquilo que não sei, numa área em que aqueles que mais sabiam quase que destruiram o mundo Ocidental.

Mas vale a pena pegar num ou dois indicadores económicos e analisar as consequências políticas da crise.

De política percebo eu, enquanto eleitor, e assumir que não percebo de política é aceitar a ideia de que a democracia Ocidental (há outros regimes a que chamam democracia mas qualquer um pode pegar numa palavra e dar-lhe a semântica que quiser) não é um sistema político adequado.

Ainda não estou preparado para isso.

Então, indicadores. Um: os valores dos activos detidos pelos países Ocidentais equivale a 2,3,4 vezes o seu PIB anual. Viram o que aconteceu à Islândia? O Ocidente endivida-se com base na valorização dos activos que detém. Se essa valorização dimimuir para metade, significa que vamos passar a poder gastar apenas metade daquilo que gastamos actualmente (grosso modo).
Se o valor desses activos diminuir para metade, ainda correponderá a mais do que o PIB anual de muitos países pcidentais.

Quanto mais alto se sobe, maior é a queda. Por isso é que os Chineses gostam deles altos e loiros.

Dois: quem são os países com superavit na balança de pagamentos e com maiores reservas financeiras? Ou seja, quem pode "pagar o pato"? Melhor ainda: quem é que vai ficar a mandar? A China, a Índia, o Brasil, a Rússia, a democracia de Singapura e os sultanatos do petróleo Islâmicos.

Ou seja, BRIC, países emergentes e sultanatos do petróleo.

Oxalá que sejam a Índia e o Brasil quem pague mais o pato, isto é, que fiquem a mandar.

Mas há dois outros países, Ocidentais, que, ao contrário dos outros, tolos, acumularam reservas,e podem ajudar a pagar o pato.

O primeiro é a Noruega, porque é um sultanato do petróleo e porque é um país "comunista", onde os supermercados são controlados pelo Estado e que não partilha da mentalidade irresponsável que assolou o Ocidente.

O outro é o Japão, que é Ocidental apenas no sentido geopolítico e de quem muitos dizem ser também um país "comunista".

É curioso que um país que está há quinze anos com indicadores macroeconómicos desfavoráveis, tenha agora a capacidade para "pagar o pato" e até concorrer com a China nesse aspecto (tal como, no passado, pagaram a 1ª guerra do Golfo, em quantias discretamente depositadas nos cofres do tesouro Americano)

Talvez seja por eles acordarem mais cedo que toda a gente.

Mas eu acho que as razões são outras e são duas:

1º. Não consomem mais do que produzem, são poupados, trabalhadores, leais ás empresas (como as empresas lhes são leais a eles), estudiosos e vivem, de facto, numa cultura de honradez e honestidade que chega a ser ligeiramente repressiva. Esta atitude explica os indicadores económicos de estagnação, que correspondem à realidade económica de uma economia Ocidental que vê os seus recursos drenados pela competição desleal que lhe é imposta numa economia globalizada e que reduz naturalmente os seus padrões de consumo para não se endividar.

2º Realmente ainda produzem e exportam alguma coisa. O modelo de deslocalização que eles usaram manteve no Japão o essencial do processo produtivo. Não ficaram apenas com as mariquices da moda : o design, o conceito e outras merdas do género, como fizeram nos UUSS e como a Alemanha chegou a fazer (agora está a desfazer). As empresas foram leais ao país e aos operários Japoneses, acharam perigoso para a independência nacional deslocalizar a produção de elementos estratégicos dos seus produtos, confiaram na capacidade superior, know-how, disciplina, dedicação do operário e do engenheiro Japonês e em décadas de conhecimento não escrito desenvolvido numa sociedade com uma indústria centenária.

Por isso aí estão eles, prontos a pagar a crise, odiados pelo governo Chinês, que, como sempre, não consegue mandar neles.

O Ocidente deitou fora tudo isto, em nome do glamour ideológico e consumista idealizado na figura mítica do jovem banqueiro de sucesso, sofisticado e urbano, que em Londres ou NY leva uma vida de actividade profissional frenética, de delírio consumista e hedonista, em busca de uma rápida acumulação de dinheiro.

Os EEUU e o UK foram os mais maltratados mas nenhum país ocidental se safa. A Alemanha já tinha percebido a asneira de deslocalizar a sua indústria e tirá-la das mãos competentes, pacientes e especializadas do operário e do engenheiro Alemães.

Percebeu tarde, perdeu know-how que vai demorar anos a recuperar, mas ainda vale a pena voltar atrás.

Entretanto, fomos todos lixados pelos Yuppies (lembram-se da palavra), que quase destruíram o Ocidente.

Lixados com F grande.

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