Mementa belli
1996, festa de fim de conferência em S.Petersburgo. Apesar das convulsões da perestroika, ainda sobrava algum respeito por uma classe antes considerada de vanguarda e os mafiosos que controlavam a gestão do Palácio da Ciência e Cultura no campus de Petergof haviam abandonado o local à bebedeira dos jovens académicos.
Eu defendia-me com Baltiskayas; Oleg avançava para o quinto quartilho de vodca.
"In Russia, one man, one bottle", tinha sido a picardia com que Anya havia defendido a virilidade dos seus à nossa chegada. Tinha tomado tal por anedota para turistas mas agora acreditava que ali a resistência hepática fazia parte das exibições para acasalamento.
Aos tombos e num alemão sincopado, o uralense franziu a testa e perguntou se alguma vez Portugal havia estado em guerra com a Rússia. Estranhei o despropósito e respondi-lhe que não, não tinha idéia de tal. A sua cara abriu em sorriso e deu mais um gole na garrafa. Riu-se da minha perplexidade e explicou: "os alemães têm sido os meus amigos preferidos; mas a partir de agora, obviamente, serão os portugueses".
Fico hoje a pensar se, talvez por força dos donos da sua história, a amizade simples dos russos, belicosos e fanfarrões, não será sempre feita de rivais e memórias de guerras.
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