domingo, agosto 17, 2008

Desconstrução de uma peta

A propaganda abaixo serve os propósitos da "People for the Ethical Treatment of Animals". Apesar das preocupações em mostra, a PETA (excelente acrónimo para aquele eufemismo pretencioso) não é uma associação ambientalista nem de consumidores e a campanha é um aproveitamento do vegetarianismo para afirmação de supostos direitos dos animais.



A psicologia utilizada nesta propaganda até pode eficaz nas sociedades de supersize. Por exemplo, fiquei surpreendido que possa ser surpresa para o americano médio que "a carne tenha sangue". Mas duvido que por cá, descontando o provincianismo de alguns, conseguisse despertar mais que sorrisos condescendentes.

É certo que a utilização do medo para alterar hábitos de consumo não é novidade. Quando se quer vender antivirais, solta-se uma gripe de aves nos média e o negócio está assegurado. A idéia em transmissão constante é que, para além do nosso sofá, o mundo é um lugar perigoso. Assim, o estilo de vida sedentário, confortável, superalimentado e temente por esta segurança mantém-se receptivo aos pânicos que quisermos engendrar.

A novidade aqui é o uso dessa tática para imposição de um produto (o vegetarianismo) com uma lógica de valores oposta ao sedentarismo. Para o conseguir, foi preciso cuidado onde o medo é aplicado e, sobretudo, balanceá-lo com sentimentos de culpa primários (a proteção das crianças, o conceito de família para os animais, et c.) que não hostilizem o receptor.

Por exemplo, nós sabemos que a gordura de carne e produtos lácteos gordos a mais engordam e aumentam o risco de doenças cardiovasculares. A falta de exercício também. Mas reafirmá-lo seria contraproducente, para além de hostilizar-nos e tornar-nos menos receptivos ao medo. Logo, a mensagem passada é "se não fores vegetariano, ficas gordo e acabas por morrer de enfarte cardíaco". Poder evitar este destino sem sair do sofá é a terra prometida.

Como manipulação brilhante do sentimento de culpa, destaco a razão 4 para ser vegetariano: "porque não deveriamos mentir aos nossos filhos acerca daquilo que comemos". É perfeito: quem mente fica envergonhado; quem não mente descobre-se também mau pai pois é-lhe dito que o normal é esconder esses pormenores traumatizantes. Culpabilizante em dose dupla.

A escolha das imagens também é importante. Como pano de fundo, não se mostra matadouros normais mas uns fragmentos de vídeo descontextualizados e com situações que a lei há muito que já pune. Nada diferente do uso, noutras campanhas, de fotografias de primatas dissecados de há trinta ou quarenta anos atrás.

Claro que nenhum elemento deste spin funciona entre os portugueses, somos demasiado cínicos para cair por tão pouco. Mais difícil ainda seria convencer alguém que em Portugal "peixe também é carne". Aqui, a campanha seria feita pela vergonha, principalmente. Tentando convencer-nos que o modernismo e o progresso são adversos ao arroz de cabidela e que a matança do porco é um acto de bárbaros.
Mas afinal, não é o que já certos grupelhos tentam fazer com as touradas ou com o consumo de bacalhau?


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Vídeo sacado do Hey Hey My My.

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