Sem título III
As autoridades de regulação financeira concluíram que uma exposição de risco é aceitável se fôr assumida por apenas uma ou poucas empresas a actuar no mercado financeiro, mas não é aceitável se fôr assumida por todas.
Isto significa basicamente que, se o objectivo das empresas financeiras fosse preservar a estabilidade dos mercados, por cada empresa que assumisse uma exposição de risco excessiva, teria de haver uma empresa a assumir exposições de risco conservadoras, "para compensar".
Em princípio, as empresas com uma exposição de risco menor teriam menos retorno no curto prazo e, de qualquer forma, o objectivo das empresas que actuam no mercado financeiro não é estabilizá-lo mas sim, ter lucro.
No fundo, o problema da exposição de risco financeiro assemelha-se um pouco ao problema da paragem de carros nas faixas de rodagem de uma estrada.
Um ou outro carro parado atrapalha, mas não impede, a fluidez do trânsito. Se forem muitos carros parados, o trânsito pára.
Entretanto, se não houver regras de trânsito, têm de ser os outros condutores (os que não estão parados na faixa de rodagem) a praticar a "auto-regulação" e a usarem o seu bom senso, abstraindo-se de parar na faixa de rodagem, por forma a não parar o fluxo do trânsito, embora à custa, talvez, do seu interesse pessoal (os primeiros a prevaricar, safam-se, o que é um moral hazzard).
Mas existem regras de trânsito e, normalmente, estas estipulam que é proibido parar nas faixas de rodagem. Em qualquer circunstância. Mesmo que uma eventual paragem não prejudicasse a fluidez do trânsito.
Os condutores têm de aceitar este sacrifício do seu interesse pessoal, coitados.
O bom senso diria que a mesma regra se deveria aplicar na regulação das empresas que actuam nos mercados financeiros. Nenhuma empresa deveria poder assumir um tipo de exposição ao risco que, se assumido por todas as empresas financeiras, conduziria a um risco inaceitável de colapso dos mercados financeiros.
A aplicação de uma regulação baseada nesta regra, provavelmente teria evitado a crise actual e servirá para prevenir outras.
Mas isso implica que os mercados financeiros se passem a reger pelo bom senso e moderação, contrariando séculos de atitudes opostas.
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