domingo, maio 03, 2009

O meu 1.º de Maio

Acordei tarde, já com o desfile na rua, eram oito da manhã em ponto. Tinha decidido não trabalhar, mais por preguiça, gozar a casa nova, que por desrespeito a um feriado que nada me diz, e aproveitei a folga para apreciar a fanfarra, devidamente abotoada a ouro, liderando a pequena multidão de bandeiras vermelhas que passava em frente à minha janela. Arrematando o comboio com alegria, uma brass band de quatro elementos. Digo-vos: fazia um sol glorioso.

Curiosa esta diferença com dias do trabalhador mais meridionais: tirando a música, mais nada se ouvia. As palavras de ordem foram deixadas à responsabilidade das faixas empunhadas e havia mais um espírito de festejo de classe (afinal, é um aniversário) que de luta social.

Quando finalmente decidi sair para o café, voltava aquele movimento que por aqui se vê num típico fim-de-semana pela tarde (grupos de turistas, pares de namorados, o polaco com a lata de cerveja na mesa do jardim), e já pouco vestígio restava da agitação matinal.

A excepção fui eu encontrar cá fora: a porta do prédio, ou melhor, o meu prédio e apenas este, da esquina à junção com o prédio vizinho, estava isolado por cercas de ferro, sem possibilidade de passagem que não fosse a salto.
Na rua ao lado, vigilante, um furgão cheio de polícias. Entre a curiosidade e a indignição, dirigi-me a eles.

-Não se preocupe, pode saltar a cerca.

-Sim, obrigado, mas para quê a cerca?

-Por causa da 'manifestação' (sic).

-Mas a 'manifestação' já acabou!

-São ordens. (sorriso)

-Mas porquê só este prédio?

-São ordens. (sem sorriso)

As "ordens" duraram até à meia-noite, hora em que, ao voltar para casa dei com os chuis a desmontar o sítio. Apanhei um panfleto do chão. Era linguagem violenta, qualquer coisa anarquista, conclamante de acção.

Pus o papelucho no recipiente apropriado. Avancei e levei a chave à porta mas a placa do residente no rés-do-chão chamou-me a atenção. É que, em vez de um nome de família, regra habitual nestas paragens, apenas três letrinhas identificavam o vizinho.
Estava escuro, aproximei mais os olhos.
Escrito a azul-e-encarnado, podia ler-se "F P Ö".

6 comentários:

luís Vintém disse...

F P O??

Aardvark disse...

Devem ser uns Neo-Nazis quaisquer.

Não sabias isso? ;)

dorean paxorales disse...

Tipo.

Ricardo Alves disse...

São teus vizinhos?!

dorean paxorales disse...

afirmativo.
quando meterem conversa, já tenho esta preparada:"estou aqui para roubar as vossas mulheres e despedir-vos dos vossos empregos".

Aardvark disse...

ainda te batem. sorte eles não perceberem Português.