A Decadência
Manchester, actualidade. Seis vintões e vintinhas distintos, moral nenhuma e a busca do prazer sem regras.
Prazer no amplo sentido: o que esta gente, representativa de uma geração, procura não é felicidade (disso serão incapazes) mas a saturação extrema de qualquer receptor neuronal. Da simples obsessão pela moda ao aborto recreativo, o grau de depravação a que os personagens chegam é reminiscente daquele demonstrado na novela-choque de outrora, "A Laranja mecânica", mas ultrapassa-a largamente.
Nem própria linguagem usada, apesar de absolutamente brutal, consegue acompanhar devidamente a descida orgíaca ao vazio daquelas almas desgraçadas.
A história em si até tem moral pois é contada por um jovem do futuro onde a anterior generalização de tais excessos levou à instauração de um estado totalitário. Moral mas sem paninhos-quentes: numa típica perspectiva britânica, onde um americano se despederia redimindo os sobreviventes, Stretch fecha-nos a porta na cara com um "desiste, daqui ninguém sai vivo".
O que mais me interessou nesta leitura foi ver transposto para o papel comportamentos e processos de alienação em adultos de que tenho sido testemunha (graças a deus, não na primeira pessoa) nos últimos anos.
Em resumo, o livro vale muito pela iniciativa dessa transposição. A alguns olhos sensíveis (e felizes), parecerá que Stretch exagerou para chocar e criar polémica que resulte em vendas. Se assim foi nalguns casos, o autor mais não fez que adivinhar a verdade. Como compete ao seu mester, aliás.
Recomendado a menores mas olhem que não é para meninos.
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Friction por Joe Stretch, ed. Vintage, 2008
2 comentários:
Então?
Hoje é sexta feira e faz solinho lá fora...
Cá dentro faz uma cacimba estúpida e enervante.
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