SMS-manif
Como leio pouco, foi pelos comentadores do Corta-fitas (obrigado, comentadores anónimos e não-anónimos e assim-assim do Corta-fitas) que aprendi que as manifestações da classe profissional do estatuto da carreira são virtualmente espontâneas.
Ora, isto dos ajuntamentos espontâneos tem que se lhe diga. No princípio do milénio, quando a flash-mob foi inventada em Nova Iorque, o fenómeno não passava de uma performance artística; espalhava-se a convocação essencialmente por email mas, pela sua natureza, a aparição da polícia tornava-se irrelevante.
Tal como então, a maioria dos participantes de hoje não se conhece de antemão e é primeiro preciso haver uma motivação comum. Depois, tem de haver sincronismo.
A primeira compreende-se; a aposta é feita na solidariedade de classe profissional do estatuto da carreira, 'trabalhadores de todo o mundo, uni-vos' e tal. Quanto ao segundo obstáculo, parece que o pulo é por smss.
Mas aqui a porca torce o rabo: se a malta não se conhece, como é que arranjam os números de móvel uns dos outros? Uma hipótese que me agrada às meninges é que serão sacados no hi5 ou uma chatroom qualquer.
Deleita-me imaginar um prof de Tomar (ou outro sítio assim) à procura de encontros adolescentes acabar por descobrir que trocou números com uma colega solteirona de Massamá (ou outro sítio assim). "Ah!, pois,", exclama ele quando se apercebe do buraco em que se meteu, "o estatuto da carreira docente e tal, não é? Ó colega, e se fizessemos uma manifestação à porta do primeiro-ministro?"
Daí que não me pareça de admirar que a polícia desça ao terreno e desate a identificar aquela gente toda. Os polícias, lá está, não são parvos; muitos têm namoradas ou filhas em idade escolar e, derivado aos turnos consecutivos, eles sabem que não é raro aquelas perambularem na net à procura de um choquezinho tecnológico.
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