sábado, fevereiro 02, 2008

Os Buiças

Sempre que se aproxima um cinco de Outubro, a imprensa vai ouvir doutas vozes falar do idealismo dos republicanos d'antanho e da repressão franquista (sempre associada ao rei).

Essa da ditadura "monárquica" e da "democracia" republicana faz lembrar os comentários pós-eleitorais do velho Cunhal: sempre que o PCP descia, havia derrota das forças "democráticas" e avanço dos "fascistas".

No fundo, compreende-se: já que temos por correcto que só em ditadura se pode justificar uma mudança de regime pela violência, as boas consciências obrigam à diabolização da monarquia e à ladainha do martírio dos cavalheiros em epígrafe e suas nobres intenções.

Noutras paragens, é ao mesmo tempo sintomático e paradoxal que sejam os sectores mais extremistas da esquerda portuguesa aqueles que agora festejam o assassinato do rei: sintomático pois o seu anarquismo, tal como a visão que têm da sociedade, porque meramente literária, é novecentista (essencialmente, fascina-os a violência na morte de uma figura da autoridade); e é paradoxal por esquecer que, após as ridículas escaramuças do 5 de Outubro, o regime passou a partido único, com um PRP totalitário que não hesitou em reprimir (prendendo e matando) os mesmos anarco-sindicalistas de cujas mãos anteriormente se havia servido para fazer a revolução.

Dado que a república "ganhou" (vai fazer 100 anos, parece) só encontro uma justificação para o retorno aos dois grupos de propaganda: o regime actual é mais parecido com a monarquia de 1908 que com a república de 1911. E isso, aparentemente, deve fazer-lhes uma comichão dos diabos.

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(parte desta posta foi publicada inicialmente como comentário a esta outra, no Esquerda Republicana)

3 comentários:

Ricardo Alves disse...

Dorean, a tua visão da história portuguesa é caricata. Leste o VPV e (talvez) o Rui Ramos, e engoliste aquilo. Experimenta ler o outro lado e vais ver que te faz bem.

Por exemplo, essa obsessão do PRP «totalitário» é um perfeito disparate. Houve multipartidarismo durante toda a 1ª República, tirando o sidonismo, que é um entre-acto. E houve sempre sindicatos independentes. Etc.

Estuda mais.

dorean paxorales disse...

Como estudar se nem sei ler bem?
Assim, por exemplo, pareceu-me que escreveste "multipartidarismo" e "1ª República" na mesma linha. Um estudioso afincado desse período da história como tu não teria a desonestidade intelectual de implicar correlações entre termos tão distintos.

Quanto aos sindicatos, obviamente que eram independentes, toda a gente o sabe: não fora assim e não teria havido tanto grevista alegremente preso, alvejado ou simplesmente cacetado pelas milícias populares do mui "democrático" dr.Costa.

Aardvark disse...

Questões Bizantinas...