As feridas dos outros
O Conselho Geral do Poder Judicial e do Tribunal Supremo de Espanha decidiu suspender Baltazar Garzón das suas funções de juiz da Audiência Nacional. O juiz Varela fez horas extraordinárias para que esta decisão fosse tomada o mais depressa possível, evitando assim a ida de Garzón para o Tribunal Internacional de Haia.
A ideia, pelo que se depreende, não era que Garzón deixasse de exercer em Espanha, a ideia é que ele deixe de exercer por completo. Não se trata aqui de justiça mas sim de revanchismo. Esta decisão só vem tornar as coisas mais claras.
Garzón pode com a ETA, com os GAL e até com Pinochet. Mas ameaçar toda a direita espanhola através do caso Gurtel e querer julgar o genocídio franquista revelou-se tarefa demasiado hercúlea, até para este juiz com tomates de aço.
Mas a fúria legalista do Tribunal Supremo (que aceitou as queixas da Falange e de um pseudo-sindicado de extrema direita), serve para deixar à vista de todos que a verdade continua a ser incómoda para muita gente.
A direita espanhola acena ainda e sempre com o argumento de que há feridas que não se devem reabrir. Todos os que usam este argumento deveriam saber que há feridas que nunca chegaram a cicatrizar. Mas não faz mal, são as feridas dos outros.
2 comentários:
pois, por mais que haja taxistas que estrebuchem, o fim do salazarismo é consensual.
mas nem o mesmo se passa em espanha, nem essa raça se fica pelas invectivas. se começas a julgar franquistas ainda acabas noutra guerra civil. não achas?
Não começas a julgar franquistas porque estão todos mortos.
Ninguém quer julgar franquistas, o que as pessoas querem é o reconhecimento de que os crimes aconteceram. As pessoas querem recuperar a dignidade que foi negada aos seus familiares durante todos estes anos.
Querem tirar os familiares das fossas comuns e dar-lhes funerais decentes.
Falar de guerra civil nesta altura é um absurdo porque a Espanha actual não é a de 1980.
O que há é muita, muita gente que possui património confiscado a republicanos e que não quer passar pela vergonha do reconhecimento desses crimes.
O silêncio foi muito cómodo para os vencedores por duas razões: porque é a última humilhação dos vencidos e porque evita que se saibam coisas que a moral (comum) actual não tolera.
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