The Way I Walk
Ícone: signo que reproduz os contornos do objecto. (...) Não diz nada sobre a existência do objecto, mas diz algo sobre a sua qualidade. Um quadro, uma fotografia, comunicam formas exteriores mas não implicam a existência real do objecto.
Charles Peirce
Os eufemismos não se adequam a pessoas como Erick Lee Purkhiser, mais conhecido por Lux Interior, o vocalista dos The Cramps, que morreu ontem de madrugada. Tinha 62 anos.
"Complicações cardíacas", dizia a rapariga da radio hoje de manhã. Um ATAQUE DO CORAÇÃO, portanto. Não, os eufemismos não condizem nada com este senhor.
Lux Interior era um dos maiores ÍCONES da cultura popular contemporânea. O que representava? Representava o ROCK & ROLL: a rebeldia, a espontaneidade, a selvajaria sublime. O ego mais o super-ego e o id, juntos numa orgia sobre uma cama de fakir. Elvis Presley, Charlie Feathers e Link Wray a 300km/hora numa auto-estrada no inferno.
Quando me perguntam qual o melhor concerto que vi na vida, respondo: "The Cramps, Campo Pequeno, 1998". Durante o último tema, Lux Interior já tinha rasgado toda a roupa e entornado sobre si mesmo uma garrafa de vinho. Perante a indiferença cool da esposa e guitarrista Poison Ivy, embalado pela parede sónica de distorção, o vocalista começou a cavar um buraco no palco de madeira com o tripé do microfone. As lascas saltavam. O público estava atónito e em transe. Quando as dimensões lhe pareceram adequadas, Lux saltou e desapareceu buraco dentro, como um Nosferatu que desnasce.
É difícil imaginá-lo a "descansar em paz"...
"Somebody told me you people are crazy, but I'm not so sure. You seem to be alright to me...", dizia Lux Interior aos pacientes, no início do concerto no Hospital Psiquiátrico de Napa, em 1978.
Um homem lúcido a menos sobre a terra.
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