Raio verde
Não andávamos bem. Como sempre, juntámos os nossos dois errados na esperança de, pelo menos, resultar num grande neutro.
Vagueamos muito, sem destino. Acabámos no cabo da Roca, com o céu limpo e o sol a meia-haste. Isso levou-te a contar-me do raio verde e eu, apesar de achar que era conversa de algum namorado da tua adolescência, fingi que acreditava. Tu não, tu acreditavas mesmo e dizias que bastava esperar uns minutos que talvez fosse possível vê-lo.
Claro que eu desejei estar errado. Claro que era um desejo tão impossível quanto insignificante.
Esperamos, unidos, talvez em silêncio. E, momentos depois, pela primeira e única vez, pelo menos para nós, o impossível durou cerca de um segundo e depois desapareceu.
Lembro-me desta história quando me lembro da tua ajuda, da certeza da nossa ajuda. Onde está agora a nossa certeza de que eramos para sempre, minha irmã?
Desculpa. Isto é o egotismo da compaixão, que é o que nos descontrola, e depois a dormência de não me aperceber que nunca mais vamos fazer-nos rir.
Essa dormência, a única vantagem que a distância forçada dá: habitua-nos a uma espécie de presença mais ténue que consegue enganar a brutalidade da morte. Outros (e são tantos, minha querida) vão ser menos felizes.
5 comentários:
Caro dorian, além dos parabéns óbvios por este texto um pedido de desculpas. Não era a si que me referia quando falava da classificação do meu blogue. Mas antes a migos próximos que têm a mania de gozar comigo. Faço alguma gala, confesso, do meu alter ego Carriano. The Suspension of Disbelieve do Coleridge é a parte engraçada de ter um blogue. Gosto das suas visitas e do facto de me ter linkado. Reposta a verdade um grande bem haja!
Não se aplica mas obrigado pela sua simpatia.
Escreveste isto quarta-feira à noite. Já sabias.
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