O ex-espião envenenado a frio
ESTÁ LÁ TUDO: um dissidente do KGB, um restaurante japonês em Londres, um encontro com 'um homem chamado Mario', uma entrega de documentos e um veneno indetectável e mortal.
Se a Guerra Fria não tivesse acabado, seria compreensível que alguém julgasse tratar-se do trailer do novo James Bond, acabadinho de estrear na sexta-feira.
Mas não, é mesmo a sério: até hoje pouca gente havia ouvido falar do cidadão Alexander Litvinenko. Exilado em Inglaterra desde 2000, proclamava andar a investigar o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, em Outubro passado.
Por isso ou não, está agora sob observação em sala limpa, sistema imunitário debilitado pela ingestão de sulfato de tálio.
Litvinenko havia recebido asilo político de Londres por se opôr a Putin e este o perseguir enquanto cidadão. Nomeadamente, impedindo a distribuição do livro em que o antigo agente da KGB e recente do FSB (sigla em inglês para "Direcção Federal de Segurança"), acusava os serviços secretos russos de serem estes, e não os rebeldes chéchenos, os responsáveis pelas bombas que mataram mais de 300 pessoas em prédios de apartamentos em 1999.
Até aqui, o currículo de activista parece impecável. Mas acontece que as dissidências começaram antes, ainda o sr. Putin era apenas o director do FSB. Aparentemente, Litvinenko não foi o mais sucedido dos funcionários no que tocava a combater a corrupção na própria polícia. Mais tarde, em 1998, é acusado de se servir do seu cargo (e é preso por isso) para expôr uma suposta tentativa de assassinato contra o oligarca Boris Berezovsky, actualmente também auto-exilado no Reino Unido.
É certo que é difícil de acreditar que o ex-espião se lembrasse de temperar o próprio sushi só para danificar ainda mais a coxa reputação do presidente russo. Mas há algo de podre nesta história e não é o marisco de Picadilly: gente como Berezovsky foi demasiado lesta a correr para os média para implicar os serviços secretos russos; depois há a visita diária de um 'amigo' comum àquele mafioso a um Litvnenko extremamente debilitado e com guarda armado à porta do quarto.
Se não foi Putin, terá havido troca de favores, num crisscross digno de Hitchcock? Se sim, qual seria a moeda de troca?
Qualquer que tenha sido o mandante, e levando o trocadilho à exaustão, uma coisa parece certa: quem se deita com a máfia arrisca-se a acordar com os peixes.
3 comentários:
Mais uma abordagem muito interessante a este assunto. Certo, certo...é que esta história tem tanto de empolgante como de mal contada.
Se ainda estivéssemos na guerra fria, não tinha havido condições para matar o tipo.
Mas o petróleo, o petróleo...
As bolsas, os BRICs, os investidores, etc.
btw, os terroristas já aprenderam um novo método de matar.
Introduzido numa estação bombeadora de águas, o plutónio não sei das quantas faz maravilhas.
Este mundo está mesmo perigoso.
E falar, mata!
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