Os clones do Clooney
Não me perguntei porquê mas, quando era mais novo, estava em Beja, de visita a uma empresa do ramo automóvel cujo edifício ficava situado às portas da cidade, junto ao entroncamento com a estrada para Serpa, e bateu-me aquele sono de final de tarde na planície e tanto tinha ainda que fazer, e café próximo ali ao redor era mentira.
Notando o meu apuro, o metro e meio de simpatia que era o dono da dita empresa, levou-me até ao "chôrrume" e apresentou-me à máquina de café. Antecipando a amargura, empertiguei-me por dentro. O sr.C., ladino, topou-me e garantiu-me ali que, à primeira, também tinha desconfiado da traquitana.
Bebi o café, excelente, cremoso, forte e essas coisas todas que se pedem de uma bica decente, e às quais ficámos agarrados desde as primeiras saídas na adolescência. O sr.C. tinha razão, aquilo era mesmo difícil de acreditar que não fosse coisa tirada de máquina a sério. E, todo contente em ter convertido mais um, explicou-me qual era o sistema em que funcionava a concessão: a máquina tinha ido para ali à borla, dada pela marca, Tofa-Nestlé, ele só precisava de, periodicamente, lhes comprar o grão.
Eu, que na altura, como já disse, era muito novo e julgava ter olho para o negócio, imediatamente imaginei se não seria uma excelente ideia a vender às pessoas para as casa delas, mas os volumes de café necessários à concessão trouxeram-me de volta à realidade. Apesar disso, o sr.C. concordou comigo, e disse-me que até já tinha sugerido o mesmo aos amigos da Delta, sem conseguir entusiasmar alguém. "Tem que ver com os hábitos de consumo e de vida em Portugal", foi a resposta que lhe deram. "Se tiver uma máquina em casa, que desculpa depois dá para ir lá fora ao café?".
Não sei quanto tempo passou depois disto mas sei o seguinte: estava completamente alheado do fenómeno. De tal maneira que, quando em visita de Natal, passei por uma bicha que saía duma loja no Chiado e dava a volta à esquina, julguei ter chegado à Rússia dos antigos tempos. Mas não era por cápsulas Delta que as pessoas esperavam horas ao frio, claro. Desses, ainda nem máquinas havia à venda sequer.
1 comentário:
Como disse Henry Ford: se tivesse perguntado aos meus clientes o que eles queriam, eles teriam respondido: Um cavalo mais rápido
Enviar um comentário