domingo, fevereiro 07, 2010

Do pluralismo republicano

Por Fernando Rosas, um conhecido historiador de extrema-direita:

«[A República é] Colonial, patriota. Daí a matriz colonialista da República. O primeiro ensaio revolucionário para derrubar a monarquia é o 31 de Janeiro de 1891, precisamente um ano depois do Ultimato.»

«Os carbonários não desaparecem em 1910, transformam-se numa espécie de milícia informal do Partido Republicano, da ala de Afonso Costa, a ala mais jacobina.»

«O Afonso Costa é o homem do equilíbrio orçamental em moldes conservadores, equilibrou o orçamento com a mesma técnica do Salazar.»

«É preciso perceber que nem tudo foi a ditadura militar que começou. A ditadura militar refinou instrumentos que é a República que inaugura, como as deportações sem julgamento para África dos suspeitos de pertencerem à Legião Vermelha, uma organização que não se conhece bem hoje. Alguns são executados sumariamente na rua pela polícia. Apesar de a greve ser teoricamente permitida, houve muita gente morta, sindicatos encerrados, jornais apreendidos.»

Na entrevista do dia 2, este grande talassa ainda tem o desplante de afirmar que o melhor livro que se escreveu sobre o 5 de de Outubro foi o "O poder e o povo" (tese de doutoramento de V.P. Valente).

Posta humildemente dedicada ao Ricardo Alves, com quem me é impossível competir em matéria de leituras sobre a primeira república.

5 comentários:

Ricardo Alves disse...

«Não concordo com o termo "terrorista" [aplicado à Carbonária]. A República foi feita pela massa urbana de Lisboa, a plebe urbana de Lisboa»;

«A Carbonária foi uma organização revolucionária, popular, que conquistou o poder pelas armas, contra um poder oligárquico que tinha criado um sistema institucional que não cairia senão pelas armas. A Carbonária é uma organização decisiva neste período. Tem 20 a 30 mil pessoas organizadas na Grande Lisboa. É uma coisa espantosa, do ponto de vista da penetração de uma organização política secreta na massa urbana de Lisboa! A Carbonária organizava tudo quanto era activo naqueles bairros populares de Xabregas, do Beato, de Alcântara, na Margem Sul. Porque é que na Margem Sul se declarou a República logo no dia 4? Na cintura de Lisboa a Carbonária toma o poder de véspera, sem nenhuma dificuldade. Em Lisboa é que há resistência, é onde está o rei e as Forças Armadas.» (Aquela estória da República proclamada em Lisboa, e comunicada por telégrafo para o resto do país...)

«Existiu uma perseguição aos católicos e aos monárquicos, mas é preciso dizer que os católicos e os monárquicos desde a primeira hora conspiram activamente contra a República! E a República responde.»

«O "terror" é um exagero. Não partilho nada desse ponto de vista.»

«A vitória deve-se a Machado Santos...
E à Carbonária. Ao povo carbonário.

É uma revolução popular.
Completamente. E é uma revolução, não é um golpe de Estado.
» (A tal meia dúzia de «marcianos» que aterraram de disco voador na Rotunda e proclamaram a República depois de terem acesso ao telégrafo...)

Ricardo Alves disse...

Quanto ao resto, três notas rápidas.

1) Toda a gente sabe que a República foi colonialista. Aliás, na Europa da época, todos eram colonialistas, incluindo os trabalhistas ingleses e os radicais-socialistas franceses. Em Portugal não foi diferente. A única defesa da descolonização foi de um ou outro anarquista isolado.

Só depois de 1945 se colocou a questão da descolonização.

Só compreendo, portanto, que os monárquicos insistam na questão do colonialismo por desconhecimento do contexto da época.

2) O equilíbrio orçamental de Afonso Costa foi conseguido à custa da contenção da despesa (a famosa «lei-travão»). Imagino que seja por isso que Rosas aluda à «mesma técnica» de Salazar.

Daqui por umas semanas, vai aparecer um monárquico qualquer a escrever num blogue que Afonso Costa não equilibrou o orçamento. Enfim.

3) Eu não tenho qualquer simpatia pela repressão da 1ª República sobre anarquistas e sindicalistas. E concordo com o Rosas que um dos grandes erros foi ter alienado o apoio do operariado. Mas é absurdo os monárquicos insistirem nesse ponto, até porque antes de 1910 nem sequer direito à greve havia. E porque não os vejo, hoje, a manifestarem grande simpatia pelas FP´s 25, pelas prisões de esquerdistas a seguir ao 25 de Novembro, ou a manifestarem preocupação com as actividades dessa nova PIDE que dá pelo nome de SIS.

Um debate histórico, ou é honesto, ou torna-se numa troca de acusações sem sentido nem alvo.

dorean paxorales disse...

comentário ao primeiro comentário:

so what?
o f.rosas gosta da carbonária, ainda mais quando faz revoluções, e não gosta dos burgueses. só lhe fica bem. e ainda melhor que tal opinião coexista no mesmo texto com a que citei na posta.

comentário ao segundo comentário:
também não sei porque os monárquicos insistem na questão do colonialismo. sugiro duas hipóteses.
talvez porque haja republicanos que julguem a 1.a república o melhor dos regimes do mundo e arredores - à época. segunda hipótese, talvez porque esses monárquicos achem que a política colonial da 1.a república não trouxe nada de novo.
aquilo que sei é que, obviamente, o enviesado do r.ramos não é o único a falar do assunto...

quanto ao costa, que ele tenha ou não tenha equilibrado o orçamento, tanto se me dá e dou de barato que tenha sido um mago das finanças.
mas quando tiver oportunidade, logo leio mais sobre o assunto. tens sugestões? quanto mais variadas melhor, claro ;)

"Um debate histórico, ou é honesto, ou torna-se numa troca de acusações sem sentido nem alvo."

agora é que lixaste. se estiveres a falar de mim, agradecia que me dissesses onde é que eu fui desonesto.

e agora vou voltar a 2010.
abraço.

dorean paxorales disse...

deve ler-se "agora é que ME lixaste".

Ricardo Alves disse...

1) Não sei quem são esses republicanos que acham «a 1.a república o melhor dos regimes do mundo e arredores». Se puderes indicar, agradeço.

2) Se não te interessa o equilíbrio do orçamento, não o deverias ter citado no post.

3) Lê outra vez.