segunda-feira, agosto 15, 2011

Depois não se admirem





A presidente da Assembleia da República não conseguiu parar a tempo o carro, onde seguia sozinha, e embateu numa viatura, que tinha travado para uma idosa atravessar a passadeira. Este veículo acabou por embater num outro, que estava à frente, e este atingiu a mulher, que ficou ferida com gravidade e foi transportada para o Hospital de Faro. Assunção Esteves bem como as restantes pessoas envolvidas no acidente não sofreram quaisquer ferimentos.

Não se podem apurar responsabilidades pela leitura de uma notícia. Também não faz sentido considerar que um mau volante indica falta de capacidade para a condução dos trabalhos no parlamento. Mas, nesta paz podre que vivemos há tanto tempo, ninguém confia que a segunda figura do estado venha a sofrer qualquer consequência por este "azar" de trânsito.

Existem outras democracias onde a senhora se sentiria forçada a demitir-se imediatamente numa situação semelhante. Porque ali nada é mais importante que os representantes mostrarem que agem de acordo com as regras que impõem aos seus representados. Mesmo que isso implique algum exagero ou injustiça pessoal.

Dirão que há muito pior. Pois há. E que a senhora está acima de muitos dos seus pares. Estará, com certeza. Seriam completamente cretinas e ofensivas quaisquer comparações com Alberto Jardim ou Isaltino Morais (a lista seria interminável, que me perdoem os ausentes). Mas, lá está, precisamente por tudo isso. Porque é melhor que eles, porque era preciso mostrar que a "festa" acabou.

Sabemos que governo é jovem e o sentimento geral é que o país precisa mais de dinheiro e emprego e menos de virtudes - um luxo por enquanto inacessível. São estes os pesos e as medidas com que definimos a nossa sociedade. Depois não se admirem.

Ao alto: autocarro no bairro de Tottenham, 6 VIII 2011
Centro: sede do governo norueguês, 22 VII 2011
Em baixo: Kanellos, o cão das manifestações atenienses, 5 V 2011

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