quarta-feira, março 10, 2010

Desiderato



Noite ociosa. Está um frio desgraçado lá fora e há horas que só dão saltos olímpicos na Fernseher.

Ligo o skype. O R. não falha.
Desterrado em Bournemouth, onde partilha casa com outro académico, espera todas as noites pelo online da namorada nova, jornalista anglo-italiana, recém-divorciada, que conheceu durante um fim-de-semana em Londres. Aproveitando o atraso costumeiro, trocamos comentários sobre os current world affairs, como se ainda estivessemos no bar do college, fazendo-nos ouvir por outros, fígado fresco e presunção a condizer.

A conversa acaba por voltar às idiossincrasias da freelancer londrina e, naturalmente, a assuntos de saias em geral. Daqui, chegar ao flatmate seria inevitável. Acontece que está deveras impressionado com a capacidade assustadora que o mesmo tem para arrebanhar mulheres. "Cada noite dorme com outra, seja solteira, casada, ou assim-assim". Faz uma pequena pausa e acrescenta "a semana inteira!".

Dado que nos conhecemos há já alguns anos, não consegui evitar sentir uma pequena picada no ego. Tentei disfarçar (mal) o desconforto, tendo-me saído com qualquer coisa como "De facto, impressionante. Com certeza, pensar em variantes diárias à meia dúzia de rotinas que uma sedução implica deve obrigar a um esforço admirável..."
"Oh, percebeste mal", interrompeu, "o J. não se maça com conquistas. Nem tem absolutamente critério algum para escolher com quem se deita. O truque que revela, orgulhoso, quando insiste em dispensar conselhos, é terrivelmente simples: lower your standards".

2 comentários:

Ricardo Alves disse...

com/certeza

dorean paxorales disse...

e eu preocupado com a "idiossincrasia"... :)