Emigrantes
"Parece que, nos últimos tempos, 70 ou 80 ou 100 mil almas desertaram do país e foram para o estrangeiro procurar melhor modo de vida. O Governo, naturalmente, achará que é uma traição por parte desses cidadãos que se recusam a testemunhar as luminosas etapas do crescimento português."
Francisco José Viegas in Jornal de Notícias, 08-01-07, via Público
Caro F. J. V.,
Não são 100 mil, nem sequer 200 mil; estima-se que só no Reino Unido vivam hoje cerca de 800 mil portugueses emigrados para ali na última década e meia. 800 000. Quase um milhão. Tantos quantos os queridos muçulmanos que tanto barulho fazem no multiculturalismo das notícias copy-paste nacionais.
Fogem aos salários baixos e à inflexibilidade laboral; correm para o operariado temporário mas cumpridor, e para a mobilidade que na pátria evitam como o diabo a cruz. Ali não lhes exigem a alfabetização que abandonaram antes do 9.º ano e não necessitam de concorrer com a exploração de imigrantes ilegais. Se tanto, alguns tornam-se no país de acolhimento eles mesmos os exploradores desses infelizes. À laia de engajador, claro está.
O Grande Porto industrial é quem contribui mais para este derrame: não foi pela beleza das Pedras Rubras que a Ryanair inaugurou essa rota a partir de Londres-Stansted; Norwich, Bolton, só para citar algumas cidades, vivem dos embaladores de carne, dos apanhadores de fruta e legumes com pronúncia do norte. Nas cafeterias do aeroporto de Gatwick não se fala outra língua, da cozinha à mesa do freguês.
Ou ainda alguém acredita que a taxa de desemprego se tem mantido quase constante este tempo todo por milagre de N.Sr.ª de Fátima?
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