domingo, novembro 04, 2007

Pelos bancos de jardim

Aqui há tempos, consultando online os movimentos da minha esquecida conta num banco português saltou-me um débito aos olhos: 12.50 euros por "comissões de gestão de conta". Por trimestre. Ora isto por ano dá... 50! Então eu empresto-lhes o meu dinheiro e ainda tenho de pagar por isso?
Como sou parvo, queixei-me. Por email também (somos todos modernos) a minha gestora de conta, uma 'dra.' Vanessa, respondeu-me dois dias depois, naturalmente ocupada que estaria a justificar os 12.50 euricos angariados (houvera sido mais lesta e eu desconfiaria da veracidade da medida).

Explicou então que a minha conta dava mais trabalho que outras porque eu não recebia o meu ordenado por ela.
Tive de concordar. De facto, isso tornava-lhe a tarefa de gestão mais difícil; como é que uma pessoa pode manipular o dinheiro de alguém sem saber quando e quanto o cliente irá depositar na sua própria conta? Para dor de cabeça já bem bastam as variações dos mercados de derivados.

Ora, na impossibilidade de lhes "domiciliar o meu ordenado", perguntei à Vanessa (isto tudo por email, para não me sair impertinente) o que poderia eu fazer para facilitar a vida ao banco e amenizar o seu dia-a-dia sem que fosse necessário assistir à delapidação compulsiva de parte do meu pecúnio. Assim, meia-hora depois tinha o telefone a tocar - no estrangeiro!: "salamaleques, patati-patatá, as alternativas são simples: aumenta o património ou reforça o seu grau de compromisso para com o banco".

Os montantes aconselhados remetiam as sugestões da excelsa gestora para as seguintes soluções: ou mato uma tia-avó daquelas e deixo a riqueza herdada à guarda do comprovado ladrão ou me endivido até ao pescoço, presumo que com um "crédito à habitação" de alto rendimento, para gáudio dos mesmos agiotas. Pena é que a compra de tês é negócio que nunca me fascinou pois prefiro pagar renda à mui simpática senhoria que aos tubarões do banco. Ademais, gosto muito de todos os meus ascendentes e não me passa pela cabeça fazer mal a ninguém.

Pensei no exercício em cartel que me impede transitar para a concorrência. Flecti nos records de lucro entre as empresas que a banca portuguesa sempre bate todos os anos. Absorvi a prepotência automática com que o cérebro lavado da recém-licenciada em qualquer coisa de inútil atirava propostas ao ar. Despedi-me atenciosamente da dra. mas não me dei ao trabalho de conter o riso. Aliás, duvido que percebesse por que o fazia.

OPAs e fusões não me despertam paixões; que o filho deste ou daquele se livre de compromissos com o dinheiro da batota generalizada também me é indiferente. Mas, não se pode depois ir lá e prendê-los a todos?

E já agora, precisamos da banca comercial para quê mesmo?

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