segunda-feira, janeiro 30, 2012
sexta-feira, janeiro 20, 2012
As «outras»
Há muitos, muitos anos, éramos pouco mais que adolescentes, um amigo extremamente católico dizia-me, com perdão para a sua inexperiência, que uma mulher deveria casar virgem.
Perguntei-lhe se a regra também se aplicava, na sua opinião, aos homens. Que não, claro.
Insisti, "e então, com quem o fazemos? Uns com os outros?". "Oh", disse logo, "para isso, há «outras»".
A mesma lógica - ou moral - parece surgir agora de novo em cabeças não mais progressistas.
Com a economia a retrair, os grandes pensadores da economia pátria, de Catroga a Bessa, insistem na fórmula mágica de carregar o assalariado com ónus da retoma, reduzindo a força laboral à quase escravatura, quer pela redução de salários, quer pela pressão imposta por um quadro legal convidativo ao despedimento. Nada de assustar o desejado "investimento", o qual, como D. Sebastião, um dia há de jorrar, sabe-se lá de onde, se a fé se mantiver no paraíso da iniciativa privada e num futuro de taxas irlandesas.
Mas esta descapitalização forçada da classe assalariada já resulta necessariamente na redução do consumo às necessidades básicas: alimentação, saúde, habitação, transportes (necessidades essas também elas com enorme agravamento fiscal ou de custo).
A pergunta, de novo, surge óbvia: num país onde a maioria da população passa o dia com medo do lay-off e o mês a desejá-lo mais curto, a quem pensam estas bestas que os seus queridos empresários reais ou futuros investidores de sonhos molhados irão vender o fruto fantástico da livre iniciativa e esforço esforçado, suor escorrido do seu rosto dinâmico e criativo?
A resposta cansada seria, de novo, "uns aos outros, não?". Mas, e de novo, nesta troca de favores há um terceiro participante com o qual a inteligência não conta, disposto a salvar o suposto privilegiado da sua incompetência natural. A menina sempre pronta para a festa mas com a qual não é respeitável casar, aquela que renegam em público mas com a qual se deitam em privado e sem a qual, como um vício degradante de pele, não sabem viver, é - ironia banal - o tolhente e odiado Estado.
Posted by dorean paxorales at 23:22 0 consequências
domingo, janeiro 15, 2012
Da competitividade
"Os acionistas escolheram pessoas próximas do poder. Porque é assim, nesta absoluta promiscuidade entre a política e as empresas, que se fazem negócios em Portugal. E depois perguntam: porque não somos competitivos? E sabem como resolver o problema: obrigar os outros a trabalhar meia hora de borla por dia."
Daniel Oliveira, in Expresso e Arrastão
Posted by dorean paxorales at 23:06 0 consequências
sábado, janeiro 14, 2012
Separados à nascença 583755
Posted by dorean paxorales at 16:51 0 consequências
Categorias: separados à nascença
quarta-feira, janeiro 11, 2012
Na La-La-land
Na La-La-land, os maus primeiro-ministros são tão maus, mas tão maus, que criam recessões mundiais
Na La-La-land, os bons primeiro-ministros são tão bons, mas tão bons, que mandam os seus cidadãos emigrar
Na La-La-land, os neo-liberais vendem propriedade do estado a estados comunistas e chamam ao resultado "privatização"
Na La-La-land, (ex-)governantes neo-liberais passam a soldo de uma potência estrangeira enquanto governantes neo-liberais (atuais) garantem que já não são da família (feliz)
Na La-La-land, a putativa ex-futura-primeiro-ministra diz ao vivo e a cores aos septuagenários com necessidade de hemodiálise "que a paguem"
Na La-La-land, o futebol está acima da lei - qualquer lei
Na La-La-land, responsáveis pelo planeamento irracional do metropolitano são nomeados responsáveis pela racionalização dos transportes públicos
Na La-La-land, a capital tem apenas 500 mil eleitores mas os seus passeios estão cobertos com milhões de carros
Na La-La-land, chefes de serviços secretos, responsáveis por investigar tráficos de influências e ameaças ao estado, traficam influências eles próprios em prejuízo do estado. Na La-La-land, só os guardas analfabetos são julgados por traição.
Na La-La-land, o Medina Carreira dá entrevistas
Na La-La-land, há cem anos que os senhorios subsidiam o estilo de vida dos inquilinos
Na La-La-land, prédios com cem anos caem de podre e ninguém percebe porquê
Na La-La-land, merceeiros de produtos importados dão lições de patriotismo a maus primeiros-ministros
Na La-La-land, os bons primeiros-ministros consideram indivíduos destes "investidores" e "compreendem" as suas atitude em relação aos impostos
Na La-La-land, as crises não impedem a atribuição de mais licenças para mega centros comerciais
Na La-La-land, há quem ataque a nova ortografia sem nunca ter sabido usar a antiga
Na La-La-land, os cardeais criticam a “influência direta” da Maçonaria em “coisas políticas” sem se rir
Na La-La-land, uns confundem governos regionais com autocracia, outros ilhas inteiras de gente com autocratas
Na La-La-land, o chefe de estado tenta todos os dias convencer-nos de que é autista mas ninguém se importa muito com isso
Na La-La-land, a licenciatura de um primeiro-ministro é assunto de importância nacional. A menos que esse primeiro-ministro se chame Coelho
Posted by dorean paxorales at 20:54 3 consequências
Categorias: la-la
sábado, janeiro 07, 2012
Os utilitários citadinos preferidos dos portugueses
Nove em cada dez yummy-mummies leva os fedelhos à porta do Bom Sucesso*, literalmente, montada num destes paquidermes. É que se estacionam em qualquer lado - literalmente.
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* "fundação obra social", dizem no sítio, com propinas de 3000 euros por ano.
Posted by dorean paxorales at 16:31 0 consequências