sábado, setembro 20, 2008

Os privados fazem melhor, o quê?

As empresas privadas são mais bem geridas que as empresas e organismos públicos?

Toda a vida trabalhei em empresas privadas e foram mais os exemplos de má gestão do que de boa.

A diferença é que as empresas e organismos públicos têm de segurar os interesses do estado e do governo, que não se coadunam com os conceitos privados de eficácia de gestão.

As empresas privadas são bem geridas, quando são, porque precisam de ter lucro, senão a empresa vai à vida. Mas para se ter lucro nem sempre se precisa de uma boa gestão (boa gestão não se trata de se conhecer muita gente rica e importante, embora isso conte muito, claro, nos lucros de uma empresa). Isto é assim nas empresas "normais".

Se se tratar de uma empresa do sector financeiro: banco, seguradora, etc, ou empresas estratégicas na economia e na organização da sociedade, pode-se ter má gestão e prejuízos à vontade porque, se as coisas derem para o torto, o Estado paga.

Isto é, nós. Os que sofremos diariamente a retórica absurda de que somos pouco produtivos, trabalhamos poucas horas, temos muitas férias, etc. etc.

Os campeões dessa retórica são geralmente os analistas, professores de gestão e de liberal sciences.

Os professores de Gestão e de Economia dão aulas nas faculdades para onde agora, a seguir a Medicina, os melhores estudantes Portugueses aspiram a entrar, horrorizados, claro, com a proletarização da Engenharia (isto também devia dar que pensar).

O prémio máximo do labor estudantil para os melhores alunos dessas faculdades é um emprego em Londres ou Nova Iorque num banco de investimento conhecido, ou numa das 4 grandes consultoras, ( que também empregam engenheiros e podem ser as próximas a cair, embora por razões diferentes mas relacionadas com a gestão).

Estes empregos podem ser extremamente bem remunerados, são considerados extremamente duros e exigentes mas são(eram?) a escola necessária para criar o curriculo para aspirar a vôos mais altos e aos melhores salários do planeta.

"Curiosamente", foi a má gestão (na verdade foi a ganância, a desonestidade e a falta de honra, arvoradas em ciência pelos teóricos da gestão, do marketing e da psicologia normativa) que derrubou esses bancos, escolas dos melhores gestores do mundo (ou melhores escolas de gestão do mundo).

Há algo de profundamente errado neste ciclo. (Origem: o empobrecimento inexorável do Ocidente num mundo globalizado e a tentativa fútil e, na verdade, suicida, de o contrariar apostando na valorização de activos financeiros)

Onde os gestores privados falharam, lá vêm os gestores púlicos tomar conta da situação, com o dinheiro público, meu, que não ganho um centésimo do que ganham esses maus gestores.

O mesmo aconteceu em Portugal há bem pouco tempo. Lembram-se?

Seguindo a lógica falaciosa dos propagandistas do regime, deveria concluir-se que os gestores públicos são afinal melhores do que os melhores gestores privados.

Mas eu não vou por aí.

O capitalismo não morreu nem vai morrer, principalmente para quem confunde erradamente capitalismo com economia de mercado.

É o Ocidente que está em acentuada e rápida decadência.

Para mitigar essa decadência é preciso:
1. Destruir o marketing e a propaganda que eregem o capitalismo, na verdade, o monetarismo, como a panaceia da felicidade global. O maior problema da propaganda é que é impossível um ser humano criar uma realidade fictícia sem passar a acreditar e a ser vítima dela ao fim de algum tempo. (Acabemos com perversões do tipo: "O capitalismo é o pior de todos os sistemas exceptuando todos os outros". Churchill disse isso da Democracia e o capitalismo não é Democracia: não há Democracia sem capitalismo, mas há muito capitalismo sem democracia e há até capitalismo com comunismo, o comunismo daquele tipo que nunca é criticado nos blogues, apesar de também ter gulags, etc)
2. Voltar a cultivar a honestidade, a honradez e a integridade, no sentido estrito dos termos.
3. Tornar os governos independentes das empresas. Só assim podem ser bons reguladores
4. Aceitar com naturalidade as intervenções do estado na economia e restrições ao livre comércio que sejam consideradas necessárias para assegurar a liberdade de acção e independência dos países ocidentais
5. Aceitar que vamos ficar mais pobres. Todos! Não só aqueles que não se conseguem "safar" tão bem.
6. Lembrar que só a Democracia e a Liberdade podem garantir que o estado não vai abusar nas suas intervenções
7. Lembrar que a susbtituição do papel do estado pelas empresas É uma ameaça ás liberdades individuais: as empresas vão SEMPRE usar a informação dos seus clientes em benefício próprio, vão sempre controlar menos o acesso indevido à informação, irão sempre abusar de informação privilegiada em benefício próprio.

E nunca esquecer:

Democracia e capitalismo (liberalismo económico) NÃO SÃO A MESMA COISA. A Democracia não tem vivido sem o capitalismo mas o capitalismo tem vivido muito bem sem Democracia.

Mercado e capitalismo NÃO SÃO A MESMA COISA. É verdade que a economia das democracias tem sido capitalista mas a economia de mercado é a forma natural de comércio entre os humanos.

O capitalismo é uma empolação financeira que gera crescimentos adicionais da economia mas que precisa de ser regulado eficazmente para que se evitem crises que destruam a vida dos indivíduos antes que os mecanismos de recuperação recomponham as coisas.

As crises do capitalismo podem também destruir a economia de países, a sua idependência e retirar aos seus cidadãos a sua Liberdade e felicidade. Essa não é recuperada pelos mecanismos de regulação!

Democracia e Liberdade de expressão são bens raros na história da humanidade. Apenas uma reduzidíssima minoria dos seres humanos pôde fruir das suas vantagens e da segurança e felicidade que proporcionam (e da responsabilidade que exigem).

São também o maior legado do Ocidente à Humanidade. Há que protegê-lo a todo o custo. E essa protecção começa no próprio Ocidente, agora que os senhores da Humanidade vivem em ditaduras, nomeadamente naquelas ditaduras comunistas que nunca são lembradas nem criticadas nos blogues. Talvez por serem tão poderosas. Por isso há tantos anti-comunistas que as servirão de bom grado, se disso tirarem vantagens económicas e poder pessoal.

A Economia e a Política misturam-se. Sempre. Não há uma sem outra.

Nenhuma política de sucesso deixa de lado a situação económica.

Nenhuma evolução económica deixa de influenciar a política.

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