quarta-feira, dezembro 13, 2006

Vou para casa...


... Até para o ano.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Separados à nascença? (2)

As golden shares dos outros


Dizia eu, num comentário a uma posta de André Azevedo Alves do Insurgente (transformado apropriadamente em posta própria para que seja lido pelo menos por mais de três pessoas):

"A fábrica belga [da VW] fechou para que o neto de Porsche não tivesse que despedir ninguém na Alemanha. Não por acaso, acontece que o land da Baixa-Saxónia detém 20% da empresa e direito de veto na administração: uma pequena golden share da qual [o governo estadual] faz uso quando entende que estão em causa os interesses dos seus próprios accionistas, perdão, cidadãos."

Nota: o contexto pode ser lido também aqui.

O Pravda em Português


Entre a informação pertinente e a opinião descomplexada, um polvilhar de fotos 'de interesse humano' pelas páginas, acompanhadas por respectiva e sucinta estória; nunca o 'Verdade' fez tanta justiça à composição da sua alegoria.

Sem dúvida, um exemplo de imprensa a seguir e a prova que o capitalismo também trouxe coisas boas à Rússia.
Eu fiquei fã: o Pravda em Português, aqui.

Foto: sessão aeromoças da Varig © Playboy Brasil, 2006

"Um post à Lobo Antunes"

"- Que te disse a Vitória? perguntas entre duas rotações da Bimby e da cebola a refogar como se a tua voz fosse Deus poderoso e omnipresente
- Que te disse a Vitória? e eu, faço-me de parvo e respondo como se fosse a primeira vez dessa noite
- Que te disse a Vitória? e eu lembro-me da Tia Rosa - És a minha cruz! Não era eu. Era ele, aconchegado na cadeira da sala e no gato pardo, com vista para a Fábrica onde moeu os ossos e o cacau - És a minha cruz!
- Que te disse a Vitória? ainda ontem te disse… lembro-me como se fosse hoje. Só não me lembro do almoço do teu dia de anos faz agora anos.
- És a minha cruz! dizia a Tia Rosa."



Com a devida vénia ao Quionga 6

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Começo da arenga que iremos dar aos nossos netos


"Quando eu tinha a tua idade, Plutão era um planeta..."

"12.º ano geral garante menos emprego que 9.º"

Adianta-nos hoje o DN, num artigo que analisa a causa directa do descrito na reportagem referido na posta anterior. Porque o título é uma falácia que esconde o que só aparece no final do texto: o emprego para quem só tem a escolaridade obrigatória é pouco vinculativo e mal-pago. Apesar de insatisfeitos, a razão por que se notam menos trocas de posto de trabalho nesta faixa deve-se ao facto de quem o tem não ter qualquer alternativa ao mesmo.
A não ser, claro está, emigrar.

"Ninguém controla os anúncios que prometem salários de sonho no estrangeiro"

Obrigatório lêr o destaque dado hoje no Público à emigração moderna dos portugueses.

domingo, dezembro 03, 2006

O caso Litvinenko

Um pobre diabo com ilusões de grandeza, a viver em Londres às custas de um mafioso russo, tencionava chantagear os serviços secretos russos em 10 000 libras quando foi assassinado com uma quantidade de polónio radioactivo no valor de 20 milhões.

Acredite quem quiser.

Quem tramou o 1.º de Dezembro?


Sem televisão que me acuda, percorro as edições de sexta-feira na internet mas, para além do fait-divers monárquico da praxe (1), só uma notícia "séria" aborda a causa responsável pelo fim-de-semana prolongado.
Como quase tudo o que se tornou referência no Portugal de hoje aquela faz matéria de um espanhol: Rafael Valladares, historiador, e autor do livro "A Independência de Portugal - Guerra e Restauração 1640-1680".

Porquê?...

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(1) Não é nenhum espanto que a ocasião que celebra a restauração da independência seja aguerridamente celebrada por monárquicos e ostensivamente desprezada por republicanos. Aos primeiros, já nada mais resta senão a evocação do passado e da última dinastia; por outro lado, a frente revolucionária que triunfou no cinco de Outubro reunia as mais variadas facções que se opunham ao regime, de nacional-socialistas a democratas e anarco-sindicalistas, mas incluía também os iberistas herdeiros de Antero de Quental.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Conspiração a mais?

"TOO MUCH CONSPIRACY?" no original, por Peter Barron, editor do programa televisivo Newsnight, BBC2

"Para onde quer que se uma pessoa se volte hoje em dia dá de caras com teorias da conspiração.

Recentemente, emitimos no nosso programa uma peça do cineasta Shane O'Sullivan no qual se mostrava um novo vídeo provando que três agentes da CIA estavam presentes na noite em que Bobby Kennedy foi assassinado.

Imediatamente, a revelação gerou um debate apaixonado na internet. Depois, temos os assassinatos de Pierre Gemayel and Alexander Litvinenko, e as teorias abundam. Também o relatório de Lord Stevens acerca da tão teorizada morte da Princesa Diana está para sair ao público proximamente, e quase todos os dias emails e ficheiros anexos aterram nas nossas caixas de correio electrónico apontando para alegadas discrepâncias na versão oficial do 11 de Setembro, com títulos como 'The South Tower Napalm Bomb Seventh View'.

Embora tenhamos toda a vida convivido com teorias da conspiração acerca de quase tudo, a internet permitiu-lhe tornar-se uma indústria de crescimento tão explosivo quanto intrigante. Mas quanto de tanta rama deveria ser levada ao público?

Quando Shane veio até nós dizendo estar na posse de novas provas no caso Bobby Kennedy, a minha primeira reacção foi 'hã-hã, certo...', mas quando ele me mostrou o material em causa, incluindo o testemunho de de antigos colegas que identificaram os tais três agentes, fiquei convencido de que, pelo menos, as suasprovas trazem novas questões em relação ao sucedido - sem ser preciso acreditar totalmente numa grande teoria que explique exactamente o que se passou.

Ontem à noite, conversei com um cineasta amador que me confessou a sua crença no encobrimento dado pelos relatórios oficiais do 11/9 e do 7/7. Por que razão, perguntou ele, a BBC não descreve as inúmeras contradições e factos estranhos que rodeiam os relatos destes acontecimentos tão significativos?

De facto, no Newsnight temos até examinado brevemente algumas destas informações, mas estamos conscientes de que mal roçamos a superfície dos icebergues de material que flutuam pela web.

E a razão por que não fomos mais longe na investigação é que, seguramente, e por mais intrigantes que se mostrem algumas circunstâncias, não existe nenhuma outra explicação racional para os ataques que não seja que estes foram perpetrados por dois grupos de terroristas islamistas.

Eu diria que o facto de uma teoria da conspiração ser criada à volta de uma história não é motivo suficiente para levá-la a público ou rejeitá-la.
Vejam, por exemplo, as histórias acerca do fósforo branco em Fallujah e o 'Código de Da Vinci' de Dan Brown. Uma verdadeira, a outra lixo. Mas teria sido um erro tremendo ter decidido numa direcção ou noutra sem ter, pelo menos, deitado uma olhadela por ambas."

quinta-feira, novembro 30, 2006

"Eles"

A causa das queixinhas, entre muitas outras, por José Pacheco Pereira, no Público de hoje (via Tomás Vasques, no Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos:

(...)"Mas Jorge Silva Melo está (como eu) entre dois mundos: o que gostamos é o que desgostamos. Nas suas memórias entrevistadas está uma contradição que não se sabe resolver. Ele gosta da "plebe", da "canalha" de Gomes Leal, da malta suburbana que fala o português do Kuduro, e queixa-se ao mesmo tempo de que ninguém vai ao teatro nesta "não-cidade" em que vivemos. Claro que ninguém vai ao teatro, claro que acabaram os cafés (pelo menos em Lisboa), claro que se desertificaram os bairros, claro que acabou a Lisboa dos anos 60, tão íntima como provinciana, onde éramos os absolutos cosmopolitas, exactamente porque os filhos dos deserdados das cheias, os filhos dos operários do Barreiro, os filhos das criadas de servir, os filhos dos emigrantes de Champigny, os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Alcântara mandam no consumo e o mundo que eles querem é muito diferente. Eles entraram pelos cafés dentro e transformaram-nos em snackbars e em lanchonetes, entraram pelas televisões e querem os reality shows, entraram pela "cultura" e pela política e não querem o que nós queremos, ou melhor, o que nós queríamos por eles. O acesso das "massas" ao consumo material e "espiritual" faz o mundo de hoje, aquele que é dominado pela publicidade, pelo marketing, pelas audiências, pelas sondagens. É um mundo infinitamente mais democrático, mas menos "cultural" no sentido antigo, quando a elite, que éramos nós, decidia em questões de bom senso e bom gosto.
E agora? Queríamos que "eles" tivessem voz e agora que a têm não gostamos de os ouvir, quando o enriquecimento revelado por todos os indicadores económicos e sociais dos últimos 30 anos transformou muitos pobres na actual classe média, "baixa" como se diz na publicidade, nos grupos B e C das audiências. Nós queríamos que eles desejassem Shakespeare e eles querem a Floribella, os Morangos e o Paulo Coelho. E depois? Ou ficamos revoltados ou pedagogos tristes e ineficazes, ou uma mistura das duas coisas. Nós ajudámos a fazer este mundo de mais liberdade e mais democracia, que o é de facto. O 25 de Abril foi o que foi porque a geração de 60 o fez assim. Se os militares tivessem derrubado Salazar nos anos 40 ou Delgado o tivesse feito em 1958, o país seria certamente muito diferente." (...)


Ah pois seria, com toda a certezinha absoluta. Só Sepúlveda se poderia admirar de haver aqui polícias que o lêem.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Queixinhas

No seu Origem das Especies, Francisco Jose' Viegas sobre a politica dos portugueses para a cultura:

"A arte da queixa funciona na perfeição. Ontem, era atribuída ao Estado a culpa de não haver um programa de livros -- nem na televisão nem na rádio. À minha frente."

"Outra das falácias é a do deserto de programação cultural. Que há poucas coisas a acontecer. Que Porto e Lisboa, etc, etc, etc, não têm actividades culturais bastantes. Esta gente não tem juízo. Leiam os jornais, os boletins municipais, os blogs, os sites, tudo isso. Não me lixem."


O negrito e' meu.

segunda-feira, novembro 27, 2006

E eu não disse? (*)

Vá lá. Desta vez demoraram uma semanita.

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(*) Posta imediatamente anterior.

terça-feira, novembro 21, 2006

O lobby nuclear

Agora que voltaram a anunciar pela enésima vez que sempre se vai construir o ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor, no original) em Cadarache, espera-se a todo o momento mais uma entrevista do inenarrável Patrick Monteiro de Barros à imprensa do seu coração.

domingo, novembro 19, 2006

O ex-espião envenenado a frio



ESTÁ LÁ TUDO: um dissidente do KGB, um restaurante japonês em Londres, um encontro com 'um homem chamado Mario', uma entrega de documentos e um veneno indetectável e mortal.

Se a Guerra Fria não tivesse acabado, seria compreensível que alguém julgasse tratar-se do trailer do novo James Bond, acabadinho de estrear na sexta-feira.

Mas não, é mesmo a sério: até hoje pouca gente havia ouvido falar do cidadão Alexander Litvinenko. Exilado em Inglaterra desde 2000, proclamava andar a investigar o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, em Outubro passado.
Por isso ou não, está agora sob observação em sala limpa, sistema imunitário debilitado pela ingestão de sulfato de tálio.

Litvinenko havia recebido asilo político de Londres por se opôr a Putin e este o perseguir enquanto cidadão. Nomeadamente, impedindo a distribuição do livro em que o antigo agente da KGB e recente do FSB (sigla em inglês para "Direcção Federal de Segurança"), acusava os serviços secretos russos de serem estes, e não os rebeldes chéchenos, os responsáveis pelas bombas que mataram mais de 300 pessoas em prédios de apartamentos em 1999.

Até aqui, o currículo de activista parece impecável. Mas acontece que as dissidências começaram antes, ainda o sr. Putin era apenas o director do FSB. Aparentemente, Litvinenko não foi o mais sucedido dos funcionários no que tocava a combater a corrupção na própria polícia. Mais tarde, em 1998, é acusado de se servir do seu cargo (e é preso por isso) para expôr uma suposta tentativa de assassinato contra o oligarca Boris Berezovsky, actualmente também auto-exilado no Reino Unido.

É certo que é difícil de acreditar que o ex-espião se lembrasse de temperar o próprio sushi só para danificar ainda mais a coxa reputação do presidente russo. Mas há algo de podre nesta história e não é o marisco de Picadilly: gente como Berezovsky foi demasiado lesta a correr para os média para implicar os serviços secretos russos; depois há a visita diária de um 'amigo' comum àquele mafioso a um Litvnenko extremamente debilitado e com guarda armado à porta do quarto.

Se não foi Putin, terá havido troca de favores, num crisscross digno de Hitchcock? Se sim, qual seria a moeda de troca?

Qualquer que tenha sido o mandante, e levando o trocadilho à exaustão, uma coisa parece certa: quem se deita com a máfia arrisca-se a acordar com os peixes.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Imigração

O Reino de Espanha passou de 3 milhões de desempregados nos anos oitenta para um mercado de trabalho em que os imigrantes, segundo um estudo governamental resumido no DN de hoje, foram responsáveis por metade do crescimento económico e metade do excedente das contas públicas nos últimos anos.

No Reino Unido já se sabe disto há muito tempo, daí que, e por piores defeitos que tenha, seja sempre o primeiro país a aceitar a entrada de trabalhadores dos países provindos dos vários alargamentos da União, sem os pudores que outros demonstram.

E nós por cá, como é? Lá vamos convivendo e sofrendo com o déficite, entre o boato mentecapto sobre lojas chinesas, o ucraniano ilegal que assenta tijolos nas obras públicas, o Valentim Loureiro e o perdão de dívidas fiscais à banca.

Quando não aguentamos mais a depressão emigramos. Geralmente para um de dois ou três reinos.

terça-feira, novembro 14, 2006

"Who's Rumsfeld?"

Foi a pergunta do cabo dos marines James L. Davis Jr., colocado em Zagarit, Iraque.

domingo, novembro 12, 2006

O maior Português de sempre

Dizem por aí que os melhores classificados na eleição do maior Português de sempre são Cunhal, Salazar e D. Afonso Henriques.

Eles formam o elenco daquilo que seria a melhor eleição presidencial de sempre:

Cunhal como candidato da esquerda,

Salazar como candidato do centro,

D. Afonso Henriques como candidato da direita.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Big Uncle is watching you

É só fazer o registo de endereço de correio electrónico e à noite já pode andar pelos bares a dizer que trabalha para o governo americano.

Aqui Texas Border Watch.

segunda-feira, novembro 06, 2006

A invasão do Irão

Qual é a hipótese mais viável para uma invasão do Irão pelos EEUU e forças aliadas?

Olhando para um mapa a primeira ideia que vem à cabeça é alcançar Teerão ladeando as margens do Mar Cáspio, a partir do Azerbaijão e do Turquemenistão. Acontece que os EEUU não têm bases no Azerbaijão e têm apenas um reduzido apoio logístico no Turquemenistão.

Para além disso, no primeiro caso, há que vencer umas quantas montanhas de mais de 2000 metros de altitude, o que não favorece um exército mecanizado e high-tec como o Americano na luta contra um inimigo primitivo mas numeroso e determinado.

Em alternativa ao Turquemenistão surge o Afeganistão onde a NATO já tem as bases logísticas necessárias ( à ocupação ).

Acontece que entre o Afeganistão e Teerão existem também umas quantas montanhas, um par de milhares de quilómetros e o deserto estéril do Khorassan.

Por aqui só, não basta.

A partir do Paquistão as condições são semelhantes às do Afeganistão mas para pior: piores bases, maior distância, desertos ainda mais secos.

Sobra a Turquia e o Iraque.

A distância é bastante menor a partir do Iraque, principalmente se se usar o caminho do passo dos Montes Zagros mas, em qualquer dos casos, a distância e a quantidade de obstáculos montanhosos a vencer é demasiado grande, mesmo para o exército Americano, principalmente quando tem a retaguarda Iraquiana ameaçada.

Esta análise parece demonstrar, no entanto, que as melhores hipóteses de invasão são mesmo a partir do Iraque e do Afeganistão.

Does it ring a bell?

Em 2003, Bush apregoou aos quatros ventos o eixo do mal, curiosamente composto por
três países: Iraque, Coreia do Norte e Irão.

Surpreenderam-se na altura com o Irão. Agora já não se surpreendem.

Já na altura se escrevia em surdina que a Coreia era para disfarçar e que o ataque ao Iraque era uma preparação do ataque ao Irão, dado que os EEUU precisavam de um bom trampolim para o ataque e o Iraque era o melhor de todos eles.

Com as dificuldades actuais no Iraque considera-se que a conquista de Teerão é uma empresa arriscada.

Isto é óbvio!

Mas há algo de menos óbvio para os distraídos. Um ataque terrestre que vise vergar a vontade do regime Iraniano não necessita de ter Teerão, rodeada por montanhas e desertos, como alvo principal.

A estratégia anfíbia da Inglaterra Vitoriana ditaria um ataque ao ponto fraco do inimigo de molde a forçá-lo a negociar em condições desfavoráveis.

No caso do Irão, este ponto fraco é a planície do sudeste Iraniano, fronteira ao Iraque e ao golfo Pérsico e fonte da maior parte do petróleo Iraniano.

A tomada desta região é menos perigosa e é um golpe sufocante na economia Iraniana.

A base mais óbvia para este ataque é também o Iraque mas um ataque anfíbio também servia. Os EEUU têm os meios para o efectuar.

O maior contra é o facto de hoje em dia ser extremamente difícil obter o efeito de surpresa exigido por este tipo de operação.

As baixas iniciais seriam também bastante elevadas.

Mesmo assim, com medidas de decepção inteligentes, seria possível enfraquecer e baralhar as defesas.

A invasão do Iraque não era necessária.

A invasão do Iraque está a provar ser insuficiente.

O argumento do Iraque como trampolim para o Irão está a voltar.

Não o engulam.

domingo, novembro 05, 2006

Fora de prazo: sondagens

Sempre achei uma certa graça que só em Portugal existisse esta discussão endémica em torno da união ibérica. Como disse Eduardo Lourenço, "temos um excesso de identidade", e parece ser com desenfreada volúpia que nos atiramos frequentemente para a miragem da sua dissolução.


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Dos livros de História (Mattoso? O. Marques??):
"(...) Nobreza e clero venderam-se porque se achavam geralmente desprovidos de fundos. Ao mesmo tempo receavam motins populares ... para a grande burguesia, também, a União Ibérica só traria um fortalecimento do sistema financeiro do Estado, e portanto uma protecção ... significaria igualmente a abertura dos novos mercados e a supressão das barreiras alfandegárias".

Self-righteousness

Há dois géneros de pessoa que me arrepiam: as que se levam demasiado a sério e aquelas que não levam a sério ninguém. As primeiras estarão em minoria mas o que mete mais medo é que se alimentem dos despojos das segundas.

O Alentejo não é paisagem

Serviço público de internete

Segundo cita o Portugal dos Pequeninos, há três homens da nossa História que se arriscam ao apodo de Grande Português pela graça de Maria Elisa e vontade da massa histriónica.

A pergunta é: qual dos defuntos afirmou um dia "enquanto houver um português sem pão a revolução continua"?

Ganha quem acertar no menor número de respostas.

sábado, novembro 04, 2006

Idade dos porquês

Por que é que não há guerras por causa de temperos se um litro de azeite é 5 vezes mais caro que um litro de gasolina?

E o prémio A melhor alcunha dada a colunista do DN vai para...

... "O abominável colunista das Neves",

por João Gundersen, no Arco do Cego.

Dependência Nacional

Alerta de Paulo Gorjão no Bloguítica:

"Nuno Ribeiro da Silva alertou para o perigo da dependência portuguesa face ao exterior em termos de tecnologia e matérias-primas. «Já não é só uma questão de dependência de energia é todo o segmento de bens, serviços e equipamentos», salientou o presidente da Endesa Portugal (DE, 3.11.2006: 17).
.
Pelo sim e pelo não, alguém poderia fazer o favor de alertar Manuel Pinho?"


Fui vêr. Não era orvalho. Era mesmo a Endesa, a empresa espanhola para a qual foi encomendado o MIBEL.

Isto para a parte A da afirmação; para a parte B, descubra a diferença nos parâmetros das aplicações do servidor usado pelo Diário Económico.

Gödel chamaria a isto uma metadependência.

terça-feira, outubro 31, 2006

Caro Anónimo

"Faça-se um referendo sobre quem pode e não pode ter colunas em orgãos de comunicação privados! Já! E depressa!"

Oh meu caro anónimo.

O seu fanatismo ideológico e a sua, digamos, "falta de agilidade" intelectual, a conclusão manipuladora e o tom ameaçador da mensagem não me surpreendem.

Fica uma lição que lhe dou. Resta-lhe depois descobrir quem eu sou, apanhar-me na rua e dar-me uma tareia, ou pior. Uma atitude consequente com a sua forma de estar na vida:

Eu defendo a competição típica de uma economia de MERCADO e não a corrupção típica de um capitalismo MONOPOLISTA.

Para além disso, vivo num país onde a liberdade de expressão é SUPOSTAMENTE protegida.

Os jornais PRIVADOS, precisam de RECEITAS. Estas RECEITAS são, directamente ou indirectamente, pagas por LEITORES.
A não ser, claro, que estes jornais sejam financiados para servirem como meios de PRESSÃO e PROPAGANDA, ao bom estilo Comunista, ou Nazi, escolha o que prefere.
Se os leitores o consentirem, essa será muitas vezes a escolha dos ACIONISTAS.


Num regime LIBERAL e de MERCADO, tenho todo direito de fazer as críticas que fiz e de dizer aos LEITORES dos ditos jornais:

Vocês ( e eu ) PAGAM aqueles jornais. Tenham uma coisa em conta: perguntem-se sobre qual o critério para que fulano ou sicrano escreva lá regularmente: quem é, o que o recomenda, onde estudou e quem lhe pagou os estudos, quem lhe paga o ordenado, em que grupos de interesse se move.

Sobre o conjunto de colunistas de um jornal interessa perguntar quão representativos são dos variados sectores e grupos de interesse da sociedade.

A tão afamada CORRUPÇÃO também passa por estas coisas!

Depois de fazer esta análise passei a comprar cada vez mais os jornais económicos.

Com dinheiro não se brinca e a propaganda é perigosa: é muito difícil mentirmos aos outros sem acabarmos a mentir-nos a nós próprios.

Se mais fizessem como eu talvez as escolhas de colunistas fossem mais cuidadosas e talvez os nossos jornais, ditos generalistas, reflectissem um leque de opiniões mais variado e não se ocupassem a dar credibilidade a certas ideias e pessoas, descredibilizando outras, talvez menos convenientes e menos lucrativas para os ACIONISTAS.

segunda-feira, outubro 30, 2006

O mundo Islâmico

"Da Indonésia ao Marrocos, os povos muçulmanos estão em evervescência, levando as nações ocidentais [...] a se confrontar com problemas de singular dificuldade. [...] A mais intratável de todas as dificuldades [...] foi a Palestina. Desde a Declaração de Balfour, em 1917, tenho sido um fiel defensor da causa sionista. Nunca achei que os países árabes tenham recebido de nós nada mais do que imparcialidade. À Grã-Bretanha, e unicamente à Grã-Bretanha, eles deveram a sua própria existência como nações. Nós os criamos; dinheiro britânico e consultores britânicos marcaram o ritmo de seu progresso; armas britânicas os protegeram. [...]
Como nação mandatária, a Grã-Bretanha foi confrontada com o espinhoso problema de combinar a imigração judaica para a sua terra natal com a salvaguarda dos direitos dos habitantes árabes. Poucos de nós poderíamos censurar o povo judeu por suas opiniões violentas sobre esse assunto.
Não se pode esperar que uma raça que sofreu praticamente o extermínio seja inteiramente ponderada. Mas as actividades dos terroristas, que tentaram alcançar os seus objectivos através do assassinato de funcionários e militares britânicos, foram um odioso acto de ingratidão que deixou marcas profundas. [...] não foi de surpreender que o governo britânico viesse enfim lavar as suas mãos desse problema e a deixar que, em 1948, os judeus buscassem a sua própria salvação. [...]
A violência contagiosa ligada ao nascimento do Estado de Israel, vem desde então agravando as dificuldades do Oriente Médio. Vejo com admiração o trabalho feito ali para construir uma nação, para reconquistar o deserto e para receber inúmeros desafortunados, provenientes das comunidades judaicas do mundo inteiro. Mas as perspectivas são sombrias.
A situação de centenas de milhares de árabes expulsos de suas casas, sobrevivendo precariamente na terra de ninguém criada em torno das fronteiras de Israel, é cruel e perigosa. [...] Os líderes árabes de maior visão não conseguem enunciar conselhos de moderação sem ser silenciados aos gritos e ameaçados de assassinato. É um panorama tenebroso e assustador de violência e loucura ilimitadas. Uma coisa é certa. A honra e a sensatez exigem que o Estado de Israel seja preservado [...]


Winston Churchill, 1957

sábado, outubro 28, 2006

Aborto: proibição total...


... Na Nicarágua.

A lei aprovada ontem garante que ali não haverá mãe em risco de vida nem violação de menor que excepcione a regra; vai tudo a eito e comem todos.

A idéia peregrina, num país onde todos os anos vão à faca num vão de palhota 36 000 mulheres católicas, começou por ser impingida ao governo pela filial local dessa igreja mas demorou pouco para que até marxistas empedernidos se arrogassem a lucrar com a aparente popularidade da medida.

Com efeito, o ex-ditador Daniel Ortega declarou o seu apoio a esta lei "da vida", o que lhe valeu a tomada da dianteira na corrida presidencial em curso. Resta saber se isto chega para que os antigos contras votem nele ou para conquistar as boas graças da administração Bush.

Sem dúvida, o Terceiro Mundo ocidental no seu melhor. E um exemplo para todos nós.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Jacinto Lucas Pires

Há por aí alguém que consiga dar-me uma pista que me ajude a desvendar a sibilina razão para que o cavalheiro em epígrafe tenha assento permanento numa coluna do Diário de Notícias?

terça-feira, outubro 24, 2006

Véus há muitos


"Apenas um Estado laico pode proteger os direitos das mulheres", diz-nos o título de um artigo publicado no The Guardian do dia 17.

(no também permitiu que eu tenha chegado lá via Esquerda Republicana)

Num jornal que fez desaparecer da língua inglesa a forma feminina de muitas profissões, Polly Toynbee usa a segregação sexual visível no niqab e hijab das mulheres muçulmanas para atacar o apoio financeiro dado por Blair às escolas anglicanas ou católicas - visto que o leva a subsidiar também, multi-culturalismo oblige, intitutos islâmicos de ensino.

A pirueta é compreensível, e não é por ela que o argumento perde validade. No entanto, ele há uma ou duas preposições cuja consistência inspira cuidados.

Não tenho dúvidas, como diz o(a) senhor(a), que o véu seja "profundamente divisório" e que tenha sido "desenhado para que assim seja". O que não acredito é que o seu uso resulte exclusivamente de uma educação religiosa, subsidiada pelo governo ou pela família.

Num país como o Reino Unido, contando com 800 000 mulheres nascidas e criadas na fé do Profeta, apenas 10 000 tapam a cara.
A coisa tem obrigação de chocar o estrangeiro incauto mas para choque civilizacional sabe a pouco. Ainda para mais, e dados os antecedentes culturais das mesmas, parece-me duvidoso que à maioria desta infeliz minoria algum dia tenha sido permitido frequentar qualquer escola, religiosa ou não.

Também concordo em absoluto com o(a) autor(a) quando diz que "face de nenhum cidadão pode ser considerada indecente por causa do seu sexo".
Mas é precisamente aqui que a porca torce o proverbial rabo.

Começa a ser frequente lêr na imprensa britânica comentários de mulheres que, embora nunca até à universidade (laica) tenham usado qualquer tipo de cobertura ou sido pressionadas pela família para o fazer, resolvem subitamente fazer uso do expediente para melhor se esconderem de olhares indesejados.

É muito triste que sintam tal necessidade mas, como diz a divisa da rainha delas, "honi soit qui mal y pense".

Não quero com isto dizer que não existem, na mais ingénua das hipóteses, as tais dez mil situações aberrantes de opressão que o Estado britânico, por admitir e financiar um tipo de ensino confessional, pode vir a multiplicar.
Mas parece-me mais consonante com os valores de quem defende a dignidade de ser humano contra qualquer crença ou doutrina que esconder a cara numa sociedade que se quer laica é nada mais que um comportamento anti-social e nenhuma justificação existe que nos obrigue a aceitá-lo num local de trabalho.

Digo eu, que tampouco me agradaria andar de autocarro com um motorista - homem - de balaklava.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Brit Pop Art


"Lata de comida para bébé sobre mesa de fórmica", técnica mista.
Saar Drimer, 2006.

domingo, outubro 15, 2006

O Gabinete do aiatóla Khamenei

Desde cedo temi que, dada a falta de compreensivismo multiculturalista que grassa neste país, a polémica levantada pela suspensão sem vencimento de uma empregada da British Airways pudesse levar alguns espíritos católicos a retirar ilações a ferrobrás.

Agora mesmo vi que as minhas expectativas anteriores acabaram por se confirmar.

Assim, achei por bem dar aqui voz ao mandamento novo que nos chega da pátria da revolução xiíta (e não "xiita" como às vezes escreve por corruptela a plebe ignara): podem a partir de hoje contar neste sítio com ligação permanente ao Gabinete do aiatóla Khamenei(*), no qual todos os dias o cavalheiro em epígrafe se esforça por esclarecer toda a dúvida litúrgica que os desamparados na rede lhe colocam.

A bem do diálogo entre civilizações.

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(*) Com os devidos salamaleques a Francisco José Viegas pela sugestão.

terça-feira, outubro 10, 2006

"Os Sulitários" na FNAC


Apresentação do último livro de Paulo Barriga pelo próprio:

"Caríssimos amigos, companheiros e assim,

O último livro aqui do vosso estimado, Os Sulitários, uma espécie de epopeia poética em torno do homem do Sul, vai ser apresentado na FNAC Chiado, no próximo dia 21 de Outubro, Sábado, por volta das 17H00. As fotografias são do João Francisco Vilhena e a edição da Fundação Alentejo-Terra Mãe.
Que lá esteja presente é o que mais se estima. A coisa é rija."


Apareça, homem!

A anedota do dia vem da Austrália

(peço desculpa pela ausência de tradução. O negrito é meu)

Ramos Horta happy with Aust troops in E Timor

ABC - Tuesday, October 10, 2006. 11:24pm (AEST)

East Timorese Prime Minister Jose Ramos Horta says he and his President Xanana Gusmao have agreed that Australian troops in East Timor should not be replaced by UN peacekeepers.

Dr Ramos Horta is in Australia to try and increase foreign investment in East Timor.

In a lecture at the University of New South Wales, Dr Ramos Horta said he will not ask the UN Security Council for a peacekeeping force when they discuss the issue again, because he is happy with the current arrangement.

"The UN is overstretched so I propose, my President and former Prime Minister agree, that we should continue with the current force arrangement with Australia," he said.

"Their professionalism, the effectiveness of the force, their strict respect for East Timorese suggest we should continue."


Ah, por mera coincidência surgiu agora um relatório de um instituto "independente" que aconselha Xanana e Alkatiri a não participarem nas eleições de 2007. Para evitar mais conflitos, ao que dizem. Ora bem...
A lista de entidades que compõem o conselho consultivo de tão desinteressado organismo pode descobrir-se aqui. Destaco a Chevron mas há outros com o mesmo nível de filantropia.

domingo, outubro 08, 2006

Anna Politkovskaya, 1958-2006


Morta ontem em sua casa porque falava demais.

A minha primeira república

Houve discussão entre mim e outros no blogue Esquerda Republicana acerca da benevolência da Primeira República. Por ser tão grande, resolvi publicar aqui aquele que espero ser o último comentário ao que me foi dito por lá. Ficam assim também aqui para a posteridade meia-dúzia de factozinhos que ajudam desmistificam alguns dos argumentos que alimentam as visões mais românticas do período que se seguiu à queda da monarquia.

Vamos à biblioteca dos leitores incultos e rápidos. Tenho o cuidado de não citar nada que defenda a monarquia ou que tenha origem na pena de fascistas (e.g., VPV ou Hermano Saraiva).

Segundo a wikipédia, Afonso Costa tentou fazer do PRP o partido único da República. Não admira que outros menos ‘democráticos' tenham preferido constituir os seus próprios partidos. Os jornais que se lhe opõem ou são fechados ou são calados.
No consulado de ‘Mata-frades’ a liberdade religiosa da lei torna-se difícil e perigosa de pôr em prática.
A entrada cita o também conhecido reaccionário Fernando Rosas quando este chama a esse regime de liberdade "a ditadura do partido 'democrático'".

O dr. Afonso Costa é também o mesmo que, em 1912, retira o direito de voto aos chefes de família analfabetos quando 80% da população ainda o era. O sufrágio universal deixa de existir em Portugal ao contrário de países como a Alemanha, Itália, Áustria, Montenegro, Suécia e Suiça. O número de eleitores é agora igual ao existente no tempo da monarquia.

Como exemplo da bonomia sindicalista do regime, em 31 de Janeiro de 1912, forças militares e da carbonária tomam de assalto a União dos Sindicatos. Os presos são enviados para bordo da fragata D. Fernando e do transporte Pêro d'Alenquer e deportados. Os grevistas alcunham Afonso Costa de 'racha-sindicalistas'.

Do talassa www.presidencia.pt vem que Manuel de Arriaga, eleito presidente por colégio em 1911 e deposto ‘democraticamente’ por golpe militar em 1915, havia em 1892 discursado como deputado no parlamento de acerca da "descaracterização da Nacionalidade Portuguesa no regime monárquico", em 1892.' Não conheço o texto mas adivinho-o edificante para as gerações que hoje em dia celebram o humanismo republicano d’antanho.
Pelo meio, depôs o governo do camarada anterior sem consultar o Congresso (senado e deputados) e proibiu os deputados desse partido de entrarem no parlamento. Deu entrada à ditadura de Pimenta de Castro.

A 14 de Maio de 1915 o descontentamento das hostes leva, com toda a legitimidade democrática, alguns barcos de guerra a bombardear Lisboa. Os combates são violentos e os mortos às centenas. O General Pimenta de Castro é preso e substituído por Teófilo Braga.
Quando volta ao poder, Afonso Costa decreta a censura para todas as publicações.

Sigamos para bingo. De Sidónio Pais, outro grande democrata, todos conhecem um pouco. Na biografia de Machado Santos, esse grande reaccionário (o tal herói de uma Rotunda defendida por 400 contra 4000 tropas legalistas - onde estariam os 40 mil carbonários de que falava aqui Gil Gonzaga, não sei), encontra-se a lavrada a seguinte passagem do seu protesto contra Sidónio, na sessão de abertura do Senado, em 3 de Dezembro de 1918:

«...Factos revoltantes como este posso citá-los aos centos e invocar o testemunho dos dez mil e tantos presos políticos que se encontram nas cadeias, com a seguinte nota de culpa: «preso às tantas horas do dia tal pelo agente fulano»...

Mas… 'presos políticos'? Na livre primeira república das justiças sociais?? Calúnias!

Entre 1919 e 23, a fome grassa no país, fecham cinco bancos e as greves e as bombas eclodem diariamente sem que deixem de ter resposta adequadamente musculada. Entre Julho e Setembro de 1919, os ataques dos anarquistas aos comboios e subsequentes descarrilamentos são tantos que o Governo para acabar com a crista coloca um vagão cheio de grevistas à frente da máquina. Sem grandes resultados.

Em 1925, ocupa outra vez a Presidência da República Bernardino Machado e a Liga dos Direitos do Homem protesta contra as deportações sem julgamento.

A ‘segunda’ república faz a sua primeira aparição com o golpe de Costa Gomes mas só se solidifica com o convite feito por todos os partidos a Carmona para que este governe em ditadura. Estavam criadas as condições para o nascimento do Estado Novo.

Por último, uma pergunta de algibeira: qual o político da republicano acima mencionado que trouxe pela primeira vez a eleição presidencial por sufrágio livre, directo e universal e quando é que esta teve lugar?
Pista: houve quem o alcunhasse de ‘rei’ mas também acabou em ditador assassinado.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Reses públicas

Se, antes de mais, defendermos uma forma republicana de governo, isto é, governo e representação parlamentar resultantes de eleições, e se a isto juntarmos uma impressa livre e uma Carta respeitando os direitos cívicos, só podemos lamentar as seis décadas de autoritarismo convulso ou latino-americano que se seguiram a 5 de Outubro de 1910.

A monarquia caiu porque houve um partido minoritário (12% nas últimas eleições do antigo regime) que tomou o poder pela força.

Aquela democracia era imperfeita? Era sim, tanto como hoje em dia o voltou a ser. Melhoremos a cidadania, então.
O resto - a questão da chefia do estado - não passa de um adorno constitucional ao qual a manada aspira, sabe-se lá por quê.

domingo, outubro 01, 2006

Estatísticas virtuais

O blogue de Marcelo Rebelo de Sousa (vêr o novo lacete nos Sabores da Semana), publicado via sítio do morno Sol, teve, até há coisa de 5 minutos e com 15 postas escritas, 151 comentários repartidos por 5019 visitas.

No mesmo endereço pode encontrar-se outra Rebelo, a Pinto da novela sexual: com apenas 2-postas-2, teve direito a quase tantos comentários quanto o professor de referência e a umas assombrosas 4103 visitas.

Acho que está feito o retrato do leitor típico do semanário.

Na Áustria, como cá


SE NÃO ESTIVESSEM PERMANENTEMENTE EM ESTADO DE DORMÊNCIA PERIFÉRICA, estas eleições interessariam mais aos portugueses do que lhes parece. Mais pelas ilações a tirar, claro está, que por benefício directo.

Também a Áustria passa por crises endémicas, também ali o euro precipitou o endividamento pessoal a níveis insustentáveis, tornando o consumo, para além do turismo, o principal responsável pelo grande crescimento económico do último ano. Também entre os austríacos, nenhum dirigente tem capacidade ou vontade de apresentar uma estratégia de definição nacional, limitando-se a classe política - à excepção dúbia dos Verdes ou dos nacionalistas do partido da 'Liberdade' - a gerir margens de contabilidade.

Será interessante ver como a percepção alpina desta realidade - muito maior que a nossa - irá condicionar o voto. Até agora, o debate foi dominado pelas doces do costume (Schüssel e a baixa de impostos, Gusenbauer e a criação de empregos num país com a segunda mais baixa taxa de desemprego da U.E.) mas o Partido Popular no governo pode muito bem vir a sofrer com os escândalos do costume: corrupção criada pela promiscuidade entre a classe empresarial e política.

Ah, e no que diz respeito a saudosismos e complexos de inferioridade, i.e., impérios perdidos e vizinhos poderosos com os quais nos confundem, os dois países teriam assunto para tertúlia regada a Grüner Veltliner e a Reguengos que duraria até de madrugada.
Salva-nos na disputa, como eu gosto de fazer lembrar ao meu amigo D., de ainda termos uma língua diferente da dos "outros".

sábado, setembro 30, 2006

Deslocalizações

Algumas vozes querem fazer-nos crer que os nossos baixos salários já não são assim tão baixos, daí o desinteresse do investimento estrangeiro (argumento para justificar a inexistência de aumentos). Que as fábricas fecham por cá e o capital foge para o Leste barato ou para os gigantes emergentes.
Que só nos resta o turismo, isto é, vender sol, mar e areia que não produzimos e que nem sequer nos pertence.
Pobres portugas! Caros demais como operários, só lhes resta buscar renda no servir hermanos à mesa.

Mas...

... Se assim é, por que é que a Honda resolveu expandir a sua capacidade de produção no norte da Europa, criando 500 novos empregos na sua fábrica no sul do Reino Unido e aumentando a força de trabalho local para um total de 5000 trabalhadores?
E por que é que estes mesmos empregos muitas vezes acabam por ficar nas mãos dos emigrantes portugueses que para ali foram à procura de salários mais altos?

Há aqui qualquer coisa que os modelos, finlandês ou não, não explicam.

terça-feira, setembro 26, 2006

segunda-feira, setembro 25, 2006

"The God delusion", por Richard Dawkins


O autor de "O gene egoísta" volta a atacar. Para grande desconsolo dos maluquinhos dos designs.

(clique aqui para vêr a entrevista com Jeremy Paxman)

quarta-feira, setembro 20, 2006

Em defesa do papa

O agnostico que sou a tal me obriga.

Da Metafisica dos Alquimicos

Em resposta excelente ao arrazoado de asneiras que por ai' se escreve, inclusive' nos jornais, uma frase simples de Ludwig Kripphal que esclarece quem ainda nao quis perceber:

E' aqui reside a grande diferença entre a ciência e os “ismos”. O criacionismo é a crença num conjunto de respostas, enquanto que a ciência é um processo movido pelas perguntas.
.

E tambem vale a pena passear pelo resto do blogue.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Soool!

Amanhã sai o Sol.

JAS já anunciou que vai ser publicada uma sondagem sobre o pior presidente da República dos últimos 50 anos e avisou que o resultado vai ser uma surpresa.

Eu não conheço a sondagem mas deixem-me adivinhar: O pior presidente foi Mário Soares.

Não é de admirar. Soares é identificado como o pai do regime democrático e, para uma parte muito significativa dos Portugueses, a democracia é vista como uma chatice e a responsável por todos os males do país:

- A descolonização ( como se fosse possível contrariar os ventos da história e a vontade conjunta dos EEUU, URSS e China. Note-se que, uma vez instaurada a democracia, os defensores do império rapidamente esqueceram a atitude dos EEUU e rapidamente de adaptaram à nova situação e alaparam aos EEUU: massa e poder justificam tudo, nomeadamente uma boa dose de oportunismo realista )

- O PREC

- A reforma agrária ( sensata, para o tempo, e da autoria de António Barreto )

- A crise económica ( provocada pelos choques petrolíferos )

- A austeridade de 83-85 ( e a recuperação das finanças do país, liderada pelo competente Ernâni Lopes, numa coligação PS-PSD e que deu a Cavaco o dinheiro para distribuir as benesses dos seus governos )

- A queda de Cavaco ( provocada por crescentes múltiplos, de autismo e gastos excessivos )

- A imigração ( que substituiu a emigração dos tempos em que nem os Portugueses podiam sobreviver em Portugal )

- E finalmente o "vergonhoso" apoio dos "súcias" ao terrorismo e aos seus amigos, agora abrandado por Sócrates e Amado ( Freitas foi o último resquício )

Tudo isto tem uma figura associada: Mário Soares.

Deixem-me explicar: o miserável Estado Novo forjou um arranjo de interesses mesquinhos e medíocres que satisfazia as nossas "elites" e a nossa "classe média", que consistia essencialmente num funcionalismo de "mangas de alpaca".

Esse arranjo tinha o apoio de uma significativa parte de população com excepção de algumas minorias educadas e cosmopolitas e esmagava um povo afogado na miséria.

Só foi derrubado pela gueera de África e pelas aspirações corporativas dos Capitães.

Depois veio o inefável PREC e as desgraças associadas como a volta dos "retornados".

O PREC passou e a mentalidade do Estado Novo foi lentamente voltando. Hoje, quando e democracia é cada vez mais posta em causa, essa mentalidade está forte como não estava há 30 anos.

Essa mentalidade vota e sempre votou num partido, o partido que mais governou Portugal em democracia e que é, na verdade o principal responsável pelo país que temos hoje.

Aparentemente, o ciclo desse partido está a acabar, mas nem por isso a mentalidade dominante vai mudar.

Sócrates deve ter conhecido essa sondagem antes de apoiar Soares à presidência como forma de pôr a esquerda no seu lugar.

Pobre Sócrates, ganhou o poder mas não pode mudar de povo!

Mesquinhez, medicridade, saloiice, malandrice de carteirista: são as nossas características.

É bom que Soares perca.

Para alguns, basta virar a sondagem ao contrário para sonhar com um país de gente educada e honesta.

Pelo menos, aquece o coração.

terça-feira, setembro 12, 2006

Prós e amadores

A Comendadora Campos Ferreira tem pelo menos o mérito inegável de convidar as pessoas certas para os debates certos.

O facto de interromper excessivamente os convidados para formular as suas próprias opiniões ou de colocar perguntas simplórias não é relevante.

Importante é convidar as pessoas certas para os debates certos.

No de ontem, sobre o 11/9, terrorismo, etc. pôs do lado dos prós o Pacheco Pereira, um dos mais idependentes e eficazes defensores dos gajos que estão a conduzir a política Americana e que acreditam que Eva saiu de uma costeleta de Adão, ou, pelo menos, fingem que acreditam; e Helena Matos, outra franco-atiradora fanática mas relativamente independente.

Dos contras ( amadores ), Mário Soares e um casal de muçulmanos.

O Maroca está coberto de razão mas está velho e faltam-lhe a paciência para aturar a canalhice e no geral faltam-lhe a memória e as faculdades argumentativas.

Assim sim comendadora!

Veja lá se convidou a Sousa Tavares! O tanas! Eis um serviço público independente!

Ainda sobre a tortura

O tratamento que os EEUU dão aos prisioneiros suspeitos de terrorismo merece algumas perguntas comparativas:

Quantos prisioneiros Alemães; Italianos e Japoneses foram torturados pelos Aliados durante a 2ª guerra mundial?

Quantas torturas foram praticadas pela Inglaterra, em nome da auto-defesa, quando estava prestes a ser esmagada pela Alemanha na 2ª guerra mundial?

Quais os resultados práticos das torturas empregues pela CIA na obtenção de informações sobre o terrorismo?

E Israel? Tem torturado prisioneiros Palestinianos para obter informações?

Quando a Inquisição Católica torturava priosioneiros tinha como fim averiguar a verdade ou obter "confissões" convenientes?

Pode-se comparar a atitude Americana com os prisioneiros de Guantánamo ou Al-Gharib com a atitude da Alemanha Nazi, que torturava e matava os prisioneiros Soviéticos sob a desculpa de que a URSS não era signatária da Convenção de Genebra?

E os Franceses livres que combateram a Alemanha Nazi? As torturas e assassínios praticados pela Gestapo eram justificados pelo facto de a França se ter rendido à Alemanha Nazi?

A guerra ao terrorismo é uma guerra de propaganda, onde é fundamental retirar aos terroristas a base de recrutamento de que correntemente gozam.

Tal só pode ser feito se o Ocidente fizer juz aos seus pergaminhos de defensor da liberdade e da justiça.

Cada prisioneiro torturado é a certeza de dez novos inimigos no Islão.

A estratégia actualmente seguida na luta ao terrorismo é uma demonstração práctica do nanismo dos Ases e Bêses da política internacional.

Sejamos, no entanto, magnânimos. Quando eles acordarem da demência serão necessários para derrotar o terrorismo, tal como Atlee e Chamberlain acabaram por ser úteis para derrotar o Nazismo.

segunda-feira, setembro 11, 2006

domingo, setembro 10, 2006

Como?

O embaixador Americano em Lisboa afirmou que a CIA não tortura os suspeitos de terrorismo durante os interrogatórios.

A CIA utiliza, isso sim, medidas de coacção, que são medidas perfeitamente legais e aceitáveis por um juiz Norte-Americano.

Por exemplo, algemar um suspeito detido é uma medida de coacção.

Faltou uma pergunta na entrevista do Público:

Se a CIA não emprega métodos ilegais, porque é que não interroga os prisioneiros em território Norte-Americano?

E ainda outra pergunta: Quando a polícia Norte-Americana prende um suspeito, leva-o para o México ou para o Canadá para o algemar?

RIC

Uma pergunta pequenina:

Será que a Rússia, a Índia e a China temem um Irão armado com a bomba atómica?

Sede, de Odin Uzi

Tenho sede de viver.
Tenho sede de viver.
Mas não há nada à minha volta.
O sol do deserto encrua a minha pele.
Os reflexos na areia encandeiam-me os olhos, ferem-me a vista.
Não há nada à minha volta.
Mas eu tenho sede de viver.


Uma fonte!
Quero beber água dessa fonte, para saciar a minha sede.
Mas não brota água dessa fonte.
Brota um líquido que me arde na garganta, a cada gole.
Algo que me aflige, que ameaça sufocar-me, a cada gole,
intermitente, periódico, ondulatório.
Ardente. Aflitivo. Angustiante.
E a minha sede aumenta.


Os meus lábios estão gretados, a língua entumecida, os olhos salgados,
a testa a arder, as mãos emperradas pela areia, fina e seca.
Arrasto-me pela areia. Quero matar a minha sede.
Persegue-me a miragem, recorrente, da roda daqueles que me amam:
um oferece-me água;
mas o outro tira.
Acalmo a sede com esperança.


Um oásis!
Gozo a sombra das palmeiras.
Aproximo-me do poço.
Bebo a água, sôfregamente.
Mas depressa preciso de a racionar.
Permaneço no oásis, racionando a água, na companhia da miragem.
Envelhecem as figuras da miragem, aparecem novas.
Entretenho-me na sua companhia. E raciono a água.
Divido-a com as figuras, que aceitam e bebem, agradecidas.


Um dia, logo depois de acordar, vou ao poço matar a minha sede.
Mas a água desapareceu, existe apenas lama, húmida e espessa.
As palmeiras do oásis são de cartão.
Estou apenas num cenário de oásis.
Encho o meu cantil de lama.
E retomo o caminho.
Acompanha-me a miragem. Mas agora parece estar sempre longínqua,
Estou verdadeiramente só.
Engano a sede com a lama, espremo-a na boca.
Tenho o corpo coberto de feridas. Mil pulgas cobrem o meu corpo à noite,
sugando a vida da qual tenho sede.
E as feridas já não saram. A minha pele ficou branca.


Avisto agora uma miragem diferente.
A meu lado caminham agora vários anjos, nos seus bibes brancos.
Umas vezes riem, outras vezes choram.
Olham para mim com um sorriso.
Olham para mim apreensivos.
Olham à minha volta. Como se à minha volta houvesse outros como eu.
Como se eu fosse como os outros que estão à minha volta.
Como se, sozinho, eu estivesse acompanhado de muitos outros.
Muitos outros cantis de lama.
Atravessando o deserto.
Com sede de viver.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Ironia do destino

Ainda bem que Al Gore "perdeu" as eleições de 2000.

Assim, teve de ser Bush a lidar com as consequências do 11 de Setembro e a fúria e dor dos Americanos.

Fê-lo da pior maneira e, apesar de todo o dinheiro investido em propaganda, a maré está a mudar.

Em 2008 a demência vai desocupar a Casa Branca e vai ser substituída por uma boa dose de razão e, principalmente, de sentido de responsabilidade.

Louvado seja Deus!! Os seus desígnios são insondáveis.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Recordação de Mombaça

É uma daquelas historietas do tempo dos impérios. Reza a mesma que uma expedição holandesa a Mombaça, com o legítimo intuito de resgatar a praça do domínio português, encontrou resistência inesperada por parte da guarnição local.

Na esperança de evitar uma luta prolongada que depauperasse as suas forças, tornando a futura ocupação impraticável, o comandante flamengo propôs ao seu correspondente português que se resolvesse a questão por meio de combate singular; escolhia-se o mais forte entre cada um dos exércitos e quem ganhasse levava a cidade para o seu lado.

Dizem que a isto o 'nosso' comandante concordou, mas com uma ressalva: que o outro escolhesse não um mas dois soldados para a contenda "pois é sabido que um português vale pelo menos por dois holandeses".

Esta estória de basófia vem a propósito das últimas novidades de Timor.
Apesar da presença em território timorense de mais de 2000 soldados e polícias australianos, estes não só demonstraram ser incapazes de reestabelecer a ordem pública como até muitas vezes se vêem na contingência de solicitar a ajuda de alguns dos cerca de cento-e-tal militares da GNR para ali enviados pelo governo português.

Sem pôr em causa a competência da Guarda na resolução de situações de controlo de multidões, parece-me irrazoável que tanto músculo austral se desperdice em operações de voyeurismo impertinente.

Será por isso que Mombaça ainda ficou nossa por mais uns anos?

quarta-feira, agosto 23, 2006

Marbella, mal perdes por esperar

Tem 48 anos e vem de França, onde vive do rendimento mínimo garantido. Depois de perjúrio (queixou-se de violação), é suspeita de homicídio do dono da embarcação onde viajava, motivado pelo roubo da mesma. Supõe-se que mantinha relação de incesto com o cúmplice, já que se afirma sua irmã.

Antes do naufrágio, parece que "C.C." (como a imprensa lhe chama) escreveu um postal à mãe onde se manifestava encantada com o país, o qual lhe recordava "a Espanha de há 30 anos".

Mal posso esperar pela desafectação da reserva natural da costa vicentina e o navio de progresso que finalmente aqui aportará.

Vox dei

No Público de hoje, à pergunta "concorda com o envio de tropas portuguesas para o Líbano?", Delmira Mateus,
artesã de 56 anos, respondeu com toda a cidadania:

"Acho que, se as tropas vão, é porque é de livre vontade. Ninguém as obriga a ir. Mas, se eu tivesse um familiar meu na tropa, não queria que fosse."

Esta foi a melhor tirada contra o fim do S.M.O. que eu já ouvi em anos.

sábado, agosto 19, 2006

Gases anglo-saxónicos e o restaurador Oilex

No seu blogue, Paulo Querido destacou há dias que

"O primeiro-ministro australiano John Howard anunciou medidas de um plano mais vasto para diminuir os efeitos nocivos da excessiva dependência energética do petróleo. Entre elas avulta o financiamento da conversão dos veículos para o gás liquefeito, GPL. (...)"

Por sua vez, no Causa Nossa, Ana Gomes que deu-nos conta de quem aquece as costas aos australianos quando estes rejeitam liminarmente a recomendação de Kofi Annan para uma missão militar da ONU em Timor-Leste.

Ora, porque razão não haveriam os E.U.A. e o Reino Unido de o fazer já que do que interessa também vai sendo tudo decidido?

O que é preciso é instabilidade para que os rapazes da Oilex consigam trabalhar em paz. E os timorenses que se danem.

sexta-feira, agosto 18, 2006

"Sátira de bloguista leva empresa a suspendê-lo"

Dava um belo título. Mas não é bem assim.

atenção: isto hoje vai corrido a linques para tudo e tudo

A notícia vem no Independent de hoje.

Parece que o senhor em questão, Inigo Wilson, escreveu num blogue do partido conservador (ConservativeHome) um pequeno glossário com o qual pretendia ridicularizar alguns dos chavões usados diariamente pela esquerda britânica bem-pensante.

Esperava-se a mesma reagisse, com a falta de sentido de sentido de humor que lhes é característica, mas quem acabou por liderar a campanha contra a anedota foi um outro website, desta feita o do forum da Comissão de Assuntos Públicos Muçulmanos, Muslim Public Affairs Committee (a tradução está saloia, eu sei), incitando o público a queixar-se ao empregador do sr.Wilson, a Orange Mobile Company (!).

Os senhores da Orange ainda se tentaram defender argumentando que nada tinham que vêr com as opiniões pessoais de um assalariado seu. Mas o estigma de 'racista' com que a empresa se viu ameaçada parecia ter mais força e assim acabou por suspendê-lo das suas funções de... relações públicas.

Só que, ao que consta, os lóbistas, longe de causar algum incómodo, até acabaram por fazer um favor ao operador de telecomunicações. Ora vejam...

quinta-feira, agosto 17, 2006

O inefável JoaoMiranda

sim, esse mesmo

Aqui, no Verdade ou Consequência, e em primeira mão, o site do profissional.

O multi-culturalismo

Um amigo contou-me a seguinte bizarria, passada há duas semanas numa free house em Inglaterra.

'Era um quadro encantador: alguns ingleses de ambas as idades e todos os sexos acabavam de regressar de uma dessas manisfestações espúrias contra o "terrorismo israelo-americano".

Sentaram-se à minha frente com a disposição aparente de dever cumprido. Entre eles, uma mulher repelente vestia uma t-shirt com piadinha cáustica anti-bush. Havia também um barbas envergando com [duvidoso] orgulho, o amarelo e verde com a AK-47 e tudo do logo do Hezbollah.

Depois de algumas pintas de bebidas fermentadas, uma das mulheres do grupo, companheira de outras causas, colocou-se em dúvida e começou a falar qualquer coisa que não percebi acerca dos direitos das mulheres muçulmanas. Não deve ter sido considerado
kosher pelos outros pois foi imediatamente interrompida pela camarada anti-bush: "Desculpa mas estás a ser racista. Não podes julgar o mundo pelos teus olhos ocidentais. É uma outra cultura, precisamos respeitar a sua especificidade. E não penses que nós aqui estamos melhores!"

Puxei de um cigarro e provoquei a tosse convulsa daquela mesa ainda antes de o acender.
"Não," pensei, "de facto, não estamos".
'

O Síndroma de Jerusalém

No artigo Proche-Orient : les illusions calamiteuses d'une géopolitique surréaliste, publicado no Figaro de 8 de Agosto, André Glucksmann levanta oportunamente a questão da hiperbolização das tragédias no Médio Oriente na percepção da opinião pública mas desilude quando acaba por perder-se em considerações de umbigo de mundo.

O que o filósofo francês parece esquecer é que a culpabilização ocidental em torno da questão palestiniana também se alimenta do conflito entre a suposta superioridade moral europeia e o ultramontismo norte-americano - uma das muitas heranças da Guerra Fria da qual ainda vai custar para nos livrarmos.

Quando 200 000 muçulmanos são mortos no Darfur por outros muçulmanos, como refere Glucksmann, quem no Ocidente se dá ao trabalho que a indignação obriga já que nenhuma potência mediática, daquelas que despertam paixões nos moralistas anacletos e nos neo-coisos de serviço, se quer envolver?

Defesa de Günter Grass

O homem em causa é daquele género pessoas que me metem medo: um moralista angustiado e sem sentido de humor. Posto isto, vir a saber-se agora que, na verdura da juventude, o sr. Grass acabou alistado pelas Waffen-Schutzstaffel da caveirinha, em lugar de me aquecer, arrefece-me.

Ademais, ensina aos bons cristãos uma parábola qualquer que há mais alegria no Céu pelo estróina arrependido que pelo penitente de toda a vida.

quarta-feira, agosto 16, 2006

O sexo dos anjos

Excertos de um artigo publicado na revista Atlântico, Agosto de 2006, da autoria de Tiago Cavaco:

«DARWIN E OS ESQUELETOS DA HUMANIDADE

No debate entre criacionismo e Evolucionismo, os darwinistas trocaram o velho barbudo que criou amorosamente o Planeta Azul [...] A sutentabilidade do enredo é precária e não cria empatia nos leitores. Nós participamos na discussão.

Não é bonito nem excitante descrever uma cronologia do debate entre o Criacionismo e o Evolucionismo. É contudo certo qual das duas teses chegou primeiro. [...]

A Europa sente em relação à América um vazio do tamanho de Deus.[...]

somente um Francês demasiado adormecido à sensibilidade religiosa do país mais competente do mundo (os EUA, os EUA) pode admirar-se com o vigor académico do Design Inteligente. [...]

sustentar o Design Inteligente não é o mesmo que sustentar a interpretação científico-literal do relato do Génesis. [...]

A minha abordagem [...] é a do testemunho. [...]

A partir desse momento sob a teoria da evolução pesou explicar como é que um macaco se faz um homenzinho. [...]

A resistência criacionista [...] foi reagregando-se. [...]

A década de oitenta [...] traz um novo plantel à equipa. E com orçamento reforçado (há quem acuse que os avanços criacionistas resultam de um financiamento suspeito por parte dos sectores americanos mais conservadores). [...]

o criacionismo do autor deste texto é objector de consciência. Não entra em guerras. [...]

Sou a pessoa errada para defender com competência a Criacionismo na imprensa respeitável nacional. [...]

Aos darwinistas não convém o optimismo. O planeta vai para o maneta por isso Deus deve ser despedido por incompetência grosseira. Quão mais ateu o espírito mais ecologista será. [...]

a certeza do esgotamento dos recursos naturais pressupõe a ineficácia da intervenção divina. [...]

Logo a responsabilidade permanece em exclusivo no discernimento humano e por isso o futuro é negro. [...]

ainda não é Al Gore o sustentador da atmosfera terrestre.[...]

O bom cristão deverá relembrar que é Deus quem ainda manda na geringonça. E que ela só avaria se Ele permitir. [...]

o que todos desejamos é vender as nossas teses sobre o Apocalipse. A única concórdia é sobre a necessidade de o guião colocar no último episódio muito pranto e ranger de dentes. Os fiéis pela via da impenitência dos pecadores, os darwinistas pela incontinência dos consumidores.

Os darwinistas arreliam-se. Com cada letra criacionista publicada, com cada dólar investido na defesa do Design Inteligente, com cada Liceu americano que ousa colocar o bom Charles lado a lado com o Bom Deus. Como contornar o facto de que os darwinistas se têm tornado nas últimas décadas pessoas apreciavelmente desagradáveis? [...]

O darwinista é o que sobra de um Hobbes sem crença na Eternidade. A melhor pedagogia para os darwinistas não é sequer convertê-los aos cristianismo. Ensiná-los a divertir-se já seria óptimo. Descontrair. Respirar fundo. Enquanto há ar.

O darwinismo começa a soçobrar [...]»

O revivalismo xiíta (*)


Vicente Jorge Silva mostra-se surpreendido, no DN de hoje, com o facto de até a Time, ('insuspeita', de facto) opinar que a concertação entre Hamas, os vários Hezbollah que para aí há e a Al-Caida é apenas aparente e nada tem a vêr com terrorismo.

De facto, é infelizmente costumeiro para os ocidentais remeter a origem dos conflitos no mundo muçulmano para os tais "reais ressentimentos islâmicos" da propaganda anti-americana. Costumeiro e conveniente para ambos os lados: o "nós contra eles" não requer explicações e acelera decisões. Pelo contrário, analisar instala a dúvida, inimiga da acção.

O que na revista americana se aflora é o que em outras publicações apesar de menos visíveis é discutido com maior nitidez: no xadrez da região as agendas dos vários poderes diferem bastante entre si e a imagem de um Islão unido contra o Grande Satã serve principalmente a quem se quer impor como líder da putativa união.

Esta estratégia do inimigo exterior não começou com Nasser ou outros nacionalistas árabes; muito antes disso, foi no cisma que empurrou sunitas e xiítas para uma luta pela supremacia religiosa (em que já califado e o sultanato se confundiam) que encontrou a sua origem. Mas a vantagem de que os sunitas gozaram até hoje, que em muitos casos, se traduziu em opressão da seita minoritária, tem vindo a ser ameaçada. Existe um ressurgimento xiíta que, embora até possa encontrar paralelo na revolução iraniana de '79, nunca até agora conseguiu extravasar as fronteiras do estado persa, ao que não é estranho o facto de nos países tradicionalmente inimigos de Israel a maioria da população ser sunita (como sunitas também são os árabes da Palestina e do Hamas, pelos quais Teerão só chora quando lhe convém).

No jogo de influência sobre os milhões de almas que habitam o espaço muçulmano não ganha quem infligir mais derrotas militares aos E.U.A. e os seus aliados. Para ganhar a liderança basta mostrar iniciativa e capacidade de enfrentar o inimigo, pois a manipulação das emoções dos "ressentidos" já é exercício de poder de facto.

Na guerra actual, tal como durante séculos na Europa (onde também a religião comandava a vida), o combate é, antes de mais, pelo pragmático título de "Defensor da Fé".

foto: George W. Bush e o seu aliado sunita, o rei Abdul da Arábia Saudita, em Crawford, Texas (Associated Press, 2002)
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(*) título roubado ao livro de Vali Nasr, The Shia Revival: How Conflicts Within Islam Will Shape the Future , W W Norton & Co Ltd (2006)

Os Florentinos

Agora que toda a gente já sabe que 'tudo não passou de um plano', repito o que já havia escrito a 27 de Julho, 'inda a guerra corria célere e ninguém falava nas Sheebaa Farms...

(...) não há qualquer sinal de radicalismo com perigo de ascensão em Israel. Pelo contrário, as reacções israelitas seguem uma lógica, maquiavélica talvez, mas puramente militar.

O objectivo israelita é bastante concreto: "limpar" tanto quanto possível a zona de bases do Hezbollah e obrigar a comunidade internacional a legitimar a reocupação de parcelas do sul do Líbano para que aí se reestabeleça um perímetro de segurança ao norte (1).


Nas próximas semanas veremos quem de facto ganhou a guerra.

terça-feira, agosto 15, 2006

Olhó choque de civilizações que para aí vai

Muito pela mão do rei Maomé II, os marroquinos têm visto surgir em debate as leis que pretendem reformar o estatuto da Mulher e da condição familiar naquele país muçulmano. É mais um dos projectos a realizar num processo de democratização lento mas firme e que, ao contrário de outros países mais a sul ou a levante, promete vir a tornar-se bem-sucedido.

Ao mesmo tempo, no Reino Unido, e no rescaldo do susto de quinta-feira passada, várias organizações islâmicas moderadas acabam de sugerir à Secretária para as Comunidades Ruth Kelly que, entre os seus, venha a ser permitido [ou reconhecido?] o estabelecimento da lei islâmica no que concerne ao casamento.

"É preciso mostrar aos jovens que o nosso país respeita a sua religião e assim evitar que caiam facilmente na propaganda daqueles que pretendem a sua radicalização".

Os líderes muçulmanos contudo ressalvam que, apesar desta subtracção ao direito civil de todo o pai de família que queira manter a mulher ou a filha com rédea curta, não é do seu intuito a futura imposição da sharia como substituto do código penal britânico.

Pessoalmente, não sei se valia a pena tanta contenção; uma inglesa que um dia se visse no risco de ser passada a fio de espada podia sempre refugiar-se num sítio mais civilizado. Como por exemplo, Marrocos.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Dos blogues dos outros

No Dolo Eventual:

A machadada politicamente correcta
(...)
É politicamente incorrecto fumar, nem que seja fechado em casa. É uma coisa que nos torna piores pessoas, com dificuldades de discernimento mental grave, que se nos colocam sempre que temos de decidir entre um cigarro, ou a necessidade imperiosa de salvar uma criança pendurada de um penhasco que ameaça ruir a qualquer momento.
Para a UE todos nós fumadores iríamos decidir pelo cigarro e isso torna-nos cidadãos a perseguir.

É uma lógica de esforço comum da sociedade. Na realidade eles gostam de nós e querem integrar-nos. Querem poder novamente contar connosco nos cafés e restaurantes que entretanto deixámos de frequentar porque não se podia lá fumar.
Por isso é natural que as empresas nos desconsiderem (eu queria mesmo dizer discriminem, mas deve ser ilegal) e prefiram aqueles grandes malucos que comem o iogurte com bifidus activus com a colher da sopa, fazem corridas de cadeiras ou que têm a audácia de misturar café normal com café descafeinado, lá no escritório. Esses sim sabem viver sem fumo...

Esses sim, são os que vivem no verdadeiro perigo, e é dessa gente criativa que as empresas precisam, e não de gente como nós que fuma que nem cavalos, que vai morrer mais cedo, que não vai cumprir os mínimos olímpicos da segurança social, e logo não vai ajudar no futuro de algum filho da mãe de um preguiçoso que pode muito bem ainda nem ter nascido.

Prometo que se precisar de ir a alguma entrevista de emprego no futuro, me vou pintar de preto, insistir que tenho 82 anos, que sou uma traveca hindu, mas que não fumo.... só para ver se alguém tem coragem para me discriminar.

sábado, agosto 12, 2006

Um corno em África

Desde a queda do regime marxista de Siad Barre que a Somália é um país faminto e ingovernável. A confirmá-lo, as saídas de sendeiro do contingente de marines norte-americanos (primeiro sancionado e mais tarde substituído pelas Nações Unidas), em 1995, após dois anos de numerosas baixas e total fracasso nos seus respeitáveis objectivos: auxílio humanitário à população; desarmamento dos vários senhores da guerra que aterrorizavam o país e estabelecimento de um governo federal que unificasse os vários territórios entretanto em estado de autodeclarada "independência".

E nunca mais se ouviu falar daqueles desgraçados. Até que...


Em Junho deste ano a "capital", Mogadíscio, suportou uma batalha sangrenta entre uma espécie de "frente unida" dos fora-da-lei que haviam anteriormente combatido as N.U. e o novo poder em ascenção: as milícias islamitas do Conselho de Tribunais Islâmicos (a única forma de lei dos últimos 15 anos). Os antigos senhores da guerra, apesar de agora serem apoiados pelos E.U.A. (!), acabaram por perdê-la.

As milícias islâmicas, que desde sempre apoiaram as acções da Al-Caeda, partilham desde então com os restantes senhores da guerra não só o controlo do território somálio como o desprezo pelo governo federal interino do presidente Abdillahi Yusuf e do primeiro-ministro Mohamed Ghedi.

Entretanto, alguns jovens foram abatidos a tiro por se encontrarem a assistir às cerimónias de abertura da Copa do Mundo de Futebol. O futebol foi então proibido. Filmes considerados "maléficos" também.

Numa tentativa de evitar que o frágil governo interino fosse de facto derrubado (e não só por isso, claro...), a Etiópia fez entrar as suas tropas no país, o que levou os islamitas a suspender as negociações anteriormente encetadas enquanto houvesse militares estrangeiros presentes em território nacional...

A intervenção fez unir os somálios em torno do Conselho de Tribunais Islâmicos e prevê-se agora uma guerra "oficial" entre a Etiópia e a Somália. O governo provisório é para esquecer e os vizinhos quenianos temem o alastrar do conflito e do fundamentalismo para o seu próprio território e clamam por uma intervenção estrangeira.

Faz lembrar algo?

O número da semana

13,000 é o número de madraças no activo no Paquistão.

Grande parte destas escolas religiosas prega a jihad aos seus estudantes. Os estrangeiros acorrem em massa e muitos desses são cidadãos britânicos que vieram "visitar a família".

quinta-feira, agosto 03, 2006

Ainda a República Democrática do Congo


Mesmo na improbabilidade de que os senhores que irão ganhar as eleições naquele país (só daqui a algumas semanas se saberá quem) venham a visitar esta humilde tribuna, deixo aqui um conselho amigo: façam um favor ao vosso sofrido povo e tirem lá o 'democrática' do nome da república. Está mais que está provado que dá azar.

foto: contagem dos votos em Kinshasa, 31 VIII 2006, via BBC News

A propósito de números


Paulo Gorjão vem falar aqui da propaganda feita pelos lados em conflito no Líbano à volta da divulgação de números de vítimas, acabando por evidenciar a completa incoerência da opinião pública ocidental na posta seguinte.

De facto, há guerras que dão para o espectáculo televisivo e conversas de café, principalmente quando há potências mediáticas metidas ao barulho. Outros conflitos existirão - alguns dos quais envolvendo os "povos esquecidos" de que falava em tempos o prof. Adriano Moreira - onde, por via da insignificância estratégica ou material, ou por conveniência dos estados, as câmeras não agigantam os mortos e só os próprios choram por aquele terço de crianças.

Por causa das eleições no domingo, vem-me agora à cabeça o antigo Zaire. Podia argumentar-se que a cobertura dada ao longo dos anos aos acontecimentos no Zaire/República 'Democrática' do Congo tem sido mais do que suficiente para a tomada de consciência do público sobre a desumanidade ali reinante.

Para onde quer que se olhe na história do país, os números são impressionantes: só de 1885 a 1908, e enquanto propriedade privada do rei Leopoldo II dos Belgas, dez milhões de congoleses morreram vítimas da exploração colonial.

Mais recentemente, e mesmo já depois da deposição do carniceiro Mobutu, quatro milhões de pessoas viriam a morrer, vítimas das guerras e perseguições em que o país se viu mergulhado entre 1994 até domingo passado.
Isto, só nos últimos dez anos, dá qualquer coisa como dois terços de holocausto nazi (uma unidade de massacre tão válida como qualquer outra) a passar-nos à frente dos olhos na era dos blogues e das guerras em directo. Ao contrário dos 28 mortos de Caná, não chegou para nos impressionar.

No passado dia 30, finalmente, os congoleses foram a votos nas primeiras eleições multi-partidárias de sempre realizadas no seu país. Para trás, espera-se, ficou um dos passados mais sangrentos de qualquer percurso africano em direcção à democracia.

Iguais ao Congo, existem inúmeros conflitos e estados autoritários numa permanente produção de vítimas em boa parte do nosso planeta. Como agora até parece mal não dizer, "muitas delas são crianças". Porque sim, irei tentar neste blogue fazer um esforço despretencioso para lembrá-los, quantificando quando possível as terríveis consequências na "população civil", sem qualquer preocupação de periodicidade ou ordem de putativa importância.

Foto: "Pol Pot's Art", Steeve Gosselin, 2003

terça-feira, agosto 01, 2006

Intervalo da guerra

(ou nem por isso)

A cadeia de electrónica a retalho britânica Currys vai começar a vender ao público painéis solares para conversão doméstica de energia eléctrica.

Com umas formidáveis 3.87 horas diárias de sol (média anual), o Reino Unido torna-se o primeiro país a colocar à disposição do consumidor final, e em troca de GBP 1000 (menos de 1500 Euros), a hipótese de poupar algum dinheiro a si próprio, bastante ao país em particular e uma quantidade apreciável de fósseis ao mundo em geral.

Pena é que em Portugal chova tanto. De qualquer modo, aquilo faria o telhado tão feio.

Morrer em Bagdad

A mantança diária no Iraque não é generalizada, ao contrário do que se podia pensar. Os grupos armados sunitas e xiítas que semeiam o terror no dia-a-dia iraquiano são bastante específicos na escolha das suas vítimas civis. Isto levou a que população de Bagdad, num esforço de habituação a esse quotidiano, tenha encontrado formas de normalizar o absurdo dos assassinatos dando-lhes rótulos apropriados. Alguns exemplos escolhidos aleatoriamente, e sem qualquer preocupação de precedência:

-Morto pelo Pão. Os padeiros são considerados inimigos do Islão porque fornecem esse alimento às forças policiais. As padarias são um dos sítios preferidos dos atentados bombistas.

-Vítima da Moda. É difícil sair à rua em Bagdad com qualquer trapinho. O encarnado está proibido por ambas as guerrilhas islâmicas; calções, t-shirts, e camisas com padrões também; qualquer peça de vestuário minimamente americanizada (jeans, ténis) equivale a pintar um alvo na própria cabeça.

-Vítima da Escola. Segundo os radicais xiítas, as mulheres não podem receber instrução. Todas as famílias que permitem às suas crianças do sexo feminino ir à escola estão sujeitas a intimidações e, em já alguns casos, a várias balas.

-Morto pela Barba. Outro paradeiro comum de bombas. A barbearia é uma profissão de risco pois os barbeiros, lá está, fazem a barba e não pode ser porque as barbas são sagradas. Empunhar uma gillette é um convite ao petardo.

E os americanos? Por absurdo também vão morrendo, por absurdo também vão matando.
O praça Steven D. Green, acusado da violação e homicídio de uma criança de 14 anos e da morte de todos os membros da família dela, disse a quem quis ouvir que "no Iraque, matar pessoas é como pisar uma formiga, quero dizer, mata-se alguém e é tipo, 'Ok, vamos comer uma pizza'".

sexta-feira, julho 28, 2006

Isto é grave

Os E.U.A. rejeitaram a declaração do Conselho de Segurança que condenava Israel pelo bombardeamento do posto de Khiyam da UNIFIL, Força Interna da ONU para o Líbano, que resultou na morte de quatro observadores (Canadá, Áustria, China e Finlândia)

Kofi Annan já se tinha queixado que este ataque ao "seu" posto de observação havia sido deliberado. Por isto, deve entender-se que o secretário-geral das Nações Unidas considera que fará parte da estratégia israelita mover guerra às Nações Unidas.

O míssil teleguiado usado no ataque foi fornecido pelos E.U.A., país que recusa o cessar-fogo na região.

Conclui-se que, por acordo tácito, faz parte da estratégia americana fazer guerra às Nações Unidas.

E agora, José?

quinta-feira, julho 27, 2006

... Outra na ferradura

Na semana em que os Estado Unidos se recusavam a exigir o cessar-fogo imediato no Líbano, o ministério de defesa britânico anuncia que dois airbus americanos carregando várias toneladas de bombas com destino a Israel fizeram escala em território nacional sem a devida autorização.

E o genocídio em curso no Sudão?

Quase meio milhão de pessoas (número de Abril de 2006) mortas pela milícia Janjaweed e pelo governo sudanês na região de Darfur.

Se calhar, por os assassinos serem tão muçulmanos quanto as suas vítimas, já não há "perdas civis" a lamentar.
E se calhar por serem "pretos" também ninguém se escandaliza.

quarta-feira, julho 26, 2006

O cessar-fogo visto pelos israelitas


A posta deste auto-didacta é, para variar, imbecil (até porque vem elogiada por estes) e atira completamente ao lado: não há qualquer sinal de radicalismo com perigo de ascensão em Israel. Pelo contrário, as reacções israelitas seguem uma lógica, maquiavélica talvez, mas puramente militar.

O objectivo israelita é bastante concreto: "limpar" tanto quanto possível a zona de bases do Hezbollah e obrigar a comunidade internacional a legitimar a reocupação de parcelas do sul do Líbano para que aí se reestabeleça um perímetro de segurança ao norte (1).

Mesmo após a retirada das IDF do Líbano, em 2000, e enquanto o mundo desviava os olhos para o que acontecia em Gaza, os cães raivosos do Partido de Deus continuaram a sua guerrilha contra o estado judaico, num não-mata-mas-mói de rockets atirados ao acaso sobre o norte de Israel.
Só quem não viu isto não consegue entender que os israelitas não iriam esperar muito mais tempo por uma intervenção do governo libanês ou das NU para a dissolução definitiva da milícia xiíta (como determinado pela resolução 1559/2004).

Do ponto de vista militar, a única solução era clara mas politicamente tornava-se complicada de executar. As IDF tinham (e têm) capacidade de invadir o Líbano quando quiserem mas haveria maior interesse que a ocupação dos territórios fosse sancionada e, se possível, efectuada por forças neutras.

A clara "desproporcionalidade" da reacção foi o meio de atingir esse fim, até porque uma intervenção dita "cirúrgica" não surtiria efeito a longo prazo, pois para uma guerrilha com livre implantação no terreno, o ressurgimento é rápido.
Pelo contrário, os bombardeamentos sobre todo o território libanês permitiram a Israel primeiro, castigar o governo daquele país pela sua inoperância e mostrar a outros interessados a sua capacidade militar e, em segundo lugar, preparar a mini-invasão terrestre que obrigaria a comunidade internacional a enviar as tais forças da ONU ou NATO para a região de que agora todos falam...

Haverá muito ódio à solta por aqueles lados mas em questões de estratégia, nem árabes nem judeus deixam o coração governar a cabeça, independentemente daquilo das "opiniães" que alguns analistas de pacotilha possam ter mas fazendo sempre o maior uso possível dos idiotas úteis que apareçam.

imagem "A new design for the flag of the state of Israel", (c) Shimon Tzabar (2002)
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(1) A estratégia, aliás, é decalcada do passado, no caso um território minúsculo na confluência das fronteiras israelita-libanesa-síria conhecido como "Sheebaa Farms".

domingo, julho 23, 2006

O "mercado", a globalização e a Chantagem

Tenho ouvido várias pessoas queixar-se que para vencer hoje concursos, as empresas praticamente fazem o trabalho quase de graça, ou mesmo de graça.

Isto aplica-se principalmente a concursos lançados por outras empresas.

Como é que se ganha dinheiro hoje em dia, ou quem?

Existem outras formas mas as empresas que vendem produtos de grande consumo continuam a vender bem, enquanto que reduzem os custos com fornecedores.

Empresas de electricidade, telecomunicações e coisas assim são as que mais ganham ( para além dos produtores de matérias primas e outras commodities ).

Percebem porque é que querem privatizar as águas?

A razão para esta situação reside no facto de haver muito menos fornecedores do que clientes, ao contrário do que acontece com os fornecedores destas empresas, geralmente em maior número que as próprias empresas.

Nunca como agora foi tão bom ser grande.

Esta situação leva a uma "feudalização" do mundo em que vivemos.

Os "feudos" são as grandes empresas e os privilegiados são aqueles que nelas trabalham ( porque aí os empregos são para toda a vida ).

Os desgraçados são os outros.

Entretanto o comum dos mortais é presa de uma chantagem: tem custos fixos a suportar que não vão parar de crescer. Mas se não trabalhar numa grande empresa cada vez mais terá de trabalhar mais para ganhar cada vez menos.

Exerce-se assim na prática uma chantagem das empresas referidas sobre o remanescente da sociedade.

A vingança contra a classe média ocidental continua, e é implacável.

Globalização II

Uma empresa Europeia construiu uma obra de engenharia colossal numa das maiores economias emergentes.

O governo do país Europeu pagou a construção e desenvolvimento da dita obra na esperança que a economia emergente ( e outras ) quisesse comprar mais obras semelhantes.

O governo da economia emergente não aceitou a obra e não pagou a sua parte baseado na existência de defeitos ( menores ) na obra. Mas pô-la a uso, claro.

Alguns meses depois, cópias ilegais da mesma obra, feitas por empresas locais, começaram a ser compradas pelo astuto governo.

Globalização I

O responsável de uma empresa Nórdica gabava-se de que a sua empresa não negociava em certos países, apesar de serem bastante atractivos, porque aí não se respeitava a propriedade intelectual.

A dita empresa tinha acabado de ser comprada por uma empresa Americana.

Um mês depois, não só a nova administração tinha tomado a decisão de produzir os produtos da empresa no dito país como já tinha deslocalizado parte da produção e os utilizadores dos produtos da dita empresa já se queixavam de erros infantis provocados por ignorância e incúria que prejudicavam o funcionamento dos seus próprios produtos.

sexta-feira, julho 21, 2006

Separados à nascença?

Ambos querem a "bomba", ambos desprezam o Conselho de Segurança.
Mas acho que o primeiro não acredita em virgens.
Sieg Heil!

O "direito" ao estacionamento

Anda por aí muita gente preocupadíssima com a recente legislação a aplicar aos parques privados de estacionamento, nomeadamente aquela que permite ao utente pagar ao quarto de hora em lugar de uma hora inteira.

Umas vezes os senhores protestam porque pretendem defender a iniciativa privada - o estacionamento, esse motor da nossa economia - contra, imagine-se, a prepotência com que o governo interfere no seu sagrado lucro; outras, parece que a grande indignação é resultado de temerem (acertadamente) que essa iniciativa privada possa muito bem vir a compensar as tais perdas de lucro indo directamente aos bolsos daqueles que não passam sem andar pela cidade de cú tremido.

Não poderia haver melhor exemplo em que a propalada ideologia se casa perfeitamente com o interessezinho pessoal.

quinta-feira, julho 20, 2006

Ah, pois é... (parte B)

Apesar dos esforços chineses para suavizar o texto da resolução, a Coreia do Norte mostrou-se irritada com a condenação aos seus testes de lançamento de mísseis pelo Conselho de Segurança das N.U.: respondeu logo avisando que continuará a aumentar o seu arsenal e ameaçou que as sanções aprovadas por unanimidade poderão sim conduzir a uma Segunda Guerra da Coreia.

Isto foi na segunda-feira e parece-me que não poderiam ter escolhido melhor altura...

Onde estão os soldados raptados?

Segundo um ministro israelita, os bombardeamentos efectuados no Líbano já destruiram metade da capacidade militar do Hezbollah.
A acreditar na realidade deste sucesso, conclui-se que existe uma probabilidade de 50% de que os dois soldados das IDF estejam neste momento espalhados por todo o lado.

Ah, pois é...

"Irão garante mais uma vez que continuará a enriquecer urânio"

in Público, hoje

quarta-feira, julho 19, 2006

Líbano: The Phoney War

Como muito bem recorda Francisco José Viegas ontem no JN, o plano da ONU para a região da Palestina em 1947 previa a divisão da região em dois estados, um judaico e outro árabe. Contudo, esse plano estava prenhe de falácias: nem todos os palestinianos eram muçulmanos e nem a palestiniana Jordânia fazia parte da divisão acordada.
O problema foi assim, logo na origem, dois: a colonização por euro-judeus, i.e., a ressurreição de "Israel" per se; o outro, a criação de novo da própria Palestina pois, mesmo na ausência do primeiro acto, nenhum "vizinho" árabe tinha interesse num novo estado dito palestiniano.

E o que é que o Líbano tem a vêr com isto? Tirando um passado de ocupação do sul pela OLP, hoje em dia nada, apesar da cartilha que alguns bloqueados continuam a repetir por aí e da desinformação generalizada que os média propagam. Mas essa confusão interessa a muitos.

As relações são outras.

A primeira é de semelhança: o Líbano é também um estado que ele pode ser visto como mais-ou-menos artificial mas multi-religioso e multi-étnico e que, na sequência da retirada do exército sírio e dos fantoches que o desgovernaram, cometeu um erro fatal: democratizou-se e prosperou.
Este país ameaçava assim tornar-se num péssimo exemplo para toda a região, em especial para os estados árabes, se ainda por cima tivermos em conta que este progresso se fez com o apoio do Ocidente e apesar da oposição activa de um partido religioso (Hezbollah, o Partido de Deus, com dois ministros impostos por al-Hassad da Síria ao actual primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora).

A segunda é de geografia, sendo o Líbano usado como um território-tampão para ambos os lados: Israel não pode invadir a Síria sem provocar a Terceira Guerra Mundial e o Irão não tem fronteiras aquele país. Com os acordos de paz entre o estado judaico e o Egipto e a Jordânia (que resultaram num nunca acabar de atentados nesses países), resta aos velhos inimigos guerrearem-se na terra alheia de sempre.

A terceira é de oportunidade: Teerão precisava afastar as atenções dos seus planos nucleares, tal como quando criou a "crise" dos cartoons, e não só isto coincide com a verdadeira crise na Coreia do Norte, país com o qual o Irão tem um protocolo de colaboração para o desenvolvimento de mísseis nucleares (e onde já é certa a presença de engenheiros iranianos), como também com o interesse de Putin em desvalorizar a questão do fornecimento pela Rússia de gás natural à Europa, assunto agendado para a reunião dos G8 que se aproximava. Facto este que não parecerá estranho a quem olhar para o mapa e descobrir o trajecto dos gasodutos russos.