domingo, abril 06, 2008

Tropa de Elite

Rio de Janeiro.
Uma Polícia Militar corrupta e extorsionária.
Traficantes de droga armados até aos dentes a dominar as favelas dos morros adjacentes ás zonas turísticas da cidade maravilhosa.
Um grupo de membros da classe média com "consciência social", que fuma erva e se passeia pelas favelas a fazer o bem, com a cumplicidade, retribuída, dos traficantes.
E o BOPE, Batalhão de Operações Policiais Especiais. Uma Tropa de Elite da Polícia Militar, incorrupta, imaculada, que entra pelas favelas adentro para torturar e matar os maus.
O cansaço do Capitão Nascimento, farto de missões violentas e sem sentido.

Este filme fez furor no Brasil durante o ano passado. A classe média (alta) minoritária adorou-o. Os adolescentes correram ás lojas da moda para comprar a réplica das fardas negras do BOPE.

A receita propagandista, já sobejamente conhecida e experimentada com sucesso nos EEUU, teve um sucesso estrondoso.

Na verdade, não há esperança nem gente boa naquele filme: os traficantes, brutais e armados até aos dentes; a Polícia Militar vergonhosamente corrupta; a classe média de esquerda, hipócrita e covarde; os assassinos e torturadores do GOPE.

O filme foi acusado de ser fascista e é injustamente classificado como uma espécie de alter ego da "Cidade de Deus".

Na verdade, o filme realmente foge da solução do problema logo no início. A corrupção na Polícia Militar é apresentada como inevitável. Mal pagos e recrutados à toa, os PMs do Rio não são de fiar.

Pagar melhor à Polícia e aumentar a exigência no recrutamento e formação não cabem no formato propagandista da película. Mas ninguém me convence que, num país de 180 milhões de habitantes, não é possível recrutar e formar 30000 polícias bem pagos e competentes para pôr ordem no Rio.

Agora nem sequer há a desculpa da crise! Mas há quem me diga (um Brasileiro) que não é mesmo possível recrutar 30000 Brasileiros honestos para servir na PM do Rio.

Eu acho que o problema é outro. Uma PM competente e eficaz não se limitaria a prender e pôr na ordem os bandidos, traficantes de droga, que dominam as favelas.

Sairia também para os bairros da classe média e alta para prender os outros bandidos que, sem correr grandes riscos e muitas vezes protegidos pela lei, roubam em grande a riqueza do país e os seus impostos.

E isso aí seria inaceitável! No mínimo, são gente conhecida e amiga, a quem devemos favores ou com quem temos negócios ou relações familiares ou partidárias.

É por isso preferível manter o status quo e enganar a classe média com as acções espectaculares e contra-producentes do BOPE.

Os problemas e a forma de os encarar são essencialmente a mesma coisa no Brasil e em Portugal. As diferenças são a gigantesca dimensão do 1º e o enorme kinship existente numa nação antiga e relativamente homogénea como Portugal.

Mas as semelhanças, dentro das condicionantes acima, são evidentes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez o melhor post que li na blogosfera portuguesa sobre o filme.

O pior é que, ao que parece, em Portugal pensa-se em ir pelo mesmo caminho, e, segundo ouvi numa conversa de autocarro, já há um sub-grupo do GOES a receber treino do BOPE.


será que vão comprar também "caveirões" ?